Antigo vice-presidente da Argentina detido por suspeita de enriquecimento ilícito
Partido da ex-Presidente Cristina Kirchner acusa actual Presidente de usar a justiça para intimidar a oposição.
Amado Boudou, 55 anos, antigo vice-presidente da Argentina e ministro da Economia e Finanças no tempo da presidência de Cristina Kirchner, foi detido na sexta-feira, por suspeita de enriquecimento ilícito e corrupção. É o segundo político de topo da administração Fernandez a contas com a justiça. A 25 de Outubro, o antigo ministro do Planeamento, Julio de Vido, foi igualmente detido. A própria ex-Presidente enfrenta suspeitas de envolvimento em crimes, mas não pode ser detida, visto que usufrui de imunidade por ter sido eleita para o Senado.
A polícia deteve também um alegado colaborador e sócio de Boudou, um homem chamado José Maria Nuñez Carmona. A detenção ocorreu num dos bairros considerados ricos da capital argentina, Buenos Aires, recaindo sobre Carmona as suspeitas de extorsão e lavagem de dinheiro.
O advogado de defesa de Boudou, visto nos meios de comunicação locais a ser acompanhado por agentes policiais que o algemaram, considera a detenção "arbitrária", censurando a actuação da justiça.
"Nunca tivemos problemas e, de repente, da noite para o dia, entrega-se uma queixa e há uma ordem de detenção", descreveu em tom de censura o causídico, Eduardo Duranona, em declarações a um canal de TV.
As autoridades dizem que Boudou, economista de formação, enfrenta neste momento indícios de três crimes de enriquecimento ilícito por factos que remontam a 2009, ano em que foi promovido a ministro, deixando para trás o cargo de presidente do organismo da segurança social argentina.
Dois anos depois, Boudou chegou a vice-presidente, depois da reeleição da Presidente Fernandez, nesse ano, para mais um mandato. Porém, o economista manteve-se longe dos holofotes durante praticamente todo o mandato de quatro anos, período durante o qual foram surgindo e crescendo as suspeitas de que estaria envolvido em crimes de corrupção.
Segundo o mandado de detenção, relevado pela imprensa em Buenos Aires e agências internacionais, Boudou e o sócio Carmona "desenvolveram um esquema criminal desde Agosto de 2009, pelo menos, quando Boudou assumiu o cargo de ministro da Economia e das Finanças, e que durou até Dezembro de 2015, quando deixou a vice-presidência".
Cristina Kirchner, por seu lado, foi indiciada pela justiça, juntamente com um ex-secretário de Estado, Jose Lopez, por alegadamente terem desfalcado os cofres estatais de verbas que se destinariam a projectos rodoviários. Lopez foi mesmo detido, em Junho de 2016, quando guardava sacos cheios de dinheiro num convento. Indiciada pelos crimes de corrupção e fraude financeira em quatro processos judiciais distintos, a ex-Presidente acabou por conseguir um lugar no Senado, o que lhe garante imunidade.
A mais recente vaga de detenções ocorre apenas alguns dias depois da vitória esmagadora da coligação Cambiemos (Mudemos, em castelhano), liderado pelo actual Presidente do país, Mauricio Macri, nas eleições legislativas de 22 de Outubro. O partido de Kirchner, a Unidade Cidadã, acusa Macri de estar a usar o sistema judicial para perseguir opositores políticos, colocando assim a democracia argentina "em risco".
"A detenção do ex-vice-presidente não tem nada a ver com o caso que está em investigação. É uma manobra que serve claramente para intimidar e disciplinar líderes sindicais e a oposição política", afirma o partido de Kirchner, que perfilhou nos seus mandatos o peronismo.