Com amor à terra e paixão gastronómica
Com saber e experiência acumulados, Mafalda e Gonçalo regressaram à base com o propósito de dar a Vila Real um projecto gastronómico apaixonante e com novidade. Ao serviço cuidado e preços contidos, juntam as receitas de sempre e uma cozinha moderna como ingredientes fundamentais.
Com o propósito declarado de “apaixonar os vila-realenses e ser cartão-de-visita para todos os que visitam a cidade”, o restaurante Villas abriu portas na capital transmontana logo no início deste ano. Para desencadear e alimentar a chispa dessa paixão, a nova casa avançava com uma cozinha esmerada, de ares modernos, bem apresentada e com base nos produtos e tradições da região, e uma dupla de profissionais com escola e reputação construída nos restaurantes de Rui Paula.
Também “com um serviço cuidado e com preços convidativos e adaptados à realidade económica da região”, Mafalda Meireles e Gonçalo Pinto lançaram-se, então, na aventura de dar a Vila Real um restaurante distinto e novo. E não só por se instalar na zona nova da cidade.
Além do serviço mais elegante e cuidado e da cozinha de base técnica e apresentação apurada, o espaço propõe um horário contínuo, vocacionado para refeições ligeiras, um petisco ou uma bebida descontraída a qualquer hora do dia.
O ambiente relaxado e de desfrute tem também apoio numa espécie de átrio ou esplanada exterior (em espaço coberto) com cadeirões e mesas baixas. Há também uma área infantil, onde as crianças se podem entreter enquanto os adultos se concentram nos prazeres gastronómicos.
Mesmo não sendo o prédio e a praça onde se insere — na tal zona nova da cidade — um grande exemplo de modernidade e rigor urbanístico, o ambiente é cuidado, depurado e amplo. A área de sobrelojas onde está o restaurante (com acesso por escadas e rampa na extremidade da construção) é desafogada, com vasta iluminação natural e tectos altos. Num primeiro salão fica cozinha, o balcão em “U” e mais três mesinhas encaixadas na lateral. Tem também a tal área infantil, já encostada à larga abertura em arco que dá acesso à sala, ampla e desafogada e composta para uma meia centena de comensais.
Decoração e mobiliário despojados, em tons claros e luminosos a condizer com o ladrilho do piso e com preocupação de elegante simplicidade. Baixela a condizer, toalhetes e guardanapos em linho.
A carta é igualmente contida, sendo evidente o tal propósito de enquadrar a oferta “com preços convidativos e adaptados à realidade económica da região”, sem prescindir duma cozinha evoluída e apresentação cuidada. O mesmo com a carta de vinhos, concentrada da região e com apenas um verde (Alvarinho) como excepção.
Mais alargada é a lista de “Entradas e Petiscos”, com o tal propósito de funcionamento alargado para além das horas de refeição. Inclui coisas como bitoque, francesinha, tábuas de queijo, enchidos ou presunto, e alheira ou bolinhos de bacalhau (doses entre 3 e 9,50€) e, nos pratos confeccionados, a quantidade é de verdadeira refeição.
Para os fins-de-semana há ainda os “Especiais”, com paella de mariscos (10€), ao sábado, e cabrito assado ou leitão (13,50€), ao domingo, enquanto durante a semana é serviço um “Almoço executivo” à base do receituário tradicional (9,50€).
Como era domingo, pudemos saborear o cabrito, na melhor tradição dos assados no forno, com batata a preceito, grelos salteados, carnes e sabores bem trabalhados. Foi ao jantar e, por isso, teve que voltar ao forno e reduziram-se as gorduras, compensadas por um molho em redução que dava o tom criativo ao empratamento. Mesmo assim, sem perder o lado rústico e tradicional que está na identidade do prato.
Para entradas, as opções tinham recaído no “Tártaro de salmão e robalo” (8,50€), “Choco frito com maionese” (7,50€) e o “Terra-Mar” com cremoso de batata, camarão e cogumelos (9€), que bem deram conta daquele tipo de cozinha diferenciada que o Villas se propunha oferecer aos vila-realenses.
Com adolescentes à mesa, os pedacinhos de choco com polme, crocantes e escorridos, foram avidamente devorados na envolvência com a maionese fresca de rasto cítrico. Um petisco, de facto, delicioso. No tártaro, com cuidada apresentação, destacava-se o rigor do corte — tanto nas carnes como no pimento vermelho e cebola roxa —, a par do equilíbrio cítrico e um distintivo picante fresco com memórias de África. Belo prato e em quantidade bem generosa. Também no “Terra-Mar” as gambas impecavelmente grelhadas tinham o sabor reforçado pelo (mesmo?) molho levemente picante. Cogumelos salteados, empratamento igualmente elegante e afinado cremoso de batata, talvez mesmo em dose exagerada e a prejudicar o equilíbrio do prato.
A lista de entradas propõe também “Gambas com azeite e limão” (9€), “Carpaccio de polvo” (6,50€) ou “Vitela com vinagrete de mostarda e telha de Parmesão (6,50€), que, pelo que se viu, são também interessantes propostas para uma refeição mais aligeirada.
Nos peixes, a escolha recaiu sobre o “Polvo à lagareiro” (13,50€), na receita tradicional de execução rigorosa e apresentação cuidada. Batata a murro, grelos salteados, tomate e pimento mini assados e ¼ de ovo cozido. A carta propõe também “Robalo com risotto de lima” (13,50), “Bacalhau com broa” (13€), “Caril de gambas com arroz de coco, chutney de tomate e passas” (13€) e um “arroz de peixe” (25€/2pax).
Para as carnes, a carta inclui “Lombinho de vitela com arroz de cogumelos e queijo serra” (13,50€), “Carré de cordeiro com couscous” (13,50€) ou “Perna de pato com risotto de cogumelos” (13€). Provou-se a “Codorniz salteada, com puré de castanha e alho francês” (12,50€), onde se destacou a qualidade e afinação do puré.
Também nas sobremesas, doses de conforto e de cuidada apresentação. Convenceu o “Creme brulée de chocolate branco e framboesas” (4€), tendo sido provado também o “Cheesecake de lima com gelado de morango” (3,50€) e a “Sopa de frutos vermelhos com gelado de baunilha” (3,50€), igualmente a demonstrar saber e arte. Nesta sociedade de sabores que quer meter paixão gastronómica nos hábitos dos vila-realenses, Mafalda domina as artes da sala, enquanto Gonçalo aplica a sua mestria na cozinha. Assim começaram no DOC de Rui Paula, e depois também no DOP, no Porto, no Brasil e em Angola, onde acompanharam o chef agora estrelado no arranque dos novos projectos.
A paixão gastronómica e o amor à terra trouxe-os de volta a casa, com o desafio de serem profetas em terra própria. As bases são sólidas, o projecto está lançado e com as cautelas e a sensatez necessárias para o fazer crescer em terreno árido. Assim queiram (e saibam) os seus conterrâneos partilhar a paixão gastronómica por um conceito que traz novidade e acrescenta qualidade à cidade e à região.