Brasil está no topo da lista negra da desflorestação

Nova iniciativa internacional que acompanha a desflorestação através de imagens de satélite detectou que se perderam mais de 50 mil hectares de árvores desde Outubro numa região indígena na Amazónia.

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Reuters/UESLEI MARCELINO

O Brasil está no topo da lista da Places to Watch (Locais a Observar) relativamente à desflorestação. Esta é uma nova iniciativa que utiliza imagens de satélite em tempo real para acompanhar e medir a redução da mancha florestal.

A República Democrática do Congo, a Indonésia e a Papua Nova Guiné são outros países a merecer a preocupação dos observadores. É no Brasil, contudo, que a situação é mais grave. Os satélites detectaram que se perderam mais de 50 mil hectares de árvores – o equivalente a mais de 60 mil campos de futebol – só desde Outubro no território dos Kayapó, uma tribo da Amazónia brasileira, segundo informou a Global Forest Watch (GFW), uma organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos.

“Em Setembro registou-se o maior número de fogos num só mês, e 2017 está agora a caminho de bater o recorde de maior número de incêndios num ano”, disse a organização. “Embora se registe uma seca, quase todos os fogos tiveram mão humana, provavelmente para desimpedir a floresta para a agricultura”, explicou ainda a GFW.

Os recentes incêndios florestais no Brasil e na Indonésia contribuíram para uma perda recorde de árvores em 2016, numa área equivalente ao tamanho de toda a Nova Zelândia. Esta aceleração da desflorestação contribuiu também para maiores alterações climáticas, disse a GFW.

A iniciativa Places to Watch disponibiliza semanalmente informações detalhadas sobre quando, onde e porque é que as florestas estão a desaparecer.

“Depois de identificar estes pontos de interesse, a nossa equipa contacta os parceiros no terreno e chega a mais detalhes sobre o que está a acontecer”, disse Kayie Fletcher, porta-voz da GFW, em resposta à Reuters por e-mail.

Esta iniciativa vai também ajudar a monitorizar as florestas e a proteger os direitos territoriais numa altura em que se registam cortes orçamentais no Brasil relativamente a instituições encarregadas de proteger a população indígena, explicou Barbara Zimmerman, que lidera a acção do Fundo de Conservação Internacional do Canadá junto dos Kayapó.

Cerca de 8000 indígenas Kayapó vivem em mais de 11 milhões de hectares de território legalmente protegido, numa zona que é uma das poucas nos limites da Amazónia em que a floresta permanece intocada, disse a GFW.

“Os Kayapós e outros grupos indígenas estão realmente por conta própria”, disse Zimmerman, que apoiou a GWF. “O Governo não está presente. Não há lei”, denunciou.

Os responsáveis da agência brasileira encarregue das questões indígenas, a Funai, e da agência de protecção ambiental, Ibama, não responderam às perguntas da Reuters relativamente a estas acusações.

A GWF lançou ainda uma aplicação móvel em Setembro que direcciona indígenas, gestores florestais e agentes da lei para áreas remotas onde as florestas estão a ser eliminadas, para que possam tiriar imagens e inserir dados sobre a desflorestação.