Morreu o escritor Jean d'Ormesson, “o melhor do espírito francês”

Ex-director do Le Figaro e autor de dezenas de romances, foi também presidente do Conselho International de Filosofia e Ciências Humanas da UNESCO.

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Jean d'Ormesson Carlos Lopes

O escritor e académico francês Jean d'Ormesson, ex-director do Le Figaro, morreu esta terça-feira aos 92 anos. Autor de dezenas de obras, era membro da Academia Francesa e presidiu do Conselho International de Filosofia e Ciências Humanas da UNESCO. Para o Presidente francês, Emmanuel Macron, “era o melhor do espírito francês, uma mistura única de inteligência, elegância e malícia, um príncipe das letras sabendo nunca se levar a sério”.

A notícia foi confirmada pela família à agência de notícias France Presse (AFP), que detalha que o escritor morreu em Neuilly, nos subúrbios de Paris, na sequência de um enfarte. Nascido em 1925, era considerado um nome maior das letras francesas, sendo autor de dezenas de obras – três das quais editadas em Portugal. São elas os romances O Porteiro de Pilatos ou o Segredo do Judeu Errante (Publicações Europa-América, 2004),  A Criação do Mundo (Quetzal, 2007) e O Mundo É Uma Coisa Estranha (Guerra & Paz, 2015).

Em 2007 esteve no Instituto Franco-Português, em Lisboa, para lançar A Criação do Mundo. Tinha já 81 anos e muitas décadas como escritor e algumas também como jornalista – foi director do Figaro entre 1974 e 77 e colaborou ao longo da carreira com a Paris-Match ou com a revista de filosofia Diogène (que dirigiria). Nessa passagem por Lisboa, defendeu, como escreveu a Lusa, que literatura e jornalismo estão muito próximos, mas nos extremos do tempo: o jornalista perseguidor da urgência, o escritor caçador do essencial.  

A sua filha, Héloïse d’Ormesson, citada pelo diário Le Monde, partilhou: “Ele sempre disse que partiria sem ter dito tudo e foi hoje. Deixa-nos livros maravilhosos." Entre eles estão La Gloire de l’Empire (1971), a obra que lhe deu a consagração e o Grande Prémio da Academia Francesa, mas também Au plaisir de Dieu (1974), Dieu, sa vie, son oeuvre (1981), La Douane de mer (1994, o mesmo ano em que recebeu o prémio carreira Chateaubriand), Et toi mon coeur, pourquoi bats-tu, Mon dernier rêve sera pour vous ou Voyez comme on danse. A sua estreia foi L’Amour est un plaisir (1956); há dois anos, foi integrado na respeitada colecção La Pléiade, da editora Gallimard

Filho de um embaixador e de uma herdeira, viveu parte da infância num castelo, e outras partes da juventude em itinerância à boleia da carreira do pai – Roménia ou Brasil, como detalha o Le Monde, foram alguns dos seus lares. Era um homem de direita, “o rosto mais radioso da direita burguesa e culta”, escreve o diário Libération. A sua morte está a ser lamentada por todos os partidos políticos. “Independentemente da sua obra literária, é um exemplo para todos. Tinha a capacidade de amar a vida com gula”, lembra o ex-ministro da Cultura socialista Jack Lang.  

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