Distribuição de pelouros cria cisão entre PS e PCP no Barreiro

Dois meses depois das eleições a polémica continua. A CDU diz que foi excluída pela nova maioria socialista. O PS afirma que os comunistas nem responderam à proposta feita pelo presidente.

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O Barreiro passou para mãos socialistas depois de anos sob gestão comunista Rui Gaudêncio

Mais de 60 dias depois das eleições autárquicas, a polémica entre PS e PCP sobre a distribuição de pelouros no Barreiro continua acesa com troca de acusações entre os dois partidos. O novo presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Frederico Rosa (PS), que conquistou a autarquia governada há 12 anos pelo PCP, prometeu distribuir pelouros por todos os eleitos, mas passados dois meses os vereadores da CDU continuam sem cargos e os dois partidos estão mais afastados que nunca.

O autarca socialista diz ter dado o “processo por encerrado” depois de ter enviado uma carta à CDU, a propor pelouros e de não ter obtido resposta. Os comunistas acusam o PS de ter encerrado “unilateralmente” o processo e de excluir a CDU.

Na versão do PS Barreiro, o novo executivo camarário enviou “logo após as eleições” uma carta ao PCP a solicitar uma reunião para “avaliar as condições da governabilidade da autarquia e desafios inerentes ao futuro do Barreiro”, mas “o PCP recusou, por escrito, este encontro”.

Depois, “num último esforço” o presidente da câmara enviou “uma proposta escrita, com indicação de pelouros a distribuir a cada vereador do PCP” e “passados oito dias sobre a mesma, que seguiu registada, não se dignaram estes eleitos a tão-pouco enviar uma resposta de recusa”.

Os socialistas concluíram então que “nada mais poderia ser feito para convencer o PCP a inflectir a sua postura de não cooperação e indisponibilidade” e dizem acreditar que o caso do Barreiro “não pode ser desligado de iguais recusas registadas, por exemplo, nas câmaras de Lisboa e Almada”. A concelhia do PS “regista” ainda que “quase de imediato ao fim deste processo” a candidata da CDU à Câmara do Barreiro, Sofia Martins, assumiu o cargo de secretária-geral da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS).

Os comunistas dizem que o PS “nunca se empenhou” na distribuição de pelouros à CDU e que conduziu o processo “com má-fé”. Em comunicado, a CDU do Barreiro queixa-se de que o presidente da autarquia e o PS, que “acham razoável” demorarem 50 dias para apresentar uma proposta de pelouros, agora “consideram oito dias um prazo razoável para [a CDU] dar uma resposta”.

A coligação acrescenta que durante esses oito dias “não foi estabelecido qualquer contacto com os eleitos da CDU” e conclui que estes factos são “reveladores da intenção do PS Barreiro de excluir a CDU da distribuição de pelouros”.

Para fundamentar a sua versão, a CDU apresenta uma cronologia do processo, “indiciando” que entre 24 e 30 de Outubro o autarca teve “contactos privilegiados” com o vereador do PSD, Bruno Vitorino, a quem atribuiu regime de tempo inteiro.

Segundo os comunistas, na reunião camarária de 8 de Novembro, em que os pelouros foram repartidos entre PS e PSD, o presidente da autarquia, em resposta à vereadora Sofia Martins, prometeu que “a seguir a esta reunião [a CDU] vai ter uma proposta de pelouros”.

A proposta foi feita a 20 de Novembro, no mesmo dia, sublinha a CDU, em que o presidente socialista recusou uma proposta dos vereadores da coligação para a “constituição de um gabinete de apoio adequado ao exercício das funções assumidas”.

O presidente da câmara garantiu ao PÚBLICO que a porta continua aberta. “Nos próximos quatro anos, o meu gabinete continuará aberto a qualquer eleito que pretenda contribuir para o bem do Barreiro. Sou presidente de todos os barreirenses, mesmo daqueles que não votaram neste projecto, e assim continuarei a agir. Por esse motivo assumi o compromisso de todos convidar, o que cumpri”, disse Frederico Rosa.

Já o presidente do PS-Barreiro, André Pinotes Batista, defende que a polémica não deve continuar. “O PS recebeu dos cidadãos um mandato expressivo e claro para afirmar uma política de mudança e esperança, não faz sentido continuar a alimentar assuntos de relevo menor”, disse o socialista que é também presidente da Assembleia Municipal do Barreiro e deputado no Parlamento.     

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