Mais 100 milhões para recuperar empregos levados pelos incêndios

Governo lança esta sexta-feira nova linha de financiamento e apoio global chega aos 305 milhões. Fogos de 15 de Outubro atingiram 430 empresas e cinco mil empregos. Fábrica de calçado de Castelo de Paiva é o exemplo da reconstrução.

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Fogos de 15 de Outubro atingiram 430 empresas em todo o país ADRIANO MIRANDA

António Pereira não estava longe da fábrica, na freguesia de Raiva, em Castelo de Paiva quando tudo aconteceu, a 15 de Outubro. Mas foi tudo demasiado rápido, “não havia nada a fazer”. Ao longe, o encarregado fabril viu arder por completo a fábrica de calçado onde trabalhou nos últimos 27 anos. Não bastava ter visto o posto de trabalho ruir, e uns dias depois acabaria por receber mais um duro golpe: recebeu, tal como os outros funcionários, uma carta de despedimento. A empresa OQ, de Oliveira de Azeméis, iria fechar as portas, e as 92 pessoas que nela trabalhavam seguiriam para o desemprego.

Os sinos tocaram a rebate, tanto na câmara como no Governo. Perder 90 postos de trabalho num concelho com tantas dificuldades como Castelo de Paiva é uma realidade que ninguém quer enfrentar. Mas esta sexta-feira, Governo, câmara e empresários vão estar juntos para dar uma boa notícia: os postos de trabalho estão seguros, a fábrica vai ser não só reposta, como melhorada, e a forma como vão ser usados fundos públicos para financiar esta operação vai ser dado como exemplo, e alento, de que a reconstrução pode vir a trazer boas notícias para o interior.

Apoio para garantir postos de trabalho

Esta sexta-feira, também em Castelo de Paiva, o Governo lança outra linha de apoio financeiro para atrair novos investimentos que possam gerar emprego. A linha Atrair, com uma dotação de 105 milhões de euros, no âmbito do Portugal 2020 é a primeira do género que terá critérios específicos relacionados com os postos de trabalhos assegurados, pressupondo a criação e a manutenção dos postos de trabalho existentes.

Este apoio junta-se à linha de financiamento Repor, com 100 milhões de euros, disponível desde o dia 6 de Novembro e que financia a fundo perdido 85% do investimento até 235 mil euros, e 70% nas parcelas que ultrapassem esse valor. Outra linha de apoio, de 100 milhões, foi entretanto negociada com a banca no âmbito da Repor.

De acordo com os dados do Governo, os incêndios de 15 de Outubro atingiram 430 empresas que abrangem um universo de cinco mil trabalhadores. Os prejuízos estimados atingem os 264 milhões. A soma dos fundos públicos disponíveis para apoiar as empresas é de 305 milhões de euros.

Na cerimónia que esta sexta-feira vai ter lugar na câmara de Castelo de Paiva vai ser apresentado publicamente o investidor que comprou as instalações da empresa para as reconstruir, e que pretende ficar com a totalidade dos funcionários que ali trabalhavam. Reinaldo Teixeira, do grupo de calçado de Felgueiras, Carité, que tem já fabricas de calçado em Felgueiras, Celorico de Basto e São João da Madeira, que representam cerca de 500 trabalhadores, vai dispor dos dois instrumentos públicos para financiar o renascimento da empresa.

Ao PÚBLICO, o responsável do grupo Carité, Reinaldo Teixeira, explicou que a sua empresa estava confortável com o recurso aos regimes de subcontratação para usar a mão-de-obra de Castelo de Paiva. “É a grande mais-valia deste concelho. Tem mão-de-obra muito experiente e qualificada no sector – ainda são da escola da antiga Clarks", afirma. Mas acabou por aceitar "o desafio" que lhe foi lançado para olhar para este projecto.

A expectativa deste empresário é conseguir abrir a nova fábrica “lá para os finais de Abril”. Até lá, os empregados que ainda estão disponíveis para continuar a trabalhar, alguns já terão arranjado emprego noutras fábricas, vão frequentar cursos de formação.

Nelson de Souza, secretário de Estado do Planeamento e um dos governantes que esteve no terreno a liderar as negociações sublinha que a empresa e o concelho acabarão por beneficiar do facto de estarem incorporados num grupo sólido que vai aumentar o valor acrescentado da unidade industrial: “São estes dois eixos em que queremos apostar, não só repor o que foi destruído mas também atrair mais investimento.”

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