Heróis à moda antiga

Uma pequena surpresa: um óptimo filme de pelotão à moda antiga entre os bombeiros americanos, uma boa história bem contada com gente lá dentro.

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Só para Bravos: o apego a uma lógica de boas histórias com gente dentro que Hollywood abandonou
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Tanto andamos nós a queixar-nos de que Hollywood já não faz aqueles filmes de “meio da tabela”, sólidos mais do que geniais, eficazes mais do que espectaculares, carpinteirados mais do que colados com cuspo, que chega a ser irónico quando aparece um e ninguém liga. É o caso de Só para Bravos, impecável “filme de pelotão” à moda antiga sobre o “novato” (Miles Teller, de Whiplash e Marcas de Guerra) que procura a redenção no serviço abnegado altruísta e vê o seu novo chefe (Josh Brolin em grande forma) dar-lhe a oportunidade e até picá-lo para dar o seu melhor.

Acontece, no entanto, que apesar de ter tudo do filme de tropa Só para Bravos passa-se no meio do combate aos fogos, dobrando a história do novato com a tentativa de uma brigada de 2ª classe de Prescott, no Colorado, atingir o estatuto almejado de brigada especial florestal. E é também uma história verídica — os Granite Mountain Hotshots do filme existiram realmente e o filme de Joseph Kosinski, baseado num artigo da revista GQ e feito com a cooperação das autoridades locais, acompanha o seu percurso ao longo de um ano, até à tragédia da montanha de Granite em 2013, na qual 19 bombeiros perderam a vida.

No papel, tudo isto corre o risco de cair muito facilmente nas convenções chapa-quatro da edificante história verídica, ainda por cima entregue nas mãos de um realizador que até aqui conhecíamos precisamente do cinema de efeitos especiais de encher o olho (Tron: O Legado, 2010; Esquecido, 2013). Na prática, Só para Bravos é um bicho completamente desfasado dos nossos dias, história seca e (apesar do “epílogo”) sem pingo de azeite sobre irmandades viris e masculinas onde as mulheres (quase, quase Hawksianas — é ver a personagem de Jennifer Connelly) têm uma palavra a dizer e não se ficam por ser meros acessórios (aliás, não se ficam, ponto final). E é uma celebração do profissionalismo responsável e silencioso como nos últimos anos só Michael Mann continua a acreditar em fazer. Previsível? Só para Bravos é-o, mas é-o dentro de uma fórmula que Hollywood praticamente abandonou — e esse apego a uma lógica de boas histórias com gente dentro chegaria para lhe prestarmos mais atenção do que o título genérico e o marketing a despachar dão a entender. A mais-valia é que — surpresa! — o filme é mesmo bom, e vale três ou quatro super-heróis de linha de montagem. A ver, sem reservas (e apesar do título português traduzido às três pancadas).

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