No Porto, um bairro inteiro foi comprado para ser convertido em alojamento local
Jornal de Notícias avança que o Bairro da Tapada, na escarpa das Fontainhas, foi comprado no início do mês pela empresa de investimento imobiliário Porto Baixa. Há 35 casas habitadas e cerca de 50 moradores. Os que têm contratos a prazo saem quando o contrato acabar.
A escassez da habitação a preços acessíveis é um dos grandes problemas dos grandes centros urbanos em Portugal, como de resto acontece um pouco por toda a Europa. Os centros das cidades estão a ser reconstruídos ao ritmo de T0 e T1, com casas pensadas para o turismo e o alojamento local, em vez de habitação de longa duração. As histórias de despejo e abandono, de certa forma forçado, dos centros históricos de Lisboa e Porto sucedem-se. E mais 88 casas podem somar-se a esta equação quando o Bairro da Tapada, a caminho da ribeira no Porto, for transformado em alojamento local como é intenção dos novos proprietários, adianta o Jornal de Notícias (JN) deste sábado.
A Tapada é um dos bairros das Fontaínhas, com 88 pequenas casas na escarpa dos Guindais, que no início do mês foi comprado pela empresa de investimento imobiliário Porto Baixa. Os novos donos, responsáveis por várias requalificações na baixa portuense, pretendem reabilitar as casas do bairro para as transformar em alojamento local. De acordo com o JN, há cerca de 50 moradores nas 38 casas habitadas do bairro.
Ouvidos pelo diário, os novos proprietários garantiram que “nada vai mudar” de imediato para os moradores com contratos antigos, sem data de termo. Já aqueles que têm contratos com prazo, “vão ter que sair” assim que estes terminem. “À medida que as casas vão ficando livres”, a ideia da imobiliária é transformá-las em “alojamento local para turistas”, cita o JN.
Esta intenção não foi bem aceite pelos moradores que, numa reunião com os proprietários, manifestaram o receio de serem “escorraçados” do bairro. E a insatisfação pelo súbito interessante numa zona que já foi das mais pobres da cidade é notória: “Quando era preciso andar de balde na mão para se fazer as necessidades, ninguém punha aqui os pés”, disse uma moradora ouvida pelo JN.
Até Julho, foi no Porto que o número de casas para alojamento local mais cresceu (147%). Desde o início do ano tinham sido registados 1623 novos alojamentos locais, colocando o Porto como o terceiro concelho do país com mais imóveis registados no Registo Nacional de Alojamento Local: eram 3928.
Segundo um representante da empresa que agora detém o Bairro da Tapada, o terreno contíguo foi comprado em Junho, tendo de seguida a Porto Baixa apresentado uma proposta de “reabilitação total” do bairro, que foi aceite. Há uma zona vazia, onde vão ser construídas casas novas para venda. E as regras são claras: “Não vamos avançar com nada sem primeiro falarmos com vocês [moradores], mas não compramos isto para fazer caridade”, disse o representante da Porto Baixa, citado pelo JN.
Parte do bairro foi, há sete anos, atingida por um incêndio e, desde 2000, é notícia pela instabilidade e algumas derrocadas da escarpa onde se localiza.