Rússia acusa EUA de utilizar Twitter para desencadear ataque nos media russos
A rede social proíbe publicidade do Sputnik e da Russia Today, com base na conclusão do comité de inteligência dos EUA de que os órgãos de informação influenciaram as eleições presidenciais de 2016.
O Twitter deixou de aceitar publicidade de contas da Russia Today (RT) e da Sputnik, que são dois órgãos de informação baseados na Rússia. O anúncio foi feito durante a tarde desta quinta-feira. Todo o dinheiro já ganho com anúncios das duas plataformas (cerca de 1,9 mil milhões de dólares, segundo dados da rede social) será doado para investigações de terceiros que exploram o papel da rede social nas eleições.
“A decisão não foi feita de ânimo-leve”, escreve a empresa. “Baseia-se em trabalho que temos feito em volta das eleições de 2016 e a conclusão do comité de inteligência dos EUA que tanto a RT como o Sputnik tentaram interferir com as eleições em nome do governo russo.”
O Twitter refere-se a uma texto de Janeiro do comité de inteligência norte-americano, que acusa a RT de remover as palavras “Russia Today” (inglês para, A Russia Hoje) do logótipo para “parar de assustar a audiência” internacional e falar sobre Julian Assange (o fundador do portal de denúncias WikiLeaks) de forma favorável além de lhe dar uma plataforma para criticar os Estados Unidos. Já o Sputnik é descrito como uma “plataforma fundada pelo governo que produz conteúdo pro-Kremlin para a rádio e o online em várias línguas e para várias audiências internacionais” que “consistentemente põe o [então] presidente-eleito Donald Trump como fonte de cobertura desfavorável e injusta de órgãos tradicionais dos EUA.”
A directora de comunicações do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, vê a decisão recente como uma “campanha de corporações privadas que mostra um ataque sem precedentes das autoridades norte-americanas nos media”.
A alteração do Twitter surge uma semana antes de o Twitter ter de testemunhar perante a Câmara de Representantes dos Estados Unidos sobre o seu papel na influência russa das eleições presidenciais norte-americanas de 2016. Recentemente, o Senado Norte-Americano iniciou uma nova investigação sobre o impacto de notícias falsas promovidas em redes sociais (como o Twitter e o Facebook) no resultado das eleições presidenciais de 2016.
A RT e o Sputnik também já responderam e descrevem a nova posição do Twitter como “lamentável”. A editora geral do RT, Margarita Simonyan acusa ainda o Twitter de “estar sob o controlo dos serviços de segurança dos EUA”. “Espero que o Jack Dorsey [o director executivo do Twitter] não se esqueça de dizer ao congresso como é que o Twitter propôs à Russia gastar muito dinheiro na campanha eleitoral dos EUA”, avisa Simonyan. Fala de uma alegada proposta do Twitter à RT para dar um ponto de vista “neutral das eleições nos EUA” de forma “ousada” através da tecnologia do Twitter.
Já o Sputnik relembra que o presidente russo, Vladimir Putin, já disse que Moscovo vai responder às restrições do trabalho dos jornalistas russos nos Estados Unidos de forma “rápida e simétrica”.
Apesar das mudanças quanto à política de privacidade, o Twitter assegura que tanto a RT como o Sputnik podem continuar a utilizar a sua plataforma. Após revelações de que o Facebook terá exibido mais de três mil publicações com origem na Rússia e o objectivo de manipular as eleições americanas, o Twitter tem a investigação na sua própria plataforma. Ao cruzar os dados dos responsáveis pela informação falsa a navegar no Facebook descobriu um problema semelhante na sua plataforma. Cerca de 200 contas foram eliminadas do site no seguimento da investigação da empresa.