“Graffiti pintados, graffiti apagados” – assim será nas estações do país
Remover de imediato os graffiti é a solução da Infraestruturas de Portugal para manter limpas as estações ferroviárias. Projecto-piloto começou em Santa Apolónia e na Linha de Cascais.
Actuar de imediato. Não deixar que os graffiti se propaguem e limpá-los rapidamente. É esta a receita que os responsáveis pela manutenção de estações da Infra-estruturas de Portugal adoptaram para combater a degradação do seu vasto património ferroviário e que, para já, tem dado resultados nos locais onde o projecto foi implementado: os muros da Estação de Santa Apolónia, em Lisboa, e algumas estações da Linha de Cascais.
“Já tínhamos a experiência da vandalização de estações. Sabíamos que bastava um vidro partido para que rapidamente uma estação não guarnecida começasse a ser invadida e destruída”, disse ao PÚBLICO António Viana, da Direcção de Gestão da Rede Ferroviária, da Infra-estruturas de Portugal. “Percebemos que tínhamos de actuar de imediato para evitar a degradação de todo o edifício e aplicamos a mesma lógica aos graffiti”.
Em 2015, a empresa descobriu que a Câmara de Lisboa pensava da mesma maneira quando foi contactada pelo município para se associar a um projecto que pretendia limpar a cidade de graffiti através de uma brigada de intervenção rápida.
“O objectivo de quem faz graffiti é que estes se vejam, mas se souberem que naquela zona são logo eliminados, acabarão por não perder tempo a fazê-los”, diz António Viana.
A Infra-estruturas de Portugal e a câmara começaram pela Estação de Santa Apolónia, cujos muros exteriores estavam sempre grafitados e pelas estações do Cais do Sodré, Santos, Belém e Alcântara.
“Resultou face ao que estava. Antes tínhamos ciclos de manutenção dos edifícios e quando lá chegávamos era preciso pintar tudo. Agora quaisquer dois metros pintados são logo limpos para não termos, mais tarde, de limpar toda uma fachada, mas é um trabalho que requer muita determinação e empenho e que obriga a voltar uma, duas ou mais vezes ao mesmo local”.
E esta abordagem sai cara? “Temos que ver o custo económico. Há muitas reclamações de pessoas que se queixam dos graffiti nas estações porque as tornam inóspitas e transmitem insegurança. Qual o custo disso para a imagem da Infra-estruturas de Portugal, para a imagem do sistema ferroviário e até para o país em geral?”, pergunta António Viana.
A própria empresa já engloba nos seus contratos de outsourcing cláusulas para a remoção de graffiti. Por exemplo, a manutenção dos 255 elevadores, 171 escadas rolantes e 12 tapetes rolantes que existem nas estações ferroviárias do Minho ao Algarve foi atribuída num só contrato a uma única empresa, a Schmit, com a obrigação desta cuidar também da remoção das pinturas.
Mas há outras abordagens mais criativas que envolvem os próprios writers dentro de uma lógica do “se não puderes vencê-los junta-te a eles”. Na passagem inferior de Algés a Infra-estruturas de Portugal, a CP e a Câmara de Oeiras puseram-se de acordo para que a requalificação daquele espaço – habitualmente grafitado e vandalizado – fosse alvo de um pintura concebida por artistas. Jorge Cordeiro, Pedro Esteves, “Nomen”, “dupla Brunogiao e Lucianosilvantes” acabaram por deixar a sua marca numa obra que tem vindo a ser respeitada.
Na estação de Entrecampos havia um mural da autoria de Ângela Menezes que representava pessoas anónimas que ali passavam, mas que foi desfigurado pelos graffiters. Agora a própria artista propôs-se reconstruir o mural aproveitando parte da sua obra e das próprias pinturas que ali foram feitas.
António Viana diz que o ideal é que não houvesse graffiti, os quais define como “uma vandalização de uma infra-estrutura pública”. Todos os dias a antiga Refer gasta recursos humanos e recursos financeiros com este flagelo. A Grande Lisboa, o Grande Porto e o Algarve são as zonas mais problemáticas. Mas, curiosamente, nas linhas de Lisboa, a de Cascais é pior do que a de Sintra, porque esta última tem vigilantes permanentes nas estações, videovigilância e bilheteiras abertas durante mais tempo, o que dissuade os writers.
Só para manter as estações limpas de graffiti, a Infra-estruturas de Portugal gasta 150 mil euros por ano. Segundo o Diário de Notícias de 17/9/2016, a Câmara de Lisboa gasta um milhão de euros por ano na limpeza de graffiti. A CP, por sua vez, espera gastar até ao fim do ano 300 mil euros. Para remover dos seus comboios as marcas do vandalismo. Este valor tem vindo a subir: em 2014 eram 230 mil euros, em 2015 passou para 290 mil euros e no ano passado já chegava aos 300 mil euros.
A Linha de Cascais é também a mais afectada pelos ataques dos writers, mas o fenómeno ocorre de norte a sul do país, destacando-se, porém, as composições de via estreita da Linha do Vouga (Aveiro a Sernada do Vouga e Espinho a Oliveira de Azeméis) que estão permanentemente conspurcadas.
Mas nem o próprio Alfa Pendular escapa. Uma das duas composições deste comboio que foram alvo de uma revisão já foi grafitada. O próprio comboio histórico do Douro também já foi pintado, mas, numa iniciativa inédita, alguns jornais que deram a notícia renunciaram a publicar as fotos para não dar publicidade aos seus autores.
A empresa diz que não consegue colocar vigilantes em todas as estações-términus e parques de material, sendo que, muitas vezes, tal também não impede que os comboios ali estacionados sejam vandalizados porque os writers têm comportamentos agressivos contra quem guarda as composições.
Já a Fertagus, concessionária que explora o eixo Lisboa-Setúbal, consegue a proeza de ter os seus comboios sempre limpos, mas a tem a vida facilitada porque opera num troço curto e recolhe à noite todos os seus comboios à “garagem”, neste caso, ao parque de material em Coina. Além da presença de vigilantes a bordo e em algumas estações, a empresa cumpre também uma regra básica: nenhum comboio sai para o serviço se o seu exterior não estiver totalmente limpo.