Marcelo não larga os incêndios, açorianos não o largaram a ele

No mercado de Ponta Delgada, o Presidente insistiu que "o Governo tem menos de dois anos para resolver o problema" dos fogos. Depois de uma arruada e de uma entrevista-relâmpago ao Açoriano Oriental, Marcelo vestiu os calções e foi dar um mergulho.

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MIGUEL A.LOPES/LUSA
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“Eu não largo”. Podia ser este o lema da visita aos Açores que o Presidente da República fez entre quarta-feira e sábado. Nem Marcelo Rebelo de Sousa larga o tema que alcandorou a nova prioridade nacional – a floresta e os incêndios -, com tudo o que isso implica em termos políticos, nem os açorianos o largaram a ele. Ao “nosso Presidente” e à memória dos incêndios.

Por várias vezes Marcelo foi interpelado sobre o tema, da Terceira a S. Miguel, e este sábado voltou a sê-lo. No mercado da Graça, em Ponta Delgada, um "corisco" (natural da ilha) interpelou-o : "O senhor não se canse de ir lá ter com aquela gente, os nossos amigos que têm sofrido com os fogos". "Não, estou lá sempre, sempre”, garantiu o chefe de Estado, expondo os seus planos.

"Eu agora vou lá daqui a uns dias outra vez, e depois volto lá no final de Novembro. Depois vou passar o Natal, quer em Pedrógão, quer na zona agora ardida - aí provavelmente o fim do ano. Portanto, eu não largo”. E repetiu o que foi dizendo aos jornalistas por estes dias: “O Governo tem menos de dois anos para resolver o problema", “o Governo e este Parlamento já só duram um ano e dez meses, têm de o resolver”.  

No meio da multidão, entre abraços, beijos e selfies, há quem lhe gabe a paciência. “Até que enfim alguém me compreende, sou muito paciente, muito paciente”, responde Marcelo, repetindo três vezes. Talvez para lembrar que a paciência é macia, não é de aço, como os nervos do primeiro-ministro. “Paciência e boa vontade”, insiste a senhora, para gáudio do chefe de Estado.

Marcelo, cujo pequeno almoço foram duas bananas – disse-o a um vendedor de fruta que lhe oferecia, foi petiscando pelas bancas do mercado. Provou queijos da ilha, amanteigados e curados, comeu uma goiaba, um pedaço de ananás com casca e tudo, uma fatia de bolo de chocolate caseiro feito pela mãe de uma escuteira a quem comprou mais duas fatias e duas queijadas.

Beijos e queijos que lhe deram sede e o levaram a mais uma paragem no café Clipper, onde bebeu dois dedos de Lagido, aperitivo típico do Pico, ilha que visitou em Junho, na primeira parte do périplo pelos Açores. “Não há duas sem três”, disse o Presidente ao dono do café por onde já tinha passado. “O senhor promete e cumpre, prometeu voltar e voltou”, responde o comerciante.

Em ritmo de campanha eleitoral, do mercado passou à rua, onde o trânsito parara por sua causa. A Rua de S. João era de sentido único e – lá está -, Marcelo começou a descê-la pela esquerda e depois passou para a direita, fazendo um comentário em voz baixa para o presidente do governo regional que fez Vasco Cordeiro rir a bandeiras despregadas. No meio dos cumprimentos aos automobilistas, apanhados no engarrafamento presidencial, não resiste a entrar numa farmácia e perguntar quantos anos tem. A farmácia, entenda-se, antiga mas bonita e bem conservada, já data de 1800.

Dali ao Açoriano Oriental, o mais antigo jornal regional, foi um saltinho e a entrevista foi curta. Afinal, Marcelo não queria ir embora sem dar o mergulho da praxe. Ainda no mercado o desafiaram e assim foi: passou pelo hotel, vestiu os calções azuis com que atravessou a avenida apenas com os seguranças e juntou-se ao pequeno grupo de "coriscos" que mergulham todos os dias, ao meio-dia. Ali, nas águas calmas das chamadas "Piscinas do Pesqueiro", nadou cerca de cinco minutos. O suficiente para retemperar energia para a parte mais institucional do último dia desta visita: a reunião do Conselho Regional de Concertação Estratégica e a visita à Lagoa das Sete Cidades com as entidades locais, para fazer, por entre o nevoeiro, o balanço desta passagem pelo arquipélago.

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