Jaime Marta Soares quer verbas do OE para uma direcção nacional de bombeiros “autónoma”

Ministro presente no congresso dos bombeiros, salienta necessidade de efectivos mais qualificados.

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Marta Soares é um dos dois candidatos à presidência da liga dos bombeiros LUSA/HUGO DELGADO

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses afirma que os bombeiros precisam de verbas do Orçamento do Estado para se desenvolverem e terem uma direcção nacional, tal como a polícia e as Forças Armadas. E voltou a criticar a reforma saída do relatório da Comissão Técnica Independente ao incêndio em Pedrógão Grande, que matou 64 pessoas em Junho.

A criação de uma direcção nacional de bombeiros “autónoma, independente e com orçamento próprio, como tem a GNR, a PSP, o Exército e a Marinha” foi o pedido avançado por Jaime Marta Soares, na abertura do 43.º Congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses, que arrancou nesta sexta-feira e se prolonga até domingo em Fafe. O novo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, foi um dos presentes e realçou a necessidade de qualificar os bombeiros, dinamizando a Escola Nacional de Bombeiros.

Marta Soares lembrou que tanto a GNR, como a PSP, o Exército e a Marinha têm orçamentos próprios, apoiados pelas “verbas do Orçamento do Estado” que “lhes dão condições de efectivamente se desenvolverem, ao contrário dos bombeiros”.

Marta Soares classificou os bombeiros como o “maior agente de protecção civil” em Portugal, ao serem responsáveis por 98% do socorro realizado no país, por 96% do socorro nos teatros de operações dos incêndios florestais, em termos de equipamentos, de viaturas e de recursos humanos” e por mais de 90% de toda a actividade do INEM, e enalteceu as “mulheres e homens que se dedicam à causa com saber e profissionalismo”.

Embora sem especificar qual o lugar que os bombeiros podem ocupar no âmbito da reforma da protecção civil decidida na reunião de conselho de ministros extraordinária, do último sábado, o ministro Eduardo Cabrita elegeu os bombeiros como uma peça “fundamental” para o funcionamento da protecção civil no território nacional e frisou ser necessário garantir “mais conhecimento, mais especialização e mais formação” a uma participação activa dos bombeiros, através da inserção da Escola Nacional de Bombeiros no quadro das formações profissionais com “graus reconhecidos”.

Na primeira iniciativa pública depois de empossado como ministro no sábado, o responsável pela pasta da Administração Interna acrescentou que a prevenção deve ser uma “actividade permanente”, enraizada não só na cultura dos bombeiros, que além dos incêndios florestais, têm ainda a cargo incêndios urbanos ou industriais, transportes de doentes e acidentes, mas também da população portuguesa, e descreveu que, na reforma estrutural que prevê, as corporações não podem ser apenas “como o guarda-redes a defender penáltis”; precisam também de “reforçar o jogo em todo o campo”.

Concluídos os trabalhos da Comissão Técnica Independente acerca do relatório de Pedrógão Grande, Eduardo Cabrita considerou inadmissível não se passar à prática e “recuperar o que foi destruído”, com uma “efectiva resposta estrutural aos desafios da desertificação do interior, do despovoamento, do ordenamento florestal” por parte de órgãos políticos, autarquias, agentes de protecção civil e de “todos os homens e as mulheres e homens que dedicam o melhor das suas vidas ao serviço do próximo nas mais de quatro centenas de associações humanitárias”.

Presidente da Liga volta a criticar reforma e ANPC

Jaime Marta Soares, que, à margem da sessão solene, enalteceu a predisposição até agora demonstrada pelo novo ministro para dialogar, com “nada a ser feito nas costas dos bombeiros”, criticou o que denominou de tentativa de controlo dos bombeiros por parte da Autoridade Nacional de Protecção Civil. Segundo este dirigente a ANPC é culpada de um “tremendo falhanço” a 15 de Outubro, quando morreram mais de 40 pessoas por causa de uma nova vaga de incêndios. Marta Soares critica o facto de se ter desmobilizado, duas semanas antes, 270 postos de vigia, ao retirar 30 aviões do teatro de operações, 4200 bombeiros da estrutura e 800 viaturas, e diz que a ANPC ficou longe de demonstrar o “cuidado necessário” para com o calor e os ventos que se avizinhavam.

Marta Soares, que discute as eleições para a presidência da Liga dos Bombeiros Portugueses com José Barreira Abrantes, no sábado, mencionou ainda que o relatório da Comissão Técnica Independente provém de uma “equipa extremamente sectária”. E pediu que, depois de um projecto falido, não se arranque para um “outro igual” graças a uma reforma que dá a “prevenção e o comando” ao ICNF, a seu ver o principal responsável pelo incêndio do pinhal de Leiria, propriedade do Estado.

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