Posse e controlo são a imagem de marca de Miguel Cardoso

Com um percurso sustentado, o técnico do Rio Ave tem apresentado na primeira experiência como treinador principal em Portugal um discurso fluido e uma filosofia de jogo positiva

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LUSA/OCTÁVIO PASSOS

Quando a 12 de Junho, dez dias antes de iniciar os trabalhos para a nova temporada, o Rio Ave anunciou o nome do sucessor de Luís Castro, é provável que tenha passado pela cabeça da maioria dos adeptos rioavistas uma pergunta: “Quem?” Último dos 18 treinadores a ser confirmado na I Liga 2017-18, Miguel Cardoso chegou a Vila do Conde como um ilustre desconhecido para o comum dos adeptos, mas precisou de pouco tempo para afastar o cepticismo que havia à sua volta. Com um discurso fluido e uma filosofia de jogo positiva, este licenciado em Desporto e Educação Física na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) começa a deixar a sua marca no futebol português e Jorge Jesus terá hoje em Vila do Conde uma equação difícil de resolver: como é que se tira a bola a este Rio Ave?

Cumpridas nove jornadas da I Liga, já não há equipas que tenham terminado todos os jogos com superioridade na percentagem de posse de bola. O Sporting era, até ao passado domingo, o único clube que tinha conseguido superiorizar-se sobre todos os adversários, mas apesar da goleada contra o D. Chaves (5-1), no final da partida a equipa de Jesus repartiu com os flavienses a posse de bola (50%-50%). Há, no entanto, um clube que se tem notabilizado por gostar de ter a bola nos pés e de controlar o rumo do jogo. Apesar de já ter defrontando Benfica e FC Porto, o Rio Ave teve 58% de posse contra os “dragões” e 52% frente às “águias”. Porém, um jogo atípico forçou os vilacondenses a abdicarem dos seus princípios: contra o Marítimo, a expulsão de Geraldes, aos 24’, obrigou os rioavistas a alterarem a estratégia e a correrem mais tempo atrás da bola (42%). Nas restantes jornadas, apenas o Boavista equilibrou os números com o Rio Ave (54%-46%) - contra Feirense, V. Setúbal, D. Aves, Portimonense e Belenenses os vilacondenses tiveram sempre uma percentagem de posse de bola igual ou superior a 60%.

Posse e controlo não são, no entanto, a única imagem de marca do Rio Ave de Miguel Cardoso. Com a preocupação constante de apresentarem um futebol positivo e de vocação ofensiva, os rioavistas têm sabido também mostrar consistência defensiva: nos 12 jogos realizados nesta época, apenas o FC Porto marcou mais do que um golo ao Rio Ave.

Estas virtudes não podem deixar de ser associadas ao trabalho do melhor aluno do curso de treinadores de IV nível em 2011. Com um percurso sustentado, Miguel Cardoso especializou-se em treino desportivo de futebol na FADEUP e beneficiando de um protocolo da instituição com o FC Porto, em 2006 iniciou a sua formação como treinador, partilhando experiências com Villas-Boas e Vítor Pereira. Tendo como mentores Ilídio Vale e Costa Soares, Cardoso passou depois nove épocas no FC Porto, onde desempenhou tarefas em todos os escalões, até que Carlos Carvalhal o convidou para ser seu adjunto no Belenenses. 

Já como profissional, foi subindo degrau a degrau, trabalhando na sombra de Jorge Costa e Domingos. Seguiu-se há quatro anos um novo e audaz passo na carreira, após ser convidado para coordenador da formação do Shakhtar por Luís Gonçalves, actual director-geral do FC Porto, com quem tinha trabalhado nos portistas. Agora, em Vila do Conde, naquele que assume ser o “mais aliciante” de todos os desafios, começa a deixar a sua assinatura, em nome próprio.

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