Festival literário reúne autores lusófonos no Brasil
Intitulado Minha Língua, Minha Pátria, o evento organizado pelo Instituto Eva Herz, da Livraria Cultura, levará autores portugueses a Salvador e São Paulo.
Escritores de vários países lusófonos participam num festival que reunirá expoentes da literatura contemporânea de língua portuguesa a partir desta sexta-feira nas cidades brasileiras de Salvador e São Paulo.
Intitulado Minha Língua, Minha Pátria, o evento organizado pelo Instituto Eva Herz, da Livraria Cultura, contará com a participação de nomes premiados como o moçambicano Mia Couto, o brasileiro Milton Hatoum, o português Bruno Vieira Amaral, e também com a jornalista do PÚBLICO, Joana Gorjão Henriques, autora do livro Racismo em Português — O Lado Esquecido do Colonialismo (com edição em Portugal da Tinta-da-China, do PÚBLICO e da Fundação Manuel dos Santos), e que foi uma das convidadas da última edição da Festa Literária Internacional de Paraty, também no Brasil.
Simone Duarte, curadora do festival (que foi Directora Internacional do PÚBLICO), contou à Lusa que na segunda edição o encontro [que foi organizado com o jornal português na sua primeira edição] procura criar um espaço voltado para troca de experiências e para a exposição dos trabalhos dos autores de língua portuguesa, com autores dos três continentes, aproximando-os dos leitores brasileiros.
"Não existia um festival voltado apenas para escritores de língua portuguesa aberto ao público em geral [no Brasil] e, por isto, tivemos a ideia de fazer Minha Língua, Minha Pátria. Queremos que os brasileiros tenham acesso à moderna produção literária produzida na nossa língua", explicou a curadora.
Para Simone Duarte, apesar dos laços históricos que unem os países lusófonos muito da vasta produção literária ainda passa despercebida no Brasil. Neste sentido, o encontro promovido pela Livraria Cultura será uma oportunidade de dar visibilidade e preencher estas lacunas.
A curadora contou também por que razão o evento terá Salvador como sede dos primeiros debates. "Escolhemos Salvador para começar esta edição do Minha Língua, Minha Pátria já que foi na Bahia onde aconteceu o primeiro contacto da língua portuguesa no Brasil", justificou.
"A partir de 2017 o festival deve ser anual [a primeira edição aconteceu em 2015]. No futuro queremos agregar mais escritores - principalmente da África - e que eles participem de actividades em mais cidades brasileiras", acrescentou a curadora.
Um dos escritores portugueses que estarão em São Paulo é Bruno Vieira Amaral, multipremiado em 2015 com seu romance de estreia As Primeiras Coisas.
O autor disse estar satisfeito por estar no Brasil pela primeira vez para falar sobre seu trabalho, tendo em conta que onde começará a ser editado pela Companhia das Letras em 2018. Sobre o facto de o encontro reunir apenas escritores de língua portuguesa, Bruno Vieira Amaral destacou a importância de fortalecer os laços de intercâmbio cultural.
"Os laços entre os países de língua portuguesa ainda são muito fracos, são muito ténues. A circulação e o conhecimento dos autores nestes espaços continua sendo muito pobre. Estas iniciativas e debates podem contribuir para mudar um pouco isto. Não se compreende esse afastamento tão grande", afirmou.
Bruno Vieira Amaral também lembrou que o festival é um espaço de contacto com outros autores, o que também o enriquece na medida em que "usando a mesma língua autores de outros países trazem por vezes uma forma de olhar diferente. Talvez seja essa a maior riqueza deste tipo de encontro".
Também participarão nos debates a jornalista do PÚBLICO, Joana Gorjão Henriques, bem como Isabela Figueiredo, Afonso Cruz, Samuel Titan, Patrícia Portela, Ana Margarida de Carvalho, Paulo Werneck, José Bernardes, Paulo Roberto Pires, Isabel Lucas e os gémeos Fábio Moon e Gabriel Bá e Adriana Calcanhotto.
Organizado em duas cidades, o evento é gratuito e acontece entre esta sexta-feira e domingo em Salvador e entre os dias 23 e 26 de Novembro em São Paulo.
O público interessado também poderá acompanhar os debates ao vivo em tempo real na página do Instituto Eva Herz na rede social Facebook.