1989, o ano dos prodígios
Janeiro
O fim da Guerra Fria?
Em Janeiro de 1989, proclamou Ronald Reagan: “A Guerra Fria acabou”. Em 1987, Reagan e Gorbatchov assinaram o primeiro acordo de desarmamento da era nuclear. Em Maio de 1988, a URSS iniciara a retirada do Afeganistão. "Pressentem-se grandes acontecimentos, não se sabe quais", dizia um anuário de estratégia.
6 de Fevereiro, na Polónia
A Mesa Redonda
A Mesa Redonda das negociações entre Governo comunista e Solidariedade começam a 6 de Fevereiro: os sindicatos serão livres e haverá eleições em Junho.
3 de Maio, na Hungria
A Cortina rasgada
A Hungria começa a desmantelar a "Cortina de Ferro" na fronteira com a Áustria, cortando o arame farpado electrificado. A 11 de Fevereiro, o Comité Central aprova o multipartidarismo. A primeira televisão privada emite a 1 de Julho.
12 de Maio, nos EUA
Doutrina Bush
Respondendo a mais um passo do líder soviético — a retirada unilateral de 500 ogivas nucleares tácticas na Europa — o Presidente George Bush anuncia que a política de "contenção do expansionismo soviético" está ultrapassada e deve dar lugar à "integração da União Soviética na comunidade das Nações”
3 de Junho, na China
Massacre em Tiananmen
Na noite de 3 para 4 de Junho, o Exército carrega sobre os estudantes concentrados na Praça Tiananmen, em Pequim, provocando centenas ou milhares de mortos. O movimento democrático começara em 17 de Abril. Deng Xiaoping optava por uma alternativa brutal à perestroika de Gorbatchov: reformas económicas capitalistas, sim, reformas políticas democráticas, não.
4 de Junho, na Polónia
Solidariedade ganha eleições
Nas legislativas polacas, a 4 e 18 de Junho, o Solidariedade esmaga os comunistas. Chega-se a um compromisso: o general (comunista) Jaruzelski será eleito Presidente e o católico Tadeuzs Mazowiecki torna-se, a 19 de Agosto, no primeiro chefe de Governo não comunista do Leste europeu.
28 de Junho, na Jugoslávia
No campo dos melros
Começa a segunda morte de Tito, a emergência dos nacionalismos que desagregará a Jugoslávia. No Campo dos Melros, no Kosovo, local onde os turcos derrotaram os sérvios em 1389, perto de um milhão de pessoas aclamam o novo líder sérvio: “Slobo! Slobo!“ Slobodan Milosevic fora eleito Presidente sérvio em 1987. O presidente da Liga dos Comunistas, Stipe Suvar, acusa-o de nacionalismo e “totalitarismo populista“. Em Setembro, o Parlamento esloveno inscreve na sua Constituição o direito à secessão e o multipartidarismo. Em Outubro, após violentas manifestações no Kosovo (24 mortos), Belgrado cancela a autonomia da região. No essencial, a Jugoslávia permanecerá de fora da revolução democrática de 89: para implodir, a partir de 1991, sob o fogo cruzado de virulentos nacionalismos.
16 de Agosto, fronteira austro-húngara
A grande evasão
Milhares de jovens da República Democrática Alemã (RDA, comunista) resolvem passar "férias" no Ocidente, através da Hungria. Em dois meses fogem 200 mil leste-alemães, o que vai desestabilizar a RDA.
23 Agosto, no Báltico
A "cadeia humana"
Os nacionalistas baltas protestam contra o domínio soviético através de uma "cadeia humana" de quase mil quilómetros. No Cáucaso, as movimentações nacionalistas, sobretudo na Arménia e na Geórgia, levam a sangrentos conflitos interétnicos.
10 Outubro, na Hungria
PC dissolve-se
Os comunistas húngaros abdicam do marxismo-leninismo e fundam um Partido Socialista. Era o primeiro exemplo da "social-democratização" que a seguir acontecerá no Leste. A 23 de Outubro, o parlamento proclama a "IV República" húngara, que substitui a "democracia popular" instaurada em 1949.
29 de Outubro
Doutrina Sinatra
Em visita à Finlândia (25/27 de Outubro), Gorbatchov manifesta a intenção de não intervir no Leste europeu, abandonando a “doutrina Brejnev”, que justificava a intervenção soviética nos países "em que o socialismo estivesse em perigo". A 29, o porta-voz, Guennadi Guerassimov, dá-lhe um nome: "Temos agora a doutrina Sinatra: 'My way'". A mensagem foi entendida.
9 de Novembro, em Berlim
O Muro cai
O líder comunista, Erich Honecker demite-se a 18 de Novembro. O sucessor, Egor Krenz, perde o controlo da situação. Dia 4, um milhão de manifestantes em Berlim. Dia 6, meio milhão em Leipzig. A 9, anuncia-se que a fronteira com Berlim Ocidental será aberta no dia seguinte. À meia-noite, há uma pequena multidão junto ao Muro. Centenas de pessoas começam a escalar e a demolir o Muro. Passam a gritar: "Nós somos um só povo".
12 de Novembro
Segue-se o Partido Comunista Italiano
O maior partido comunista da Europa Ocidental anuncia a ruptura com o marxismo-leninismo a 12 de Novembro de 1989, dois dias após a queda do Muro. Em 1991, adoptará o nome de Partido Democrático da Esquerda e adere à Internacional Socialista.
17 Novembro, na Checoslováquia
Revolução de Veludo
Após a invasão soviética de 1968 o sistema checo tornou-se um dos mais repressivos e petrificados do Leste. Com a queda do Muro de Berlim, e perante a complacência de Moscovo, o regime cai em poucos dias. A 17, manifestações estudantis eclodem em Praga. Greve geral a 27. A 29, o parlamento revê a Constituição e aprova um Governo de maioria não comunista. A 29 de Dezembro, o “dissidente” Vaclav Havel é eleito Presidente.
18 Novembro, em Paris
Jantar no Eliseu
A precipitação da queda do Muro apanha desprevenidos os líderes europeus ocidentais. A 18 de Novembro, Mitterrand organiza uma cimeira-jantar no Eliseu com os primeiros-ministros da CEE e Jacques Delors para discutir a situação. Todos dizem: "É preciso ajudar Gorbatchov". Thatcher teme a Alemanha e adverte: "Não se toca em fronteiras, senão é a balcanização". A 28, o chanceler alemão, Helmut Kohl, sem informar os aliados, anuncia um plano de reunificação alemã.
2 e 3 Dezembro, em Malta
Acabou mesmo a Guerra Fria
A bordo do paquete Maxim Gorky, ancorado em Malta, Bush e Gorbatchov anunciam o começo de uma "nova era" . "A mudança é espectacular [...] e enterra todas as doutrinas anteriores", disse Bush, homenageando Gorby. Este acentuou: "O mundo deixa uma época de guerra fria [...] é apenas o princípio dum longo caminho para uma longa paz".
11 Dezembro, na Bulgária
Golpe palaciano
Dominós: perestroika russa encoraja os polacos; a Polónia acelera a Hungria; a Hungria ajuda a dissolver a RDA; a queda da RDA arrasta a Checoslováquia e a Bulgária e, por outra via, a Roménia. A 10 de Novembro, o líder comunista búlgaro, Todor Jivkov, é forçado a demitir-se, após um “golpe palaciano”. O PC transforma-se em Partido Socialista.
25 Dezembro, na Roménia
Ceausescu fuzilado
A Roménia era o "satélite" mais autónomo de Moscovo. Mas o "conducator" Nicolae Ceausescu, acolitado por sua mulher Elena e seu filho Nicu, criara um reino delirante. A 16 de Dezembro, há motins em Timisoara. A "Securitate" abre fogo. Uma Frente de Salvação Nacional, liderada por Ion Iliescu, toma o poder. A 25, o casal Ceausescu é fuzilado. As imagens da execução são passadas nas televisões internacionais.
Dezembro, na Time
Gorbatchov, o Homem da década
Na última edição do ano, a revista Time elege Gorbatchov o "Homem da Década". O epílogo de 1989 ainda está longe. A reunificação alemã consuma-se em 1990, ano em que Walesa se torna Presidente da Polónia e Mandela é libertado. E ano ainda da invasão do Kuwait pelo Iraque. A 27 de Março de 91, começa na Eslovénia a primeira guerra jugoslava. A 8 de Dezembro, Boris Ieltsin e os líderes da Ucrânia e Bielorrússia declaram extinta a URSS. Gorby demite-se e sai da história a 25 de Dezembro de 1991. Os EUA emergem como superpotência global.