Em protesto, uma deputada municipal levou o filho bebé para a assembleia — mas foi impedida

A política japonesa levou o filho para evidenciar as dificuldades que as mães japonesas enfrentam ao tentar conciliar o trabalho e a família. O bebé não pôde ficar, mas os deputados comprometeram-se a analisar o caso e a discutir políticas de apoio.

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Quatro deputados abordaram Ogata pouco depois de se ter sentado com o bebé Reuters/KYODO

Uma deputada municipal foi obrigada a sair da Assembleia Municipal de Kumamoto (no Japão) nesta quarta-feira, depois de os colegas se terem manifestado contra a presença do seu filho de sete meses na sala. A japonesa Yuka Ogata tinha levado o seu filho bebé para a sessão na quarta-feira em forma de protesto, para acentuar as dificuldades que muitos pais japoneses – sobretudo as mulheres – enfrentam diariamente ao terem de conjugar a carreira com a vida familiar, ainda mais depois de ter havido um decréscimo do número de creches e jardins-de-infância disponíveis na região.

Depois de alguma discussão e de ter concordado deixar o filho com uma pessoa amiga, a sessão plenária começou com 40 minutos de atraso. Alguns dos deputados da assembleia municipal referem que a deputada quebrou as regras ao levar consigo o filho, não por ser expressamente proibido mas por ser considerado um “visitante” — e, segundo as regras, estes visitantes só podem assistir à sessão se estiverem sentados numa tribuna para o público. Ainda assim, os deputados municipais ficaram de discutir o caso e formas de apoiar aqueles que tenham filhos menores.

Algumas imagens captadas em vídeo mostram o bebé sentado ao colo da mãe na assembleia, sem fazer barulho. A sessão de quarta-feira foi a primeira em que Ogata, de 42 anos, esteve presente depois do nascimento do seu segundo filho.

Aos jornalistas, a deputada disse que tinha contactado várias vezes a secretaria pedindo que a deixassem levar o filho ou, então, que encontrassem uma creche onde a criança pudesse ficar. Como não recebeu nenhuma resposta positiva, decidiu levar o seu filho de qualquer forma, escreve a BBC.

“Queria aparecer na assembleia com o meu bebé e dar voz às mães, trabalhadoras ou não trabalhadoras, que me dizem que têm dificuldade em criar uma criança no Japão”, disse Ogata ao Washington Post. “As mulheres querem ser capazes de criar uma criança e trabalhar sem terem de sacrificar uma destas coisas”, acrescentou ainda.

Este caso contrasta com outros episódios que se têm verificado noutros países: na Austrália, a senadora Larissa Waters regressou ao parlamento com a sua filha bebé e deu-lhe de mamar durante uma das sessões; também a eurodeputada italiana Licia Ronzulli tem levado a sua filha para a assembleia desde 2010, altura em que a criança tinha um mês de idade. No ano passado, a deputada islandesa Unnur Bra Konradsdottir foi notíca por amamentar a filha enquanto discursava no Parlamento. Em Espanha, porém, uma deputada do Podemos, Carolina Bescansa, foi criticada por fazer o mesmo.

Ogata, que integrou a assembleia municipal em Abril de 2015, já tinha confrontado as regras quando estava grávida de oito meses e recusou levantar-se, ficando sentada enquanto fazia questões na assembleia. Isto num país em que se prezam as regras e em que há uma clara discriminação no papel social atribuído às mulheres, havendo pressão para que elas abandonem as suas carreiras depois de se casarem e de terem filhos, apesar de o número de mulheres japonesas em posições de chefia tenha duplicado nos últimos cinco anos.  

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