Vieira da Silva no centro da guerra entre Costa e oposição
No último debate quinzenal do ano, a oposição agarrou-se ao ataque ao ministro Vieira da Silva em quatro frentes e António Costa à "realidade" melhor do que aquela que se via no retrovisor oferecido por Cristas.
A oposição aperta o cerco ao ministro do Trabalho. A direita usou o último debate quinzenal do ano para atacar um dos ministros mais fortes do Governo em quatro frentes e conseguiu juntar argumentos fortes: o investimento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) no Montepio, o caso Raríssimas, a falta de acordo na concertação social para o salário mínimo, e a crise na Autoeuropa. “Considera que o seu ministro tem condições de robustez e de peso político para tratar de temas tão importantes como estes?”, desafiou Assunção Cristas. António Costa deu respostas muito duras, quase a roçar o insulto, a Hugo Soares e a Cristas. Outro tema de batalha foi a reestruturação dos CTT, com os partidos à esquerda do PS a insistirem na necessidade de reverter a concessão.
Se dúvidas havia sobre como a SCML surgiu associada ao Montepio, boa parte delas permanece. Questionado sobre isso por Hugo Soares (PSD), mas sobretudo por Assunção Cristas (CDS), o governante contou que “o tema surgiu depois de a Santa Casa ter manifestado interesse em participar no sistema financeiro” e que o assunto foi discutido entre a SCML, o Governo e o Banco de Portugal, que entenderam não haver “nenhum obstáculo político à participação”. Para que tudo avance, falta conhecer o resultado da auditoria pedida pelo ex-provedor Pedro Santana Lopes, "sem a qual não é possível tomar qualquer decisão” que será “tomada no estrito respeito pela autonomia” da SCML e sem “instruções” do Governo.
A explicação foi quase tirada a ferros, já que antes, ao PSD, Costa limitara-se a ler um comunicado de Santana Lopes, da véspera, no qual, por sinal, este até deixa no ar a ideia de que foi o Governo a contactar a SCML. Costa percebeu a ratoeira e avisou que não se deixará “instrumentalizar na disputa interna dentro do PSD”.
Ao final do dia, em declarações aos jornalistas no final de uma acção da campanha para a liderança do PSD, Santana disse aos jornalistas que “a iniciativa não partiu, de facto, da Santa Casa”, admitindo que a ideia de chamar a SCML para a actividade bancária tenha tido origem no Montepio e Banco de Portugal.
Outro dos tema de ataque da direita foi o caso Raríssimas, com a oposição a tentar provar que o ministro violou o código de conduta do Governo PS. “O sr. ministro não violou o código de conduta, não violou a lei. Se tem conhecimento de algum facto em que possa fazer uma acusação, acuse", exigiu, várias vezes, Costa.
Os ataques a Vieira da Silva, um dos ministros mais próximos de Costa, fizeram com que Costa perdesse a compostura e se irritasse na respostas dadas quer a Hugo Soares, quer a Cristas.
Aproveitando o tempo que tinha para responder a Carlos César, do PS, o primeiro-ministro virou-se para o “deputado Hugo Soares” e elegeu-o “exemplo” de político que vive para a “comunicação social”, e longe da realidade que serve melhor os portugueses, e pediu-lhe “hombridade” nas acusações que fez ao ministro Vieira da Silva. Por junto, apontou ao “nervosismo, insulto e má educação” das bancadas de direita.
Mas a resposta mais exaltada do primeiro-ministro acabaria por visar Assunção Cristas. A líder do CDS defendera por várias vezes que o ministro da Segurança Social estava fragilizado e acusou António Costa de estar mais preocupado com os interesses “da grande família socialista”. Foi quanto bastou para Costa desferir um duro ataque a Cristas, chamando-lhe "um verdadeiro fracasso": “Quanto mais irrelevante politicamente é, mais sobe no tom que usa no debate político. Vale 2,59% na sociedade portuguesa. É essa a dimensão da sua relevância”. Antes, já tinha dito que a líder do CDS tem uma “coerência de salta-pocinhas”, por apenas perguntar pelos temas do dia, sem coerência ao longo do tempo.
Ainda que de passagem, Cristas lembrou outro tema a assombrar o ministro: as negociações da Autoeuropa. E questionou se Costa tinha perdido os dotes negociais ou o interesse no caso. PSD e CDS responsabilizaram também o ministro sobre a falta de acordo na concertação social e Costa defendeu Vieira da Silva, argumentando que houve exigências “inaceitáveis” e que, por isso, o Governo avançara de forma unilateral para o aumento do salário mínimo. Jerónimo de Sousa, do PCP, criticou o Governo por ter “ficado aquém” no valor e por se ter escudado “no acordo com o BE para travar esse aumento”.
Assunção Cristas concluiu que “todos estes assuntos estão ligados a um ministro que está particularmente fragilizado”. Em relação a Vieira da Silva, Costa não tem dúvidas e atravessa-se a 100%, dizendo que ambos estão de “consciência absolutamente tranquila”.
Notícia alterada: acrescentado o 4.º parágrafo.