Quinze Vintages de um grande ano

O ano de 2015 não ficara nos anais dos Vintage clássicos e não se percebe porquê. Seja nas casas mais famosas ou nos produtores que despontam, há vinhos de grande classe. Aqui ficam 15 sugestões sobre o potencial de 2015.

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Carla Carvalho Tomás

Havemos de falar durante muitos e bons anos dos Porto Vintage de 2015. E havemos de falar deles não apenas porque, na generalidade, são de excepcional qualidade. Falaremos também da injustiça que muitas das empresas do sector lhes fizeram ao não os declarar com as suas principais marcas. Falaremos ainda deste Vintage como um vinho que foi penalizado pelo reflexo da imponente vindima de 2011, que pela proximidade funciona como o padrão de comparação que ofusca até vinhos como os de 2015. É por isso que 2015, seja visto e provado sob que perspectiva for, terá sempre de ser considerado como o ano mais esquisito, diferente, polémico, injustiçado e grandioso dos grandes Porto do século XXI.

Não era difícil prever que nesse ano o Douro iria produzir mostos de excepcional qualidade. O relatório de vindima da Sogrape lembra-nos a existência de um ano seco, “com um Inverno frio e uma Primavera anormalmente quente, seguida de um Verão sem excessos de calor, apesar de alguns picos de temperatura”. Após a floração, “as temperaturas relativamente amenas e a constância das noites frias permitiram que a maturação da uva se desenrolasse de forma progressiva e suave até finais de Setembro, início de Outubro, ajudada também um pouco pela chuva que caiu a 15 e 16 de Setembro”. Como resultado, as uvas estavam em “excelente estado sanitário”, dando origem a “vinhos com grande riqueza de cor, bons taninos, boa acidez e níveis de álcool muito equilibrados”.

A evolução dos vinhos em cave confirmaria as melhores expectativas. Mas nem essa evolução levou os grandes grupos, como os Symington (das marcas Graham’s, Dow’s ou Warre) ou a Fladgate (Taylor’s, Fonseca e Croft) a usar as suas melhores marcas nessa vindima. Os Symington limitaram-se a comercializar os Cockburn’s e a Fladgate a Croft. A Noval não teve pruridos em entrar no mercado com a sua marca mais prestigiada, assim como a Niepoort ou a Ramos Pinto. Fizeram bem.

A verdade é que, com marcas clássicas ou com single quintas, a qualidade geral dos Vintages de 2015 é impressionante. Há uma marca de fruta, uma estrutura e uma complexidade geral que os distinguem da normalidade. Claro que há estilos, opções enológicas e condições de produção que fazem variar a qualidade de uma para outra marca. Há quem insista que, como é hábito, as casas de origem britânica continuam à frente neste campeonato — o que, sendo verdade, está longe de o ser com a diferença de pontos de outras eras. 

A Fugas tratou de reunir alguns dos melhores Vintages numa lista que não pretende ser definitiva — não houve oportunidade de provar as dezenas de marcas que lançaram os seus vinhos desta vindima. Aqui ficam 15 escolhas possíveis.

Stone Terraces 2015 (98 pontos/170€)

Uma vez mais, este Vintage feito a partir de vinhas velhas de três parcelas da Quinta dos Malvedos volta a ser um prodígio no aroma e uma maravilha de elegância na boca. Feminino, delicado, polido, com uma estrutura harmoniosa e uma vivacidade que proporcionam um final de boca inesquecível, é uma pequena obra-prima.

Quinta do Noval 2015 (97 pontos/80€)

Aroma exuberante e atraente, com a qualidade da fruta a impor-se num leque de aromas com esteva e notas balsâmicas. Na boca é um modelo de elegância, de precisão e de sofisticação. A sua estrutura garante um final longo, onde sobressaem notas de especiaria e uma frescura ácida que prenunciam um envelhecimento digno das melhores tradições da casa.

Ramos-Pinto 2015 (97/63€)

A Ramos-Pinto, que fez aquele que terá sido provavelmente o melhor Vintage de 2014, volta a surpreender. A presente edição está um primor de definição, de elegância e de intensidade. A sua estrutura é poderosa e a sua textura deliciosa, deixando uma marca na boca que persiste por toda a prova. O seu final algo seco é uma delícia. Este é seguramente um Vintage que exige tempo.

Fonseca Guimaraens 2015 (97 pontos/60€)

Não é só pela magnífica palete de aromas (notas florais, chá verde, frutos vermelhos, notas químicas) que este Vintage impressiona. Impressiona também por revelar uma estrutura deliciosa, que lhe dá profundidade e um grande final. É o mais clássico dos três vinhos da Fladgate, essencialmente pela sua estrutura.

Vargellas 2015 (97 pontos/60€)

O lugar e a vinha da magnífica Quinta de Vargellas sempre deram origem a Vintages com um perfil personalizado. O ano de 2015 acentua essa dimensão. Fruta de grande qualidade, arbustos, toque balsâmico, quente na boca ao primeiro contacto, final longo e delicioso.

Cockburn’s (97/65€)

Esta marca histórica que andou meio perdida continua a recuperar os seus pergaminhos. Já em 2011 a Cockburn’s tinha dado prova de vida e em 2015 volta a apresentar-se com um Vintage que se destaca pelo seu equilíbrio entre a finesse e a garra. É um vintage impactante e guloso, com um final longo e vivo.

Dow’s Quinta da Nossa Senhora da Ribeira (97 pontos/60€)

Um vintage imponente e contido, como deve ser um Vintage com a chancela da Dow’s. Nuances vegetais e notas de frutas silvestres, com uma estrutura, volume e dimensão tânica a garantirem um impacto na boca intenso mas simultaneamente solene e complexo. A sua frescura final é deliciosa e longa.

Niepoort 2015 (96/55€)

Muito original no aroma, com uma certa austeridade a sobrepor-se ao padrão da fruta intensa dos Vintage jovens. É, entre todos os Vintage provados, o mais fresco, com um final de prova seco e definido. Na sua actual fase, é um dos vinhos que mais prazer dá provar. E tem todas as características para se aprimorar no futuro.

Vallado Adelaide 2015 (96/46€)

A chegada dos produtores que fizeram nome com os DOC Douro é uma grande notícia. Porque, após alguns anos de experimentação, começam a mostrar bons resultados. O Vallado de 2015 está aí para o provar. Volumoso e quente na boca, grande estrutura, bom balanço e um final cheio de subtilezas.

Ventozelo 2015 (96/45€)

Uma interpretação mais delicada do conceito Vintage, detectável na elegância dos aromas de frutos vermelhos ou num forte pendor floral. Não é muito intenso, mas é muito atraente no nariz. Grande estrutura e muita complexidade tornam este Vintage de um grupo famoso pelos seus Colheitas muito recomendável.

Sandeman Quinta do Seixo 2015 (96/48€)

Um Vintage cheio de garra. Potente no aroma, potente na estrutura, potente no seu ataque e potente no final de boca. É um Vintage com músculo mas, ao mesmo tempo, com um grande balanço entre fruta, tanino, acidez e álcool. Um Vintage para a posteridade

Quinta do Javali 2015 (95/80€)

Tal como no ano passado, a Quinta do Javali surpreende com um Vintage de classe. Aroma algo discreto (tendo o ano e a concorrência como padrão), sedoso nas suas primeiras impressões na boca, antecipando uma forte estrutura tânica e uma acidez final que lhe dá nervo e frescura.

Vale Meão 2015 (94/47,50€)

Aroma sofisticado e sedutor, boa estrutura e definição. Uma versão mais doce que o torna bebível mais cedo. Mas ganhará seguramente um balanço mais harmonioso nos próximos anos.

Ferreira Quinta do Porto 2015 (94/47€)

Aroma algo fechado, boa estrutura e acidez, com uma secura e uma austeridade no final atraentes. É um Vintage com potencial, mas que nesta fase da sua curta evolução está ainda longe de ser muito interessante. Está cru e isso é uma boa notícia.

Quinta da Gaivosa 2015 (94/50€)

Fruta madura, corpo volumoso sem deixar de conservar uma faceta elegante e fresca. O seu final de boca, longo e intenso, é muito interessante. Um Vintage com personalidade.

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