Qual é o perfil do cientista português no estrangeiro?

Foi há um ano que surgiu o GPS, uma rede social para pôr no mapa os cientistas portugueses a trabalhar no estrangeiro. Agora, traça-se o primeiro retrato sobre quem são, onde estiveram e o que fizeram.

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A rede social que localiza os cientistas portugueses espalhados pelo mundo comemora esta segunda-feira um ano. Para isso, foi traçado o perfil de 1679 cientistas portugueses com experiências no estrangeiro inscritos no GPS (Global Portuguese Scientists), que já conta com mais de três mil membros. No dia do seu aniversário há uma “festa” no Observatório Astronómico de Lisboa, que junta a partir das 15h o físico Carlos Fiolhais, Jaime Gama (Presidente do conselho de administração e da comissão executiva da Fundação Francisco Manuel dos Santos) e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na conferência “Ciência Portuguesa pelo Mundo” (que se pode acompanhada via streaming, vai apresentar-se o perfil geral do cientista. Na apresentação destes dados estarão também três cientistas portugueses a residir ou que residiram no estrangeiro: Zita Martins (astrobióloga até Outubro de 2017 no Imperial College de Londres), Francisco Bethencourt (professor no King’s College de Londres) e Nuno Fontes (engenheiro químico no Silicon Valley).

Antes de mais: o que é um cientista GPS? São os investigadores portugueses que tiveram pelo menos uma experiência profissional de três meses no estrangeiro. Este é um conceito que nasceu com a rede GPS, uma iniciativa da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Agora, traça-se pela primeira vez um perfil de um cientista GPS com dados de 1679 cientistas que se inscreveram na rede até 15 de Setembro (agora já são 1758 inscritos). Ao todo, estes investigadores realizaram 3951 experiências profissionais quer em Portugal quer no estrangeiro. Cerca de 79% dessas experiências foram no estrageiro e cada um teve, em média, duas experiências profissionais.

“Este perfil é um cruzamento quantos são, quem são, onde estiveram e o que fizeram”, diz ao PÚBLICO João Marques, investigador da Universidade de Aveiro e responsável pelo tratamento estatístico dos dados. Todo este estudo foi realizado por docentes e investigadores do Departamento de Comunicação e Arte e do Departamento de Ciências Sociais, Políticas do Território da mesma universidade. “Este perfil não é exaustivo”, destaca ainda.

Comecemos então por perceber quem são estes cientistas GPS. Há uma repartição equitativa entre mulheres (50,3%) e homens (49,7%). A idade média dos cientistas GPS é de 36 anos, sendo que os homens têm uma idade média mais elevada (37,6 anos) do que as mulheres (34,5 anos). E onde estiveram? A distância média no estrangeiro relativamente a Lisboa é de 3582 quilómetros. Os portugueses no estrangeiro espalharam-se por 84 países, sendo que os principais destinos, por ordem decrescente, foram o Reino Unido, os Estados Unidos, a Alemanha, França e Países Baixos. E 38,5% das experiências profissionais desenvolveram-se em países onde o inglês é uma das línguas oficiais.

E o que fizeram eles? Cerca de 59% dos cientistas GPS escolheram as ciências naturais como uma das áreas de investigação, sendo as áreas mais representativas as ciências médicas e a engenharia e tecnologia. E por fim, quem são eles? A maioria dos cientistas esteve em actividade como investigador doutorado (38%, o que corresponde a 1495 experiências profissionais dos cientistas analisados). Seguiram-se as actividades de alunos de doutoramento e investigador não doutorado.

“É um primeiro retrato”, diz David Marçal, coordenador do GPS, acrescentando que esta é uma “análise retrospectiva”. “Traça um retrato da diáspora científica portuguesa. Acho que é um embrião para se fomentar mais massa crítica e a colaboração de vários cientistas.” Como tal, David Marçal destaca o envolvimento dos cientistas, a sua receptividade ao projecto e a criação de mais de 100 grupos geográficos ou temáticos no GPS.

Todos podem participar e esta rede também já conta com mais de três mil membros, que podem ser cientistas ou não. “Vamos continuar a apostar no GPS. Ainda há muitos cientistas que não estão aqui”, frisa o coordenador. E adianta que esta já não é só uma rede de pessoas, mas que também é para “instituições relevantes”, como universidades ou instituições de investigação. Acima de tudo, espera-se que cresça em todos os sentidos, afinal esta segunda-feira o GPS só faz um ano. 

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