TAP já investiu mais em dívida pública angolana para garantir depósitos

Presidente da companhia aérea confirmou investimento na dívida angolana para e precaver de novas desvalorizações do kwanza, mas não o quantificou.

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Daniel Rocha

A TAP já investiu em mais dívida pública angolana, indexada ao dólar, para se precaver de novas desvalorizações do kwanza, face às dificuldades em repatriar dividendos bloqueados em Angola, disse nesta terça-feira o presidente da companhia aérea.

"Sim, investimos mais", afirmou Fernando Pinto, num encontro com jornalistas, sem quantificar o investimento e quando questionado sobre se, mantendo-se a situação em Angola, a companhia tem continuado a adquirir mais dívida daquele país, tal como a agência Lusa noticiou em 15 de Julho.

"Existem dificuldades, todos sabemos. De qualquer forma, continuamos a falar com o Governo (...). A situação não pode continuar assim, temos sentido sensibilidade do Governo angolano e tenho a certeza de que vamos chegar a bom porto", acrescentou.

No relatório e contas de 2016 da TAP, revelado pela Lusa em Julho, a companhia aérea portuguesa reconhece as dificuldades no repatriamento de depósitos em moeda nacional angolana, provenientes das operações em Luanda, para onde voa diariamente.

A transportadora refere que as vendas para Angola caíram cerca de 20% em 2016, face ao ano anterior, situação "acompanhada de uma redução da oferta de voos muito significativa".

Além disso, a empresa portuguesa, que em Luanda deixou de aceitar moeda nacional angolana para pagar viagens com início fora daquele país africano, identifica que teve de "mitigar problemas relacionados com a acumulação de valores pendentes de autorização de transferência para Portugal".

"Mais de metade dos valores depositados em Angola, em final de 2016, estavam salvaguardados de novas desvalorizações cambiais, como a que sucedeu em Janeiro de 2016, visto ter sido utilizada uma parte dos depósitos em kwanzas para a aquisição de obrigações do tesouro angolano indexadas ao valor do dólar", refere a companhia.

Em concreto, a TAP afirma ter subscrito, no decorrer do exercício de 2016 e utilizando mais de metade dos depósitos que tinha então retidos nos bancos angolanos, Obrigações do Tesouro de Angola no montante total de 6899 milhões de kwanzas, no valor de 39,6 milhões de euros, "correspondentes à taxa de câmbio original de 165,074 kwanzas por dólar".

Estas obrigações têm como data de maturidade 6 de Dezembro de 2018 e encontram-se indexadas ao valor do dólar, não sujeitas por isso a eventuais novas desvalorizações do kwanza.

Além destes títulos, a TAP fechou o ano de 2016 com depósitos bancários em Angola no montante de 35,9 milhões de euros, os quais não consegue repatriar.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre deste ano.

Somando depósitos e títulos soberanos angolanos, a TAP tinha em Angola, retidos, sem conseguir repatriar, em 31 de Dezembro de 2016, cerca de 75,5 milhões de euros.

Dados recolhidos pela Lusa, em Julho, junto da empresa apontam que esse valor tinha subido mais 25 milhões de euros só no primeiro semestre de 2017, ascendendo, naquela altura, a 100 milhões de euros, sendo esta a verba total da companhia retida em Angola naquela altura.

Esta terça-feira, Fernando Pinto não conseguiu quantificar o valor actual, por não ter esse número de memória.