Triunfal, Putin visitou as bases da aliança que está a construir no Médio Oriente
Na Síria proclamou a vitória contra os jihadistas e anunciou retirada de uma "parte significativa" das tropas. Mas vai manter as bases militares no país.
Dias depois de ter anunciado que se vai recandidatar às presidenciais do próximo ano, o Presidente russo fez nesta segunda-feira uma visita relâmpago ao Médio Oriente em que ficou bem visível a sua influência crescente na região. Na passagem pela Síria, Vladimir Putin anunciou o regresso de “uma parte significativa” das forças que lutaram ao lado do Exército de Bashar al-Assad, dando por garantida a vitória sobre os jihadistas do Daesh.
Putin tinha já anunciado em Março de 2016, seis meses depois dos primeiros ataques aéreos, a retirada da maioria dos efectivos que tinha enviado para ajudar Assad a combater os “grupos terroristas” activos no país – uma definição em que cabiam tanto jihadistas, salafistas e grande parte dos grupos rebeldes sírios, então a ganhar terreno ao regime sírio.
Mas o anúncio feito agora surge num momento muito mais auspicioso. O Daesh, empurrado de um lado pelas forças encabeçadas pela Rússia e do outro pela coligação liderada pelos EUA, viu esfumar-se o califado que proclamara em 2014 entre a Síria e o Iraque. E os aviões russos, a par das milícias enviadas pelo Irão e o movimento xiita libanês Hezbollah, foram determinantes para Assad vergar os rebeldes sírios, hoje limitados à província de Idlib (Noroeste), a alguns subúrbios de Damasco e a bolsas de território no Sul do país.
“Em apenas dois anos, as forças russas, juntamente com o Exército sírio, derrotaram o grupo terrorista internacional mais capaz em combate”, disse Putin na base aérea russa de Hmeymim, onde foi recebido por Assad. Perante esta vitória, acrescentou, “uma parte significativa do contingente russo pode regressar a casa”. “A pátria está à vossa espera”, disse, dirigindo-se aos soldados russos, felicitando-os por terem também contribuído para que a Síria continue a ser “um Estado soberano e independente, para o regresso dos refugiados a casa e a criação de condições para uma solução política” para a guerra na Síria.
Não revelou quantos militares ou quais as unidades vão ser abrangidas, nem avançou prazos para a retirada. Mas deixou claro que a Rússia vai manter “de forma permanente” as bases aérea de Hmeymim e naval de Tartus, ambas na costa do Mediterrâneo, um bastião do regime Assad. E avisou que “se os terroristas voltarem a erguer de novo a cabeça”, a Rússia vai “atacá-los como eles nunca antes viram”.
Para os observadores, o anúncio triunfal na Síria, que ele não tinha ainda visitado desde o início da intervenção militar, é um primeiro acto da campanha eleitoral para as presidenciais de Março (que quer vencer por grande margem e com uma forte participação eleitoral). Mas a deslocação é também uma ilustração da presença crescente da Rússia no Médio Oriente, coincidindo com o momento em que a região se revolta contra a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Algo que ficou bem visível na passagem pelo Cairo, onde Putin acordou com o Presidente Abdel Fatah al-Sissi a construção de uma central nuclear, que será financiada graças a um empréstimo russo. Foi ainda discutido um projecto de acordo para que os aviões russos passem a usar as bases militares do Egipto (o segundo país que recebe mais ajuda militar dos EUA, depois de Israel) e a intenção de retomar os voos comerciais entre os dois países, suspensos desde que jihadistas ligados ao Daesh derrubaram um avião russo que, em 2015, acabava de descolar da estância de Sharm-el-Sheik, no Mar Vermelho.
Na última etapa, em Ancara, o Presidente Recep Tayyip Erdogan garantiu que os dois países estão completamente alinhados na questão de Jerusalém e revelou, para desconforto dos parceiros da NATO, que na próxima semana vão finalizar a venda do sistema de defesa antimíssil russo S-400 a Ancara.