Sete candidatos importam nas contas para um só lugar
Os partidos com representação parlamentar deverão ser os mesmos. Junqueras, Puigdemont ou Arrimadas? Iceta? Quem será presidente?
Não foram as grades da prisão de Estremera que o calaram – Oriol, Junqueras, líder e cabeça de lista da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), ex-vice-presidente acusado de “sedição, rebelião e desvio de fundos”, fez campanha. Diferente, claro. Deu pequenas entrevistas a jornais, gravou mensagens telefónicas e escreveu aos militantes. Na primeira carta, dizia-lhes que Marta Rovira é “uma mulher de força” e foi ela, sua “número dois”, o rosto da campanha. A ERC contava vencer e escolheu apresentar-se sem Carles Puigdemont; tudo depende dos votos, mas os republicanos esperam ser pressionados a apoiar o líder destituído – tal como Junqueras sabe que um dia será president.
Apareceu em Bruxelas no dia em que os catalães acordaram ansiosos, à espera de perceber o que significava a ocupação, por Madrid, das instituições autonómicas. Carles Puigdemont apostou no que chama auto-exílio e não se saiu mal: enquanto oito membros do seu governo estiverem detidos (dois continuam) a Justiça belga arquivou o seu processo e pôs na gaveta a ordem de detenção europeia. Os analistas atribuem às suas intervenções a subida da Juntos pela Catalunha. Ganhou por ter construído a única lista aberta, com o ex-líder da Assembleia Nacional Catalã, Jordi Sànchez (detido) como “número dois” e muitos independentes. Vai insistir na sua legitimidade para governar.
Começou a aprender catalão na adolescência por amor ao Barça. A relação da andaluza Inés Arrimadas com a Catalunha fortalece-se quando decide vir trabalhar para Barcelona, como advogada. Depois, surgiu o Cidadãos e a política: é eleita deputada em 2012 e em 2015 torna-se chefe da oposição. A seguir ao líder do partido, Albert Rivera, foi a única a falar castelhano no parlamento autonómica. Pode ser a mais votada, mas ser-lhe-á quase impossível formar uma maioria.
O Partido dos Socialistas Catalães já deu tantas voltas que o seu eleitorado se fez volátil – pode estar indeciso entre PS, Catalunya en Comú ou C’s. Com a bandeira da reconciliação, Miquel Iceta foi igual a si mesmo, o candidato dos trocadilhos, sempre bem-disposto. Sabe que não será o mais votado, mas por causa dos vetos cruzados não é completamente impossível que chegue à presidência (com o apoio do resto dos unionistas, C’s e PP, ou da ERC e da Catalunya en Cómu) e ninguém acredita nisso como ele.
Xavier Domènech teve a campanha mais difícil, fruto de uma posição que se distancia dos blocos em que a política catalã se divide. O Catalunya en Cómu, apoiado pelo Podemos, é contra a independência da Catalunha mas defende o chamado direito a decidir. O resultado é que todos tentaram convencer os seus eleitores, mas Domènech deverá ficar perto dos onze deputados de 2015. E pode, isso sim, ser árbitro na altura de negociar coligações.
A posição mais intransigente em relação à independência parece ter perdido gás, se olharmos para o que as sondagens antecipam para a CUP (Candidatura de Unidade Popular), único partido que não fez autocrítica em relação ao processo e que admite boicotar o próximo parlamento se a república não avançar. Irrompeu com dez deputados, em 2015, tornando-se essencial para a maioria de Puigdemont e Junqueras – agora, a lista encabeçada por Carles Riera arrisca perder quase metade do grupo parlamentar.
Se dependesse dele, a aplicação do artigo 155 da Constituição teria sido mais dura e prolongada. Xavier García Albiol sugeriu que Madrid aproveitasse para mudar o papel do catalão no ensino. Nas manifestações unionistas de Outubro e Novembro era sempre quem se via melhor (mede 2 metros) mas era à passagem de Rivera e Arrimada que se ouvia gritar “presidente”. Vai ter o pior resultado do PP na Catalunha e nem Rajoy, que não o largou na campanha, lhe valeu.