Os EUA e Hillary Clinton não eram o único alvo dos hackers russos

Lista divulgada pela Associated Press inclui o Presidente ucraniano, opositores do Kremlin, jornalistas e as Pussy Riot.

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Reuters/KACPER PEMPEL

Para além de procurar garantir a derrota da candidata democrata às eleições norte-americanas, os hackers russos tinham paralelamente uma vasta lista de alvos a enfraquecer através de ataques digitais, sempre em defesa dos interesses do Kremlin, revela a Associated Press.

A lista é apresentada como a prova da ligação dos hackers ao Governo russo, expondo uma operação com anos de planeamento e de tentativas de invasão a emails de mais de 4700 utilizadores do Gmail, desde o representante do Papa em Moscovo até à banda de punk rock feminista Pussy Riot. De acordo com a empresa norte-americana de cibersegurança SecureWorks, os ataques tinham mais de uma centena de alvos.

No total foram encontrados cerca de 20 mil endereços de conteúdo malicioso numa base de dados recolhida pela empresa, com dezenas de emails com vírus.

À data das eleições norte-americanas a empresa de cibersegurança confirmou que os ataques chegaram da Rússia, mas não forneceu detalhes sobre a investigação. Agora, os dados partilhados pela SecureWorks funcionam como uma prova pública.

Os pormenores vão até à hora de produção do software malicioso: 95% dos links foram gerados entre as 9h e as 18h de Moscovo, de segunda a sexta-feira.

A novidade que se destaca destas mais recentes revelações é que os alvos não eram apenas os EUA, mas também o Presidente ucraniano Petro Poroshenko e o seu filho, Alexei, actuais e antigos ministros, entre os quais o ministro dos Negócios Estrangeiros, Arsen Avakov, e dezenas de constitucionalistas ucranianos. Nem russo escaparam. Desde deputados a dezenas de jornalistas que questionem ou se oponham ao Governo russo.

A base de dados foi interceptada depois de um grupo de hackers conhecidos como Fancy Baer ter acidentalmente exposto parte de um ataque de phishing na Internet. A lista revelou uma linha directa entre os hackers e os leaks que prejudicaram a campanha de Hillary a dias da eleição, nomeadamente os e-mails privados do director da campanha de Clinton, John Podesta, que protagonizou um boato que o envolvia numa rede de tráfico e abuso sexual de crianças. A história falsa em que assentou a teoria da conspiração do chamado Pizzagate, criada e divulgada pela extrema-direita foi posteriormente desmentida pelo gestor do site Infowars, Alex Jones, apoiante de Donald Trump.

As novas revelações surgem dias depois de George Papadopoulos assumir ter mentido às autoridades sobre os contactos que manteve com a Rússia. Para além do conselheiro para a política externa da campanha de Trump, também Paul Manafort e Rick Gates, ex-director e ex-subdirector de campanha do Presidente norte-americano, foram indiciados por interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016.

A lista recolhida pela empresa de cibersegurança concentra-se no período entre Maio de 2015 e Maio de 2016 e tem como alvos principais os Estados Unidos, a Ucrânia, a Rússia, a Geórgia e a Síria. O antigo secretário de Estado norte-americano John Kerry, o antigo secretário de Estado e depois comandante da NATO Colin Poweel, o general da Força Aérea Philip Breedlove e o general Wesley Clark constavam da lista de alvos. Focada especialmente nos democratas, mais de 130 funcionários, membros da campanha e apoiantes do Partido Democrata foram referenciados. Não obstante, constam também alguns republicanos. 

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