Por vezes é preciso parar

Aqueles que fazem a pausa-análise percebem que toda a sua vida, até àquele dia, foi passada caminhando pelos passos dos outros e pelas vontades dos outros. Percebem que aquela vida não foi (na sua maioria) escolhida por eles mas por uma sociedade que os rodeia

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Jon Flobrant/Unsplash

Há um momento na vida em que temos de parar. Um momento em que temos de largar todos os companheiros de estrada, libertarmo-nos de todos pesos e amarras, sentar calmamente e analisar a nossa vida e a nós próprios.

Desde muito cedo que seguimos caminhos já trilhados por outros, caminhos pré-definidos. Os caminhos da nossa vida encontram-se traçados, praticamente, desde o nascimento. Quatro meses após abrir os olhos para o mundo e a maior parte de nós já entrou na rotina. Começamos pelo berçário, infantário, pré-escola, primeiro, segundo e terceiro ciclos, ensino secundário e, se a tanto nos chegar a vontade, a universidade. Rotinas pré-definidas desde o início. Pelo meio surgirão alguns namorados e, quando a idade for aquela que é considerada adequada, surgirá um namorado que permanecerá na nossa vida mais tempo do que o habitual e seguiremos o caminho natural que é o casamento. A seu tempo surgirão a casa, os filhos, o carro, quem sabe até o cão. A completar este quadro está um emprego que, grande parte das vezes, é rotineiro. Um emprego e uma vida que nos fazem contar os dias que medeiam entre a segunda e a sexta-feira, os dias para o próximo feriado, os dias para as próximas férias, ou os dias para ser realmente feliz.

E, um dia, acordamos e pensamos que a vida não tem sido mais que uma vagarosa sucessão de dias: dias que decorrem lentamente à espera de um “ser feliz” que não acontece. Percebemos que a vida se está a tornar rapidamente insípida e sem cor. Percebemos que não sabemos bem quem somos — nem quem fomos. Não sabemos para onde vamos. E é nesse momento em que acordamos para a realidade que percebemos que parar é essencial. Parar para pensar, parar para analisar, parar para fazer o balanço do que tem sido a nossa vida, parar para nos encontrarmos ou, quem sabe, reencontrarmo-nos.

Algumas pessoas percebem essa necessidade à medida que vão atingido a maturidade. Outros há, porém, que nunca irão dar esse espaço para parar e, como tal, nunca irão dar espaço para encontrar o seu verdadeiro eu.

Aqueles que fazem a pausa-análise percebem que toda a sua vida, até àquele dia, foi passada caminhando pelos passos dos outros e pelas vontades dos outros. Percebem que aquela vida não foi (na sua maioria) escolhida por eles mas por uma sociedade que os rodeia. E é nessa tomada de consciência que muitas vezes as pessoas param e atiram uma vida de segurança pela janela, mudando radicalmente a sua existência. Mudam de emprego, divorciam-se, mudam de cidade ou até de país. Criam grandes alterações na sua vida, a nível pessoal, profissional ou a todos os níveis. Por isso a sociedade das regras, a sociedade dos caminhos trilhados e seguros considera, muitas vezes, que aquela pessoa enlouqueceu. Só a loucura poderia explicar esse acto de audácia e coragem! E poucos percebem que aquela pessoa não enlouqueceu. Poucos percebem que ela apenas decidiu parar (porque sentiu essa imperativa necessidade), para pensar e analisar a sua vida. E foi precisamente nesse momento que percebeu que não estava a viver a sua vida mas a vida que outros tinham pensado para ela. E revoltou-se contra esta situação. Decidiu oferecer-se tempo para pensar e tomar as atitudes necessárias a fim de se soltar dos pesos e amarras que lhe pesavam e começar a trabalhar, todos os dias, para ser feliz.

Tomada esta atitude, percebe-se que se adquiriu tempo e vontade para observar os caminhos que se quer seguir, as encruzilhadas que se poderá encontrar. Sabe-se que a vida foi tomada nas próprias mãos. A pessoa percebe que já não vive de acordo com as regras de uma sociedade bacoca mas de acordo com as suas próprias regras. Trilha caminhos desconhecidos. Só o poder de tomar esta decisão já lhe traz calma e felicidade. É serena. Não sabe se é feliz a 100% mas sabe que trabalha todos os dias para isso. Não se deixa cair na rotina e no marasmo.

A essa pessoa, e a todas aquelas que perceberam que é preciso parar, que tiveram a coragem de reflectir nesse momento de pausa e de mudar aquilo que não lhes fazia bem, apresento a minha maior admiração. Merecem a felicidade que possuem nas mãos.

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