Lubaina Himid é a primeira mulher negra a receber o prémio Turner
Artista com 63 anos é também a mais velha a receber a distinção mais importante da arte contemporânea no Reino Unido.
Lubaina Himid tornou-se, aos 63 anos, a primeira mulher negra a conquistar o prémio Turner, o galardão de arte contemporânea mais prestigiado do Reino Unido, por uma obra que homenageia a cultura africana. É também a artista mais velha jamais distinguida com este prémio que, até à edição do ano passado, e desde 1991, se destinava apenas a artistas até aos 50 anos de idade.
Nascida em Zanzibar, Tanzânia, em 1954, e a viver em Preston, no Norte de Inglaterra, Lubaina Himid viu-se distinguida na terça-feira pelo conjunto de três exposições realizadas em Bristol, Nottingham e Oxford, nas quais – como é habitual na sua obra – exalta a criatividade da arte africana.
A lista de nomeados em Maio passado para o prémio incluía duas outras mulheres – Rosalind Nashashib, cineasta britânica filha de pai palestiniano e mãe irlandesa, de 43 anos; e a alemã Andrea Büttner, 45 – e outro artista negro e com mais de 50 anos, Hurvin Anderson, de origem jamaicana, nascido em Birmingham em 1965. Todos autores de trabalhos com um alto teor político e que “reflectem temas muito relevantes da actualidade”, como o racismo ou a pobreza, destacou DJ Goldie na cerimónia de entrega do Turner, que teve lugar na cidade de Hull, este ano capital da cultura no Reino Unido.
Ao receber o prémio, no valor de 25 mil libras (cerca de 28.300 euros), Himid, uma figura-chave no chamado “movimento negro” das artes, confessou-se “surpreendida”, dado que a sua obra colorida e reivindicativa passou, em diversas ocasiões, ao lado da crítica. A artista disse sentir que ganhou o Turner “em nome de muitas pessoas”, tanto aquelas que a apoiaram ao longo dos anos como “todas as mulheres negras que foram nomeadas e não ganharam” desde que o prémio foi instituído em 1984.
No final, Himid disse à BBC – que transmitiu a cerimónia em directo – ter sido “ignorada pela crítica, pela imprensa, mas nunca pelos historiadores da arte, curadores e outros artistas”. E acrescentou que o prémio irá fazer as pessoas “falar": "E esse é o objectivo do [meu] trabalho."
Já sobre o dinheiro do Turner, explicou que irá usá-lo para ajudar os seus companheiros e, talvez, comprar também “um par de sapatos novos”.
Obra “generosa e exuberante”
Alex Farquharson, director da Tate Britain Gallery, de Londres, e presidente do júri – que, depois de uma discussão “amável, bem-humorada e séria”, decidiu por unanimidade –, elogiou a artista pela “generosa e exuberante abordagem das artes plásticas, que combina a sátira com um sentido de teatralidade”, sublinhando ainda que os jurados ficaram impressionados “com a vitalidade da obra” e a “seriedade dos assuntos que trata, que são muito relevantes hoje em dia”.
Na exposição que, no âmbito do prémio, apresenta actualmente na galeria Feren, em Hull, Hemid aborda em gravuras, óleos e coloridas montagens em diferentes formatos realizadas entre a década de 80 e o presente temas como o legado do colonialismo e as diferentes formas de racismo. Numa dessas obras, de 1987, a artista parodia um quadro do pintor setecentista William Hogarth, A fashionable marriage (Um casamento da moda, 1743-45), representando nele um flirt amoroso entre... Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
Foi, de resto, na década de 80 que Lubaina Himid se afirmou como uma das líderes do movimento britânico das artes negras, seja como artista seja como curadora de exposições – o Daily Telegraph classificava-a, em Fevereiro, como “a heroína pouco apreciada da arte britânica negra”.
O prémio Turner vem agora consagrar definitivamente uma obra que Alex Farquharson classifica também como “corajosa”, e que aborda temas “difíceis e dolorosos”. “Ela fala do tempo presente, que tem sido de divisão, tanto em Inglaterra como na América”, acrescentou o presidente do júri, citado pelo jornal Guardian (no qual Himid chegou a colaborar como ilustradora).
O prémio Turner, que também entrega cinco mil libras (5600 euros) a cada finalista, é atribuído anualmente a um artista nascido ou que viva ou trabalhe no Reino Unido por uma exposição que tenha feito no ano anterior em qualquer parte do mundo.
Sobre os finalistas deste ano, Maria Balshaw, directora do grupo Tate, realçou que todos reflectem “o melhor da arte contemporânea britânica”, com uma mescla de “idade, género, raça e etnia”, assim como de meios artísticos, “desde a escultura à pintura e à cerâmica".
Balshaw explicou também que a Tate, promotora do prémio, decidiu eliminar este ano o limite de idade dos candidatos por reconhecer que um artista “pode chegar ao ponto alto da sua carreira em qualquer momento”.
As obras de Himid, Büttner, Nashashibi e Anderson vão manter-se expostas na galeria Feren até 7 de Janeiro. Até ao momento, a mostra recebeu mais de 90 mil visitas.
Notícia actualizada às 15h45