Projecto diminui incidência de depressão e desemprego em famílias
As crianças juntam-se para brincar e ouvir histórias mas também os adultos podem “conversar, trocar experiências e até angústias”.
Os casos de depressão e desemprego diminuíram entre as famílias com crianças que participaram no projecto-piloto Aprender Brincar e Crescer (ABC), que agora poderá ser replicado por todo o país, revelou a Direcção-Geral de Educação. Há cerca de dois anos começou em Portugal um novo programa para as crianças até aos quatro anos que não frequentavam berçários, creches ou infantários: os Grupos Aprender Brincar Crescer (GABC).
Nos GABC, as sessões são dirigidas às crianças, mas também para os pais ou outros cuidadores, que estão sempre presentes.
Todos juntos, aprendem a brincar com materiais reciclados, como caixotes de embalar electrodomésticos que se transformam em túneis ou divertidos meios de transporte, que foi o que o avô Ilídio fez com a neta Maria Rita na sessão desta terça-feira do GABC do Areeiro, em Lisboa.
Uma vez por semana, dez crianças e educadores reúnem-se numa das salas do Centro Intergeracional do Areeiro para brincar, mas também para que os adultos "possam conversar, trocar experiências e até angústias", contou à Lusa Cláudia Chambel, dinamizadora do grupo do Areeiro. Este é apenas um dos grupos ABC que existe em Portugal. No total, o projecto-piloto já chegou a cerca de 300 pares.
No Areeiro, as aventuras com brinquedos pouco prováveis só começam depois da "Hora do Conto". Nesta terça-feira a história foi contada pela comissária europeia responsável pelo Emprego, Assuntos Sociais, Competências e Mobilidade Laboral, Marianne Thyssen, que quis ver os resultados do projecto co-financiado pela Comissão Europeia entre Janeiro de 2015 e Fevereiro de 2017.
Segundo um estudo feito pelo ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e pela Universidade de Coimbra (UC), "participar nos grupos ABC trouxe benefícios cognitivos e sociais para as crianças e para os cuidadores, já que baixaram as taxas de depressão e aumentaram as taxas de saúde mental, de empregabilidade e de participação comunitária", contou à Lusa Pedro Cunha, da Direcção-Geral de Educação (DGE), também presente no GABC do Areeiro.
Com o sucesso do programa-piloto, "estamos prontos para estender estes projectos, porque já está validado. Cada vez mais precisamos de investir em educação o mais cedo possível", anunciou o secretário de Estado da Educação, João Costa.
Segundo Pedro Cunha, este projecto pode ser posto em prática em "bibliotecas municipais, jardins públicos, mercados, feiras ou juntas de freguesia... O que não falta são espaços e a garantia de apoio do Ministério da Educação e das outras organizações que têm trabalhado neste projecto".
A DGE coordena este programa em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a Fundação Bissaya Barreto (FBB), o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), através do seu Programa Escolhas, e as duas instituições de ensino superior.
"Este projecto não é bom apenas para estas crianças que estão aqui, mas para todas as crianças que possam vir a beneficiar deste projecto", disse Marianne Thyssen, em declarações aos jornalistas depois de ler em português com sotaque belga a história "O Bolinha vai à Escola".
Por falta de vaga nas escolas, por incapacidade financeira ou por opção das famílias, as crianças que ficavam em casa têm agora a oportunidade de brincar com outras e assim estarem preparadas para quando chegar a hora de entrar para a escola.
Descalços e sentados no chão, a comissária, o secretário de Estado e o responsável da DGE também cantaram a música de boas-vindas a todos os presentes, participando assim no cerimonial que marca o início de mais uma sessão. Apesar dos convidados, para a Maria Rita, o avô Ilídio foi sempre a pessoa mais importante do GABC do Areeiro.