Roger Waters e Brian Eno respondem a Nick Cave

Líder dos Bad Seeds rejeitou apelo para não actuar em Israel e acusou a campanha de boicote BDS de querer censurar e silenciar músicos. O fundador dos Pink Floyd replicou: “O que aqui está em causa são direitos humanos”.

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Nick Cave PP PAULO PIMENTA

Roger Waters não gostou da justificação apresentada por Nick Cave para não cancelar dois concertos em Israel – o líder dos Bad Seeds regressa esta segunda-feira à noite à Menorah Arena de Telavive, onde já actuou no domingo –, acusando-o de “despreocupação arrogante” e “indiferença implacável”.

Cave não se limitara a decidir levar por diante os dois espectáculos agendados para Telavive no âmbito da digressão do disco Lovely Creatures (2016). Numa conferência de imprensa em Telavive, no domingo, o músico australiano explicara que estava ali por gostar de Israel e do seu povo, mas também “para marcar posição contra essa gente que está a tentar silenciar, assediar e censurar músicos”.

O alvo era o grupo de músicos e outros artistas ligados ao movimento internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que vem promovendo um boicote político, académico e cultural ao Estado de Israel, acusado de oprimir o povo palestiniano com um regime colonialista comparável ao apartheid que existiu na África do Sul. Roger Waters, co-fundador dos Pink Floyd, foi um dos músicos que subscreveram no início do mês uma carta aberta a Nick Cave apelando ao cancelamento dos seus concertos previstos para Israel, um documento igualmente assinado pelo cineasta Ken Loach, a actriz Julie Christie ou a histórica activista americana dos direitos civis Angela Davis.

“O quê, Nick achas que isto tem a ver com censurar a tua música?”, pergunta Roger Waters, para logo responder: “com todo o respeito, Nick, a tua música é irrelevante para este efeito, como é a minha, ou a de Brian Eno ou a de Beethoven, porque o que aqui está em causa são direitos humanos”. A alusão a Brian Eno justifica-se pelo facto de este ter também respondido a Nick Cave, afirmando que lhe parecia desconcertante que este acusasse o movimento BDS de querer silenciar artistas “num contexto em que alguns milhões de pessoas são permanente e grotescamente silenciadas”.

Waters fora directamente visado pelo compositor e vocalista dos Bad Seeds na sua conferência de imprensa em Telavive, quando este observara que todos os músicos que actuam em Israel “têm de se submeter a uma espécie de humilhação pública imposta por Rogers Waters e Cia.”. Na mesma ocasião, Cave também referiu o ex-músico dos Roxy Music ao explicar que as suas reservas à campanha contra Israel tinham começado há três anos, quando Eno lhe pedira que assinasse uma lista intitulada Artistas pela Palestina. “A um nível muito intuitivo, não quis assinar, havia qualquer coisa naquela lista que me cheirava mal", contou.

Num depoimento em que começa por afirmar a sua “admiração por Nick Cave como artista” e testemunha “o seu generoso apoio às causas humanitárias” relacionadas com a Palestina, Brian Eno diz ter-se sentido obrigado a reagir publicamente às recentes declarações do músico. Eno argumenta que o BDS se limita a pedir aos artistas que não “façam parte da campanha de propaganda de Israel", que acusa de "usar de forma consistente as trocas culturais como meio de melhorar a imagem do país no exterior”, e sugere a Cave que contraste o alegado assédio de que seriam vítimas os músicos que actuam em Israel com “a táctica intimidatória de rotular de anti-semita todo e qualquer tipo de crítica à política israelita”.

A resposta de Roger Waters, que diz ter lido as declarações de Cave na conferência de imprensa com “uma mistura de tristeza, descrença e raiva”, é bastante mais dura. “E se fosse a tua casa demolida, o teu país invadido e as suas povoações arrasadas para darem lugar a estádios para os invasores promoverem concertos pop?”, pergunta o músico, que se assina, ironicamente, “Roger Waters and Co.”. 

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