Kurz começa negociações com extrema-direita

Líder conservador nota semelhanças em matéria de política fiscal e controlo da imigração

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Kurz, líder de um partido conservador renovado, anunciou a abertura de negocições com a extrema-direita para a coligçaão de Governo CHRISTIAN BRUNA/EPA

Sem surpresas, o candidato mais votado nas eleições austríacas, Sebastian Kurz, anunciou ter convidado o Partido da Liberdade (FPÖ) para negociações formais para uma coligação de Governo.

Kurz, que durante a campanha foi acusado de plagiar promessas eleitorais da extrema-direita em relação à imigração, foi recebendo conselhos do interior (do Presidente, o ecologista Alexander van der Bellen) e do exterior (da chanceler alemã Angela Merkel) para manter os valores europeus ou mesmo para se aliar antes com os sociais-democratas – algo que é muito improvável porque foi justamente a grande duração da “grande coligação” entre centro-direita e centro-esquerda, liderada no último governo pelo centro-esquerda, que deixou os eleitores descontentes.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de apenas 31 anos, que mudou o partido conservador da Áustria (ÖVP) personalizando-o (nas eleições apareceu como “Lista Sebastian Kurz"), apresentando uma posição muito dura em relação à imigração, típica da extrema-direita. Ao contrário do que tem acontecido noutros países quando os partidos do centro começam a adoptar propostas da direita radical – os eleitores preferem votar no original – Kurz conseguiu ganhar votos com estas ideias.

O ÖVP obteve 31,5%, seguido do Partido Social Democrata (SPÖ), com 26,9%, e do FPÖ, com 20%.

Também o FPÖ mudou. O partido deixou a sua posição antieuropeísta – na sequência do referendo ao "Brexit" no Reino Unido, os extremistas ainda exploraram a ideia de um referendo na Áustria. Mas recuaram por não encontrar grande eco na opinião pública.

O Presidente austríaco diz que vai analisar cuidadosamente os elementos do próximo governo e a sua política.

O responsável da comunidade judaica de Viena, Oskar Deutsch, já pediu que o partido, que foi fundado por um antigo oficial das SS nazis, fosse excluído do executivo. O FPÖ, abertamente anti-islão, vai fazendo insinuações anti-semitas, embora depois as negue. “Mas eu sou o presidente de uma comunidade muito pequena”, disse Deutsch – de cerca de 7 mil judeus. “Não creio que o Estado da Áustria me ouça.” 

A Áustria já teve um governo com a extrema-direita, em 2000-2005. Na altura, os parceiros europeus decidiram sanções contra o país. Mas numa Europa tão diferente, com governos como o da Hungria, criticado por não respeitar liberdades fundamentais como de imprensa e dificultar o trabalho de associações da sociedade civil, não se espera que a presença do FPÖ provoque mais do que algumas expressões de preocupação. 

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