Giselo Andrade, o padre sobre quem todos falam
O padre Giselo é também o director do Jornal da Madeira, o órgão de informação oficial da igreja madeirense. Em 2014, disse, numa entrevista, que defendia o celibato como sendo uma “doação total a Deus”.
Menos de duas semanas depois do caso ter sido tornado público, o padre Giselo Andrade tinha este sábado a igreja cheia. Tem sido sempre assim, desde que a comunicação social madeirense resumiu em notícia o que há muito já se murmurava nas ruas e becos da paróquia do Monte. Já era assim antes da Diocese do Funchal ter admitido que sim, que o padre Giselo tinha assumido a paternidade de uma menina, nascida a 18 Agosto.
No Monte, onde desde Outubro de 2009 cumpre aquela que é a sua primeira missão pastoral, o pároco é um “homem querido” de todos. “É um bom homem, e um bom padre. Não merece todas estas conversas”, diz à saída da missa, Humberto Silva.
Carla Teixeira concorda. “Está sempre disponível para ajudar. É uma voz amiga que nos temos aqui”, sintetiza, apressada, antes de desaparecer pela porta da Casa de Chá, paredes meias com a igreja do Monte. Lá dentro, algumas mesas alinhadas com sumos e água. Um bolo de aniversário ao centro. O padre Giselo Andrade fez durante a semana 37 anos, ia comemorar agora, junto com os paroquianos.
Ainda dentro da igreja, no final da missa, convidou todos para celebrarem com ele a “graça” de ter 37 anos. A maioria disse que sim. Paroquianos anónimos. Até um grupo folclórico se juntou à festa. Mas afinal quem é este padre Giselo Andrade que, por força das circunstâncias, reacendeu o debate sobre o celibato dos padres?
Natural do Funchal, foi ordenado padre em Julho de 2005. Após celebrar a primeira eucaristia, a Missa Nova na igreja da Nazaré, regressou a Roma onde prosseguiu a formação na Universidade Pontifícia Gregoriana em Ciências Sociais, especializando-se em Teologia da Comunicação. Foi nessa altura que viveu, entre as vigílias constantes na Praça de São Pedro, os últimos dias do Papa João Paulo II, escrevendo vários artigos sobre essa experiência para órgãos de comunicação social próximos da Igreja Católica.
Quando regressou, assumiu a paróquia do Monte, a padroeira da Madeira. Depressa foi ganhando importância na hierarquia da igreja madeirense. Em 2010 foi nomeado vice-reitor do Seminário Diocesano do Funchal, assumindo depois funções como director do Secretariado das Comunicações Sociais da diocese.
Membro do secretariado permanente Conselho Presbiteral, o círculo mais próximo de António Carrilho, o bispo do Funchal, o padre Giselo é também o director do Jornal da Madeira, o órgão de informação oficial da igreja madeirense.
Este percurso não tem sido isento de polémicas. Em 2012, um ano depois de uma polémica envolvendo o então presidente do governo madeirense, Alberto João Jardim, que ameaçou expulsar uma jornalista da sacristia da igreja do Monte, o padre Giselo Andrade limitou o acesso da comunicação social durante a missa da Festa do Monte.
Mas foi o assumir a paternidade de uma filha, cuja mãe é uma antiga colega do secundário com quem se cruzou depois na universidade em Lisboa, que o colocou na boca dos madeirenses. Nos jornais regionais, têm-se sucedido as opiniões sobre o caso. Algumas, notam o comportamento contraditório da igreja e do próprio padre que em 2014, num entrevista à RTP-Madeira, admitia o casamento de sacerdotes, apesar de, a nível pessoal, defender o celibato. “É uma doação total a Deus”, justificou. Outros sublinham que para além do padre e da diocese, existe uma mulher e uma criança, e lembram os deveres que Giselo Andrade, o homem e o padre, tem perante as duas.