Ostras do Sado estão em recuperação e a dar luta à sua concorrente japonesa

Estudo financiado pela The Navigator Company mostra que populações naturais de ostra portuguesa, no Estuário do Sado, estão a aumentar, sobretudo no canal de Alcácer do Sal. Produção de ostras no rio pode voltar a ser actividade exportadora como foi até aos anos 70.

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As populações de ostra portuguesa ao longo da costa estão em expansão, principalmente no Estuário do Sado, conclui um estudo científico, promovido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (INCF) e patrocinado pela The Navigator Company (antiga Portucel-Soporcel), revelado em Setúbal nesta terça-feira e que vai ser apresentado quinta-feira em Lisboa.

De acordo com os investigadores, os bancos de ostras no Sado têm vindo a aumentar, nos últimos anos, sobretudo no canal de Alcácer do Sal, mais no interior do rio, com as populações naturais em expansão recente. Os cientistas, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), da Universidade de Aveiro (UA) e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) observaram a presença de populações relevantes de ostras permanentemente emersas, o que nunca tinha sido estudado, comprovaram o bom estado dos bancos e confirmaram que a época de reprodução abrange um período alargado, de Abril a Outubro.

O estudo, realizado no âmbito de um projecto – denominado Crassosado – começou há cinco anos, no seguimento do crescimento do número de pedidos de licenciamento de produção de ostras em Setúbal, feitos junto da delegação de Lisboa e Vale do Tejo do INCF. “Os meus técnicos diziam que não podíamos aprovar os processos, deparámo-nos com um problema de falta de informação sobre o estado das ostras”, contou Jesus Fernandes, directora do Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo. A resposta da responsável a este problema foi a criação do projecto para o estudo das ostras, com apoio das universidades e financiamento da empresa que tem fábrica em Setúbal, na Mitrena, zona industrial na margem do rio.

Nos dois primeiros anos o estudo incidiu sobre a ecologia, o estado das obras, e numa segunda fase os investigadores voltaram-se para as questões relacionadas com as possibilidades de produção. "Em 2016 e 2017 procurámos compreender as necessidades dos ostreicultores da região”, disse José Lino Costa, professor da FCUL que integrou a equipa de trabalho.

Entre as necessidades apontadas pelos produtores de ostras no âmbito do estudo estão a agilização dos processos de licenciamento, o aumento das concessões, a criação de apoios específicos e de uma região demarcada que valorize as ostras do Sado. Os ostreicultores revelaram também sentirem necessidade de criar uma associação que os represente.

Para que a produção e comércio de ostras produzidas em Setúbal ganhe força é necessário também transplantar os bancos existentes onde há mais quantidade, no canal de Alcácer, para locais mais adequados, no estuário.

“As condições do canal de Alcácer do Sal são desfavoráveis à obtenção de ostras de boa qualidade, mas as boas notícias é que se elas forem transplantadas para a zona da baía podemos melhorar as suas características e contribuir para a sua valorização comercial”, disse José Lino Costa.

Para a presidente da Câmara de Setúbal as conclusões do estudo agora apresentado abrem a porta à produção de ostras do sado com outras condições. “Este notável estudo vai permitir que os nossos ostreicultores possam fazer aqui a sua actividade com maior segurança”, disse Maria das Dores Meira.

O director de Sustentabilidade da The Navigator Company, José Ataíde, declarou que o patrocínio da empresa a este projecto “enquadra-se na colaboração de longa data com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, uma entidade tão relevante para a protecção e valorização do património florestal e espaços florestais do nosso país”.

Ostra portuguesa do Sado resiste a invasão da ‘giga’

A ostra portuguesa (nome científico de Crassostrea angulata), existente no Sado, é uma espécie autóctone, que já deu aos estuários do Tejo e Sado o estatuto de maiores bancos da Europa e cuja produção atingiu enorme importância comercial até ao início da década de 70. Em Setúbal, nas localidades com ‘braços-de-rio’, como Gâmbia, Faralhão e Praias do Sado, a apanha da ostra, exportada maioritariamente para França, chegou a dar trabalho a mais de quatro mil pessoas.

A poluição dos rios e o excesso de captura levaram à quase extinção da ostra do Sado o que, conjugado com a chegada da ostra japonesa (Crassostrea giga) ao mercado francês, determinou o fim desta actividade económica na região.

A espécie japonesa, conhecida como ostra giga, é de muito rápida proliferação em cativeiro e nos bancos naturais e chegou até Portugal, dominando nos bancos naturais no Algarve.

Mas as coisas estão novamente a mudar. A ostra giga entrou em declínio em 2008, com uma mortalidade crescente, num fenómeno que se assemelha ao que afectou a ostra portuguesa nos anos 70 e que os especialistas atribuem à massificação da produção.

É com esta abertura que a produção de ostras do Sado volta a ser uma forte possibilidade até porque a ostra portuguesa nesta região apresentou sempre uma grande capacidade natural de resistência ao avanço da concorrente japonesa.

 

 

 

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