Stephen Hawking, Guterres e a promessa de “gente incrível” abrem a Web Summit
Para a segunda edição do evento foram vendidos 59 mil bilhetes. António Costa “orgulhoso” acabou sem gravata.
“Vão conhecer gente incrível”. O rebaptizado Altice Arena, em Lisboa, estava cheio há bem mais de uma hora com uma plateia de empreendedores, investidores, executivos e jornalistas quando o co-fundador e presidente da Web Summit, Paddy Cosgrave, subiu ao palco para arrancar o evento que volta este ano a reunir à beira Tejo uma enchente de entusiastas da tecnologia. Começou por elogiar Lisboa e pedir aplausos para Portugal, apresentou a família ao resto do pavilhão, e pediu a cada pessoa da audiência para se levantar e se apresentar aos participantes à volta.
Este é o segundo ano do evento em Lisboa, onde ficará pelo menos para mais uma edição. De acordo com a organização, foram vendidos todos os 59 mil bilhetes disponíveis e a Web Summit está no limite do que as condições de segurança permitem.
A surpresa surgiu alguns minutos depois, quando o físico Stephen Hawking surgiu nos enormes ecrãs para falar sobre o futuro e os riscos da inteligência artificial. “Sou um optimista”, afirmou Hawking, que foi filmado em frente a um quadro de ardósia onde se via uma placa do evento e cuja intervenção não constava do programa. “A inteligência artificial pode funcionar em harmonia connosco. Mas temos de estar a par dos riscos.”
O físico tem sido uma das mais proeminentes vozes a avisar para os potenciais riscos da inteligência artificial. E voltou a sublinhar a importância de reflectir sobre o desenvolvimento desta tecnologia. “Talvez devamos todos parar por um momento, e não apenas fazer com que a inteligência artificial seja bem-sucedida, mas pensar em como a sociedade vai ser beneficiada”. Hawking alertou para a necessidade de incorporar questões éticas no desenvolvimento da tecnologia, um assunto que tem vindo a ser progressivamente alvo de mais atenção.
“Acredito que não há diferença entre o que pode ser alcançado por um ser biológico e o que pode ser alcançado por um computador”, afirmou o cientista, que observou que a tecnologia poderá ser capaz de erradicar problemas como as doenças e a pobreza. Mas ressalvou que os humanos não sabem se, no futuro, vão ser ajudados por um inteligência artificial sofisticada, simplesmente ignorados ou “destruídos por ela”.
Outra das convidadas para a abertura foi a comissária europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager. A conversa com a veterana jornalista de tecnologia Kara Swisher começou de forma invulgar: “Quão fodido está Silicon Valley?”. Vestager, que este ano aplicou uma multa recorde ao Google por abuso de posição dominante, foi mais convencional nas respostas. “Quando alguém cresce, não deve negar a outros a hipótese de os enfrentar”, disse a comissária, reconhecendo que um dos desafios que as autoridades europeias têm pela frente para regular um sector que avança em ritmo acelerado é serem “rápidas o suficiente e ter as ferramentas certas”. Vestager abordou também um tema quente: o impacto das redes sociais na formação de opinião e nas intenções de voto. “Temos de reconquistar a nossa democracia, não a podemos deixar para o Facebook ou o Snapchat”, observou.
Já António Guterres apresentou-se à audiência sem gravata e como “um engenheiro que, por ora, é secretário-geral das Nações Unidas”. Argumentou que “o importante é combinar a inovação na tecnologia com a inovação nas políticas públicas” e apontou dois problemas globais: “É claro que o nosso mundo tem avançado para melhor. Mas há danos colaterais deste enorme crescimento: alterações climáticas e desigualdade crescente”. Frente a vários empreendedores em busca de capital de risco e a investidores com dinheiro para gastar, Guterres defendeu ser possível “ao mesmo tempo fazer dinheiro e agir bem”. Arrancou um aplauso.
Para o final ficaram António Costa e o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina. O primeiro-ministro, cujo Governo tem dado um forte apoio ao evento desde que este se mudou de Dublin para a capital portuguesa, disse ver com “orgulho” a “criatividade e a energia” do ecossistema de startups portuguesas. No final, tirou a gravata e pô-la ao pescoço de Cosgrave. Começava oficialmente a Web Summit.