Indústria conserveira da sardinha não teme risco de ficar sem matéria-prima

As indústrias conserveiras dizem que não receiam ter falta de sardinha, depois de o Governo indicar que vai discutir a proibição da pesca, em 2018, no Norte e Centro do País. Importações podem vir de Marrocos, França e o Sul de Inglaterra

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Diogo Baptista

"Não há esse risco face aos dados que temos e tendo em conta os cenários de capturas recomendados pelo Conselho Internacional para a Exploração do Mar (CIEM)", no parecer divulgado a 20 de Outubro, disse o presidente da Associação Nacional dos Industriais das Conservas de Peixe (ANICP), Sérgio Real, à agência Lusa.

Além disso, acrescentou, os estudos demonstram que as medidas de gestão da pesca têm vindo a resultar numa melhoria do ‘stock’, que se encontra já num "ciclo ascendente".

Para melhor fundamentar a posição da ANICP, o dirigente e administrador da fábrica Poveira, na Póvoa do Varzim, explicou que não está em causa uma proibição total durante todo o ano nas zonas Norte e Centro, mas sim "em algumas áreas dessas regiões onde existem maternidades e onde é necessário não pescar para se voltar aos valores anteriores da biomassa". "É o que defendemos há muito tempo", sublinhou.

O presidente da ANICP adiantou que Portugal deverá propor à Comissão Europeia um limite de capturas de 14 mil toneladas para 2018, o que, a concretizar-se, "é uma redução e não uma paragem da pesca da sardinha".

Se for este o limite de capturas "não é suficiente para a indústria, que tem diversificado a sua produção com outras espécies", afirmou o responsável, considerando que essas "limitações de pesca prejudicam seriamente todo o sector".

As exportações de conservas de atum já ultrapassam as de sardinha.

Reconhecendo a necessidade de se adoptarem medidas de sustentabilidade, Sérgio Real disse, contudo, que acompanha o assunto com "preocupação" mas também com "esperança", tendo em conta os indicadores que apontam para uma melhoria do ‘stock' de sardinha.

O responsável admitiu, no entanto, que, nos últimos anos, a indústria conserveira tem vindo a abastecer-se de sardinha em Marrocos, França e no sul de Inglaterra para satisfazer as necessidades da produção.

Contudo, esclareceu, "as indústrias não estão a pensar deslocalizar-se para outras zonas do mundo", ainda que reconheça que possam ter a necessidade de fazer investimentos em outros países, de modo a acondicionar a matéria-prima que aí adquirem.

A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, disse hoje,à Lusa, que a pesca da sardinha será proibida em zonas da região Centro e Norte, por serem "áreas importantes para a reprodução da espécie", estando a decorrer reuniões com as comunidades piscatórias para, juntamente com o IPMA, delimitar essas zonas.

No dia 20 de Outubro, o Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES) recomendou a suspensão da pesca da sardinha, em Portugal e Espanha, em 2018.

No dia seguinte, a Comissão Europeia informou que não proíbe a pesca da sardinha, mas recomenda às autoridades portuguesas que encarem com seriedade as quebras nos 'stocks' da espécie devidas à sobrepesca e ao aumento da poluição.

Um porta-voz do executivo comunitário reiterou que Bruxelas está consciente da importância socioeconómica e cultural da pesca em Portugal, razão pela qual "está muito preocupada com o estado potencialmente precário da pesca de sardinha ibérica", salientando que "as autoridades têm que levar isto muito a sério".

Na quinta-feira, Portugal e Espanha reúnem-se para discutir, segundo a ministra do Mar, o "plano de gestão de uma forma geral, não necessariamente as áreas em Portugal em que não vai haver capturas [de sardinha]" e os "valores das capturas que vão ser propostos em conjunto à União Europeia".