Um restaurante que é um laboratório que é um recife

Chama-se Under e vai ser o primeiro restaurante da Europa submerso no Atlântico.

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Imagem fornecida pelo gabinete de arquitectura e que mostra uma possível vista do restaurante Under a partir do mar Snohetta

Imagine uma refeição no leito do Atlântico, a cinco metros de profundidade. Pense em peixes a nadar à sua frente (e não apenas cozinhados, no prato). Ou pense em algas e outros seres marinhos a bailarem, embalados pela maré, diante de uma enorme janela acrílica com 11 metros de comprimento por quatro metros de altura. Isto ainda não existe, mas é a promessa do Under, o primeiro restaurante submerso da Europa, que deve abrir daqui a um ano, em Baly, na ponta mais meridional da Noruega.

“Meio submerso no mar, o edifício, com a sua forma monolítica, pousa no leito e fura o espelho de água, como que caído sobre a costa agreste e rugosa” daquela ponta austral da Noruega, a cerca de 400 quilómetros de Oslo, descreve o gabinete Snohetta, conhecido por ter desenhado a famosa e premiada Ópera de Oslo.

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Snohetta

“Em norueguês, Under também pode ser traduzido como ‘wonder’”, acrescentam. Under significa, em inglês, por baixo ou debaixo – debaixo de água, neste caso. E wonder pode ser usado em inglês como substantivo, para maravilha; ou como verbo, para imaginar, pensar, perguntar.

Qual destes significados estaria na cabeça dos promotores do Under? Ninguém sabe, mas provavelmente todos. Até porque o Under vai ser um restaurante que é um aquário sui generis que é um centro de investigação em vida marinha nas horas vagas. Confuso? Então anote mais isto: no futuro, também vai ser um recife. Assim esperam, pelo menos.

As primeiras imagens do gabinete Snohetta saltaram rapidamente para as notícias. Mostram um bloco, feito com paredes de betão armado com um metro de espessura. As linhas direitas do edifício, que se desenvolve em três pisos e terá lotação máxima de 100 pessoas, serão transformadas pela própria Natureza, porque as faces exteriores serão revestidas com areia grossa “que convidará o mexilhão a agarrar-se”.

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Snohetta

“Com o passar dos anos, a comunidade de moluscos vai crescer e tornar-se mais densa, transformando este monólito submerso num coral artificial, que vai desempenhar duas funções: limpar o mar e, ao mesmo tempo, atrair mais vida marinha para as águas purificadas deste sítio.”

Esta simbiose entre Under e o mar não se esgotará no exterior. Nas horas em que o restaurante estiver fechado ao público, parte do edifício funcionará como um centro de investigação em vida marinha.

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Perspectiva aérea sobre a área de implantação do restaurante Snohetta

“Através da sua arquitectura, da ementa e da missão de informar o público sobre a biodiversidade marinha, o Under proporcionará uma experiência subaquática que despertará admiração e alegria, activando todos os sentidos – tanto físicos como intelectuais”, sustentam os promotores.

Baly é uma pequena estância turística a oito horas de comboio da capital norueguesa. É procurada por amantes da natureza, dispondo de um zoo e oferecendo boas condições para quem aprecia observação de aves, por exemplo. O aeroporto de Kristiansand, que permite ligações a Oslo, fica a cerca de 80 quilómetros. Um voo comercial regular demora 45 minutos entre esta cidade e a capital norueguesa.

Uma vez chegado a este ponto remoto do continente europeu, o resto será fácil. Em Baly haverá indicações suficientes para dar com a zona de costa do restaurante. E a partir daí é entrar e disfrutar dos três pisos: a entrada/roupeiro, um bar de champanhe e o restaurante”. O azul e o verde serão as cores dominantes, remetendo para os tons do próprio oceano.

Já a entrada do Under aposta na madeira em carvalho local e não tratada, que “acabará por adquirir tonalidades cinzentas, estabelecendo harmonia com o betão armado”, afirmam os arquitectos. “Num dia de mar revolto, vai poder sentir os salpicos frescos do oceano na cara, quando entrar no restaurante”, prometem ainda.

Passado o primeiro piso, onde fica o roupeiro, o cliente desce em direcção ao bar de champanhe, que “marca a transição entre a linha de costa e o mar”. “Esta transformação física é enfatizada por uma estreita janela em acrílico, que corta o edifício na vertical, até à zona de restauração, no andar imediatamente abaixo do bar de champanhe. Daqui também se poderá observar o leito do Atlântico, onde se situará a principal sala de refeições, que terá duas longas mesas para sentar diversas pessoas e mesas mais pequenas que se distribuirão em frente à grande janela panorâmica virada para o fundo do mar.

Falta dizer que o restaurante vai receber, nas horas em que está encerrado, “equipas de investigação multidisciplinares que estudam biologia marinha e comportamento de peixes". "Os investigadores vão ajudar a optimizar as condições do leito do mar de forma a que o peixe e os moluscos possam crescer e viver ao lado do restaurante”. 

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