Governo é “um milagre político” mas “entra em crise” quando há problemas

O fundador do CDS e antigo ministro de Sócrates considera que o executivo tem condições para chegar ao fim da legislatura, mas tem de melhorar a política de comunicação e coordenação interna.

Foto
Freitas do Amaral acaba de lançar o livro "Da Lusitânia a Portugal - Dois mil anos de história" LUSA/NUNO FOX

Freitas do Amaral considera que o Governo de António Costa conseguiu “uma espécie de milagre político” ao conciliar os interesses da UE com os do PCP e do BE e, ao mesmo tempo, pôr a economia a crescer. Em entrevista à Antena 1, que vai este sábado para o ar ao meio-dia, o fundador do CDS-PP e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Sócrates fez uma análise globalmente positiva do executivo, mas também criticou a actuação perante as crises.

“Do ponto de vista da estabilidade governativa, [o Governo] tem sido um êxito. Ninguém o previa, eu próprio pensei que não chegavam ao fim da legislatura, hoje estou convencido que chegam”, afirma. Do ponto de vista da política económica e financeira, vê outro êxito: “Não só conseguiram pôr Portugal a crescer, e a crescer à volta dos 3%, o que é notável, mas conseguiram reduzir o défice, o desemprego”.

Numa análise global, Freitas considera que a "geringonça" alcançou "uma espécie de milagre político: pôr de acordo sobre a política que estão a desenvolver, quer Bruxelas, quer o PCP e o Bloco, o que é uma coisa nunca vista, que vai ficar na história".

Na sua opinião, só há uma ou duas coisas em que o Governo pode ser criticado: “A primeira é que não está a dar velocidade suficiente à redução da dívida portuguesa, o maior problema que Portugal tem em cima da cabeça”. Deixou o aviso: “Enquanto não a descermos para abaixo dos 100% [do PIB] - actualmente é superior a 130% - estamos à mercê de haver uma crise europeia ou mundial”.

A segunda é a capacidade de resposta às crises: “Este Governo, que tem sido francamente bom quando o mar está tranquilo, sempre que aparece uma tempestade no mar, fica embaraçado e não sabe como há-de reagir”. Na sua opinião, isso aconteceu com os fogos do Verão, com Tancos, com os fogos de Outubro, e está a passar-se com a legionella: “Sempre que há uma crise, o Governo de certa maneira também entra em crise. O primeiro-ministro ou não está, ou não fala, há ministros a dizer coisas contraditórias”.

Questionado por Maria Flor Pedroso se terá havido falta de liderança de António Costa, Freitas é mais contido: “Eu diria antes que houve uma liderança demasiado modesta, demasiado apagada. As pessoas em momentos difíceis, querem ouvir o comandante do navio, precisam de ouvir o responsável máximo […] Tem de haver comunicação pessoal, directa”, defende.

É precisamente na política de comunicação e informação que reside, segundo o antigo parceiro de Costa no primeiro executivo de Sócrates, o calcanhar de Aquiles do actual governo: “Eu acho que tem faltado muito uma política de informação, é [saber] exactamente o que é que se deve dizer e ter a noção de que, quando há qualquer coisa de extraordinário, é preciso falar com as pessoas, mantê-las ao corrente”, disse.

Acrescentou ainda que “também há uma grande falta de coordenação entre ministérios e, às vezes, dentro do mesmo ministério, entre serviços”. E deu um exemplo: “Vimos nos fogos do Verão diferentes serviços do Ministério da Administração Interna a enviar comunicados para os jornais a acusar os outros”, o que considera “impensável”.

Freitas do Amaral considera que o Presidente da República “fez muito bem” em falar ao país desde Oliveira do Hospital e que o Governo “não precisava de ir a correr mudar a ministra”. “Isso foi um bocado a demonstração de que tinham algum peso na consciência, porque podiam perfeitamente ter mudado a ministra na semana seguinte, mas o Governo ainda não percebeu, ainda não sabe ou não aprendeu, como é que se reage a situações desse tipo”, afirma.

Sobre o azedar de relações entre o primeiro-ministro e o Presidente da República, o fundador do CDS tem uma opinião moderada: “Não creio que tenha sido uma crise, ou se foi, foi momentânea, que se resolveu por si. Não creio que se tenha aberto um novo ciclo político”, nem com as autárquicas, pois estas “reforçaram a legitimidade do PS como principal força política da esquerda”, e nessa medida, “reforçaram a actual solução governativa”.

Quanto à saída de Pedro Passos Coelho da liderança do PSD, Freitas do Amaral começou por defender que “o país e o PSD lhe devem agradecer” por ter “tirado Portugal do fundo do poço”, mas acha que “fez bem, nesta altura, em retirar-se”. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários