O mais carismático músico do rock português

Zé Pedro era como qualquer um de nós, sendo absolutamente único.

O rock era ele. Não existiu nenhum outro músico em Portugal que incorporasse tão bem essa ideia do rock como Zé Pedro. Não era apenas a fisicalidade esguia em palco, a forma como empunhava a guitarra, descaída, quase aos joelhos, ou a energia inesgotável que colocava na sua função, para além da autenticidade que lhe parecia sair de todos os poros com uma descontracção quase insolente. Mesmo quem nem sempre se revia nos Xutos & Pontapés, admirava-o pelo carisma e por essa ligação umbilical com o rock. Como se o rock e ele fossem uma e a mesma coisa.

Os Xutos & Pontapés são talvez o grupo rock português de maior sucesso dentro do género em Portugal. E no entanto é difícil olhar apenas para o Zé Pedro como um bom profissional. Sim, claro, era-o, sendo rigoroso e cumpridor. Mas acima de tudo era um bom romântico, alguém que dizia sempre nunca pensar demasiado no dia de amanhã, como se a sua vida privada e profissional fossem exactamente a mesma coisa. E eram-no. De um lado tinha a intensidade, a veemência, o nervo e o encanto dos melhores músicos. Do outro tinha uma apurada consciência da história da música popular. Estar com ele era deambular pelas mil e uma histórias da iconografia do rock.

Foi um dos primeiros do punk em Portugal. E foi-o até ao fim, se ser punk é subir a um palco, acreditando na exposição sem simulacros e no que se tem para comunicar, mesmo quando não se está de acordo com os cânones vigentes ou quando ainda não existem grandes atributos técnicos para mostrar, como acontecia no início de percurso nos anos 1970. O país havia estado apartado dos movimentos culturais mais impactantes e despertava lentamente da ditadura. Em Nova Iorque e Londres, na segunda metade dessa década, o punk era capa de jornais. Em Portugal o assunto não dominava a actualidade. Mas havia quem estivesse atento.

Entre eles, Zé Pedro. Quando os Xutos & Pontapés nasceram, a sua guitarra destacou-se de imediato. E a sua personalidade também. Por um lado personificava o signo do músico rebelde e empenhado com o colectivo, mas ao mesmo tempo o que expôs desde sempre foi generosidade e humanismo. Existem outros músicos do rock feito em Portugal igualmente influentes ou relevantes, mas com o seu magnetismo é pouco provável. Em parte essa relação fácil com o outro advinha do facto de nunca ter deixado de ser um fã de música. Era um melómano à séria.

Essa dimensão nunca a perdeu. Era um entusiasta por música, sempre empenhado na descoberta e gostava de partilhar esse conhecimento. Na rádio, na TV, nas sessões DJ ou no clube Johnny Guitar que co-fundou, impulsionou grupos novos e foi sendo sempre capaz de uma palavra de incentivo. Era como qualquer um de nós, sendo absolutamente único. 

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