Panteão cobrou 6500 euros por espaço para jantar e cocktail da NAV
José Bengaló, o empresário que organizou o jantar de gala da empresa pública de tráfego aéreo, afirma que a autorização foi tratada com a directora do monumento.
A empresa pública de serviços de tráfego aéreo, a NAV, realizou há menos de um mês um jantar no Panteão Nacional com características idênticas ao do polémico jantar da Founders Summit, no final da Web Summit. Pelo aluguer do espaço – corpo central (átrio) e cocktail no terraço – foram pagos 6500 euros, revelou ao PÚBLICO o empresário de catering que organizou o evento, José Bengaló.
“Fomos nós que propusemos o espaço e tratámos de tudo”, afirmou o chef, esclarecendo que a autorização para utilização do monumento foi tratada directamente com a directora do Panteão, que depois se encarregou de viabilizar o evento junto da Direcção-Geral do Património Cultural.
José Bengaló chegou a propor à NAV outros lugares alternativos, devido ao elevado preço pedido – 5000 mil euros pelo corpo central e 1500 euros pelo terraço onde foi servido o cocktail. “Como eram só 200 pessoas, era um bocado caro, mas eles gostaram tanto do espaço que quiseram ali mesmo, até porque está lá o general Humberto Delgado, uma figura da aviação, tinha tudo a ver com a entrega de prémios que iam fazer”, disse ao PÚBLICO.
Os 5000 euros cobrados neste caso são superiores aos valores da tabela que consta no despacho Despacho 8356/2014, de 24 de Junho de 2014, adoptado pelo anterior Governo, que aprovou o Regulamento de Utilização dos Espaços sob tutela da Direcção-Geral do Património Cultural. Alugar o átrio, ou corpo central, para um jantar custa 3000 mil euros para, mas é preciso acrescentar-lhe o IVA e os custos acrescidos previstos: “Quando a duração do evento exceda o horário de abertura ao público, aos valores de tabela acrescem custos com vigilância/guardaria, a orçamentar caso a caso”, lê-se no despacho.
O jantar realizou-se a 16 de Outubro e o contrato está publicado no portal Base, onde se fica a saber que a NAV pagou 17.600 euros pelo serviço à empresa de catering José Bengaló Unipessoal, com direito a welcome drink, refeição com entrada, dois pratos, sobremesa e bebidas, bengaleiro, facilidade de estacionamento e música ambiente.
A música esteve a cargo d’Os cotas do Jazz, revelou ao PÚBLICO José Bengaló: “Foi muito agradável, eles cantam à capela um jazz dos anos 20 e 30, apenas com instrumentos de sopro”.
O empresário tece grandes elogios ao Panteão como espaço para realização de eventos deste tipo: “É um espaço fantástico, muito bonito, as pessoas adoram. Pensa-se que é um mausoléu, mas não é”, acrescenta. Questionado sobre se o preço é o principal obstáculo para a sua utilização, responde que sim, mas também a disponibilidade. “Fazem-se lá muitos eventos públicos”, afirma.
Este foi o primeiro evento da NAV naquele espaço, mas a empresa tem já como tradição realizar grandes jantares para os trabalhadores, com custos que já mereceram o reparo do observatório Má Despesa Pública, que desde 2011 dinamiza um blogue com o objectivo de apoiar e promover a praxis social da cidadania através das redes sociais e Internet.
Já em 2013, este blogue criticava os 22.074 euros gastos pela NAV na organização do jantar de Natal num hotel de cinco estrelas. No ano seguinte assinalava que a empresa pública estava a “aprender” a poupar nos jantares de Natal, pois só dispendeu “18 mil euros para catering, organização e aluguer do espaço para o jantar”.