Todos os anos, Portugal falece. Todos os anos, Portugal renasce. E é deste jeito ciclicamente moribundo que Portugal existe — ou melhor, que vai existindo (querido gerúndio que diz tanto de nós — é cá, mais do que em qualquer outra terra do globo, que se vai existindo, que se vai andando, que se vai fazendo, até morrendo). Não é, portanto, de estranhar, que Portugal tenha sido (vá sendo) vítima desta doença prolongada.
A missa de corpo presente terá (vai tendo) lugar em todas as igrejas do território, no entanto, de nada irá valer se as orações ficarem pelas orações, caindo — como sempre caem — no saco vazio das boas intenções.
Informa-se (vai-se informando) todos os que pretendam prestar as suas homenagens que o façam através dos livros de condolências existentes nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais, com poses tristes, gravatas negras, fotografias fortes, olhos vermelhos, palavras mecânicas, hashtags e soluções fáceis para combater este constante falecimento.
A família enlutada cumpre (vai cumprindo) a dolorosa obrigação repetitiva do luto, chorando agora em directo e sendo esquecida depois. E é esquecendo que o país se repete.
Fica a saudade. Vai ficando.