Mónica Bettencourt-Dias é a nova directora do Instituto Gulbenkian de Ciência
A bióloga sucede a Jonathan Howard na direcção do instituto dedicado à investigação biomédica.
A bióloga Mónica Bettencourt-Dias, de 44 anos, vai ser a nova directora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, anunciou esta quinta-feira a Fundação Calouste Gulbenkian. A partir do início do próximo ano, a investigadora vai substituir o britânico Jonathan Howard, que estava no cargo desde 2012, e que tinha sucedido a António Coutinho.
“A escolha da nova directora resultou de um processo internacional conduzido por uma comissão independente constituída por investigadores de elevada reputação”, informa a Fundação Calouste Gulbenkian em comunicado. Tendo em conta esse processo, o conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian nomeia agora a bióloga.
Mónica Bettencourt-Dias é investigadora principal do IGC desde 2006 e lidera o laboratório de Regulação do Ciclo Celular. Doutorou-se pela University College de Londres em bioquímica e biologia molecular e também tem um diploma em comunicação de ciência pelo Birkbeck College de Londres. Ao longo do seu percurso científico teve ainda bolsas do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês) em 2010 e 2015. Também foi eleita como membro da Organização Europeia de Biologia Molecular.
A bióloga tem-se destacado na investigação dos centrossomas, estruturas minúsculas que regulam a divisão das células e são cruciais para a forma que a célula irá ter. Estas estruturas foram vistas pela primeira vez ao microscópio no século XIX pelo descobridor da penicilina Alexander Fleming. Logo se percebeu então que são o órgão especial de divisão celular e mais tarde levantou-se a hipótese de estarem envolvidas no cancro, onde ocorre a multiplicação anormal das células. Também vem daí a seguinte questão: como é que se formam os centrossomas?
Pensava-se que os centrossomas que existiam nas células serviam de molde para novos centrossomas. Mas, em 2008, a equipa desta investigadora publicou um artigo científico na revista “Science” que desvendou este mistério com mais de 100 anos. “Pensava-se que esta estrutura, que já estava na célula, servia de molde para o novo centrossoma. Mas não é assim”, dizia na altura Mónica Bettencourt-Dias ao PÚBLICO. A equipa concluiu que não é preciso existir esse molde, basta ter a planta de construção dos centrossomas. Essa planta é uma proteína e a equipa descobriu-a em experiências em ovócitos de moscas-da-fruta, que não têm essa proteína mas, quando a equipa a introduziu, ficaram repletos deles. A sua equipa também descobriu, em 2016, em experiência com moscas-da-fruta, o mecanismo em estruturas das células que estão na origem da infertilidade feminina.
A bióloga é a primeira mulher a assumir o cargo de directora do IGC, funções que desempenhará para os próximos cinco anos.