Paióis já estão vazios e Tancos pode passar a campo militar

Exército admite que entre o material roubado e recuperado há uma caixa de munições a mais. Explicação estará na falta de inventariação dessa caixa, diz Rovisco Duarte.

Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio

O Exército terminou esta terça-feira a tarefa de esvaziar os Paióis Nacionais de Tancos (PNT) e de distribuir por três locais os explosivos, munições e artifícios de fogo que ali estavam guardados. Estes estão agora no Estado-Maior da Armada em Marco do Grilo, no Campo de Tiro de Alcochete e no Campo Militar de Santa Margarida. O Plano Tróia 17 envolveu também a Marinha e a Força Aérea, e foram retiradas 1100 toneladas de material de Tancos, espaço que poderá ser transformado, a prazo, num campo militar, como aconteceu com Santa Margarida.

A operação, “delicada e penosa”, como a classificou o chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, foi decidida no rescaldo do roubo de Junho aos paióis de Tancos (e anunciada pelo ministro da Defesa em Julho) e durou todo este mês de Outubro, mas apenas foi revelada nesta segunda-feira à noite por questões de segurança.

Ao meio-dia de hoje, terça-feira, partiu a última coluna com quatro camiões de material militar, que fez o pequeno percurso entre a Unidade de Apoio Geral de Material do Exército (UAGME), na Estrada do Infantado, e o Campo de Tiro de Alcochete, da Força Aérea Portuguesa, do outro lado da estrada. Pouco tempo antes, partira de Tancos uma outra coluna com as últimas peças de material de guerra para os paióis de Santa Margarida. Agora “está tudo inventariado” e guardado com condições de vigilância, garante o CEME.

Apesar de o processo do roubo e do aparecimento do material continuar envolto em dúvidas, o general Rovisco Duarte não parece tê-las. “Tenho a certeza que houve um furto. Não lhe chamemos assalto, chamemos furto”, respondeu aos jornalistas e tendo o cuidado de fazer a distinção já que juridicamente são conceitos e enquadramentos penais diferentes. E como tem essa certeza? “Tenho a certeza com base nos dados das averiguações que estão a ser conduzidas”, respondeu, recusando entrar em pormenores sobre as investigações.

Está “convencido” de que será possível descobrir os autores desse furto. “Se haverá provas… é mais complicado e já não posso garantir. Mas isso não é comigo.” Falta saber, por exemplo, “por que é que foi roubado, se falharam rondas, se falhou a segurança” – e isso é o que está ainda por apurar.

Entre Agosto e Setembro foram instaurados processos disciplinares a três militares (pelo comandante do Regimento de Engenharia 1) e o general Rovisco Duarte diz que não se arrepende de ter exonerado os comandantes das cinco unidades responsáveis pelas rondas rotativas para não haver “entraves” à investigação. Os mesmos comandantes acabaram por ser reintegrados nos cargos apenas duas semanas depois, o que motivou muitas críticas ao CEME. Este desvaloriza e diz estar “seguro” da sua “boa decisão”: “Fui mal compreendido, tenho as costas largas; muita gente criticou, inclusivamente no meio militar. Houve dois tenentes-generais que não confiaram nem acreditaram e decidiram bater com a porta. São ossos do ofício. Hoje voltava a fazer a mesma coisa.”

Usar outros regimentos é “rentabilizar” os espaços

Rovisco Duarte recusa que esta transferência possa ser vista como um reconhecimento de que o Exército não consegue gerir a vigilância do seu equipamento e responde que é antes uma medida de racionalização. "O Exército faz a gestão do seu material sem problemas", disse o CEME numa conferência de imprensa na UAGME.

Porém, Tancos precisava de mais investimento no reforço da segurança e na vigilância, e as Forças Armadas dispõem de outros espaços com condições. "Já que pagamos, podemos usar o espaço sobrante. É uma questão de rentabilização do que existe" em vez de investir em “instalações que estão a ficar devolutas” como Tancos, referiu. Em cada um dos novos espaços, a vigilância do material do Exército caberá ao Exército, especificou. Rovisco Duarte afirmou que ao longo dos tempos houve "erros estruturais e erros sistémicos" na abordagem que se fazia das instalações do Exército e até das Forças Armadas, defendendo a necessidade de se "mudar o paradigma do funcionamento".

Sobre o futuro de Tancos, Rovisco Duarte disse que os paióis continuarão a ter alguma vigilância para evitar vandalismos, mas a médio prazo será preciso definir o que fazer com o espaço. O CEME defende que poderá passar a ser um “campo militar com comando único”, aproveitando “sinergias” entre vários ramos das Forças Armadas, como já aconteceu com Santa Margarida. 

A caixa de petardos a mais

Entre o material roubado em Junho e recuperado há uma semana num campo abandonado na Chamusca, foi encontrada uma caixa de petardos que não estava na lista inicial dos itens desaparecidos. Todo o material está agora à guarda da Polícia Judiciária Militar em Santa Margarida e as investigações ainda não estão concluídas.

Depois de alguma insistência, Rovisco Duarte explicou apenas que se trata de uma embalagem do tamanho de uma caixa de sapatos. "Há uma ligeira discrepância [entre as listas de material roubado e recuperado] completamente compreensível", defendeu, acrescentando que o paiol roubado tinha "material volante para ser usado na instrução" e que pode ter sido uma caixa de munições cuja saída para um exercício ficou registada mas voltou a entrar sem se actualizar esse registo. “Não é assim tanto material…”, desvalorizou, dizendo mesmo que é uma situação normal. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários