Mercado de Santa Clara vai ter nova cara para ser montra dos criativos da cidade
Dupla de arquitectos concebeu um projecto para um mercado mais flexível e adaptável a vários usos. O espaço vai ser sede, em 2018, do Clube dos Criativos de Portugal.
Imagine-se “o mais antigo mercado coberto de Lisboa” como montra à “divulgação e promoção de projectos e negócios da economia cultural e criativa da cidade”. À semelhança do que já acontece noutros espaços da cidade, como o Mercado do Bairro Alto, o FabLab Lisboa, o Pólo das Gaivotas ou o Centro de Inovação da Mouraria, a autarquia e a Trienal de Arquitectura de Lisboa lançaram um concurso de ideias para dar “novos usos” a este espaço. O projecto vencedor foi conhecido esta quinta-feira e é da autoria de Filipe Madeira e Vânia Saraiva, que idealizaram um mercado capaz de se adaptar, de adquirir diferentes configurações consoante a necessidade.
Entre as 26 propostas a concurso, apresentadas por arquitectos ou colectivos informais de arquitectura, o júri seleccionou o projecto dos dois arquitectos que, “através de um sistema de compartimentação pragmático e flexível de telas reguláveis em altura” quer permitir que o espaço do mercado consiga adquirir mais facilmente diferentes configurações.
Desta forma, serão resolvidas também “algumas questões técnicas do edifício como o controlo da luz natural, abrindo a possibilidade de leitura da nave na sua totalidade até à sua múltipla compartimentação”, justificou o júri. Esta solução, acreditam os jurados, permitirá aos futuros utilizadores do espaço “a economia de meios de suporte na realização de uma diversidade de eventos”.
À semelhança dos mercados de Campo de Ourique e do da Ribeira, no Cais do Sodré, o objectivo é requalificar este espaço da freguesia de São Vicente, no âmbito do plano de revitalização dos mercados que tem vindo a ser executado pela autarquia.
Segundo o vice-presidente da autarquia da capital, este era o “espaço que faltava na estratégia de apoio à criatividade” da cidade. “Depois de o município ter investido em espaços de experimentação e espaços de desenvolvimento, rapidamente compreendemos que era necessário disponibilizarmos um local onde a criatividade produzida pudesse chegar ao público”, afirmou Duarte Cordeiro.
Na cerimónia que decorreu esta quinta-feira no Salão Nobre da Sede da Trienal, no Palácio Sinel de Cordes, o júri atribuiu ainda duas menções honrosas. Uma a Rui Mendes, que apresentou uma proposta que quer promover a utilização, quer do edifício do mercado, quer do jardim Botto Machado, ali nas imediações, criando um jardim interior e ligando-o ao exterior.
A proposta da equipa composta por João Pedro Cravo, Bernardo Sousa, Diogo Lafaia e Pauline Gasqueton também foi reconhecida visa a “recuperação/restauro e valorização” do carácter arquitectónico e patrimonial do edifício, pretendendo que o interior seja uma “continuidade com o exterior que o envolve”.
O vencedor leva para casa um prémio no valor de cinco mil euros.
As propostas foram avaliadas por um júri composto pelos arquitectos Matilde Cardoso, por parte da Junta de Freguesia de São Vicente, Margarida Grácio Nunes, da câmara de Lisboa, José Mateus, da Trienal de Arquitectura de Lisboa, Pedro Geraldes, do Clube de Criativos de Portugal, e Alberto Souza Oliveira, por parte da autarquia e da Trienal de Arquitectura de Lisboa.
A história do mercado cruza-se com a da Feira da Ladra. É ali, ao redor do mercado, que todas as terças e sábados se realiza a feira. Assim é, estima-se, desde 1882, cinco anos depois de o mercado ter sido inaugurado. Será o mais antigo mercado coberto de Lisboa e espelha a arquitectura típica do fontismo do final do século XIX com as estruturas em ferro, na nave e nos portões, por exemplo.
Foi projectado pelo arquitecto Emiliano Augusto de Bettencourt, e servia como mercado abastecedor. Acolhe, desde 2011, o Centro das Artes Culinárias, resultado de uma parceria entre a câmara de Lisboa e As Idades dos Sabores - Associação para o Estudo e Promoção das Artes Culinárias, várias oficinas, e venda de produtos tradicionais.
Além desta montra que a autarquia quer para as indústrias criativas da cidade, o mercado será também a nova sede do Clube dos Criativos de Portugal (CCP), em 2018. Ao instalar-se no mercado, a associação pretende fazer exposições, formação, festas, concertos e criar uma biblioteca criativa, para que “o renascido mercado se torne um espaço de referência para a comunidade local e criativa”, refere Ana Castanho, vogal do CCP.