Marcelo almoçou com Santana Lopes para falar sobre papel da SCML no sistema financeiro
Encontro estava combinado há semanas e versou sobre o papel da SCML no sistema financeiro, diz o Presidente. Num momento em que o provedor da Santa Casa decide se avança ou não para a corrida à presidência do PSD, o encontro faz lembrar como ambos sempre foram contra o bloco central.
Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes reuniram-se esta segunda-feira à hora do almoço, fora da agenda oficial do Presidente da República mas que ambos viriam a confirmar mais tarde, sublinhando que o encontro estava agendado há semanas.
Em declarações aos jornalistas, no final de uma cerimónia na Academia das Ciências de Lisboa, o chefe de Estado referiu que o encontro com o antigo primeiro-ministro estava previsto "há cerca de um mês" e que não viu razão para o cancelar, disse, citado pela Lusa. Uma expressão idêntica à usada pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) ao Expresso, quando confirmou a reunião.
Questionado se falou com Santana Lopes sobre o PSD, tendo em conta que este é apontado como possível candidato à liderança do partido, o chefe de Estado respondeu: "O objectivo era, obviamente, falar de um tema que tem a ver com o cargo que desempenha, só isso", afirmou, referindo-se ao "papel da Misericórdia no sistema económico e financeiro português".
"Falámos do sistema financeiro português", acrescentou o Presidente da República, já enquanto entrava no carro.
Certo é que a conversa acontece num momento em que Santana Lopes está a ponderar se avança para a candidatura à presidência do PSD contra Rui Rio, e que foi dada como 70% garantida por Luís Marques Mendes no seu comentário dominical na SIC. Como o PÚBLICO avançou nesta segunda-feira, a candidatura é dada como certa por fontes próximas do actual provedor da Santa Casa e aguardará apenas a marcação da data das eleições directas pelo Conselho Nacional, que se realiza esta noite, para avançar.
O Presidente da República e o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa têm uma relação antiga e algumas vezes conflituosa. No início dos anos 80 pertenceram ambos à Nova Esperança, uma ala do PSD que contestava o bloco central. Mas logo nessa altura se distanciaram quando, no Congresso da Figueira da Foz de 1985, Santana Lopes abriu a porta à candidatura de Cavaco Silva à liderança do PSD, contestando a de João Salgueiro preferida por Marcelo Rebelo de Sousa.
O facto de ambos terem sempre contestado o bloco central pode voltar a aproximá-los agora, 22 anos depois, contra a ideia de que Rui Rio defende grandes convergências com o PS.
Estabilidade e alternativa
Pouco depois do encontro, no final de uma cerimónia no Museu João de Deus, em Lisboa - num momento em que ainda não se sabia da reunião com Santana Lopes -, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar os resultados das eleições autárquicas e a situação do PSD, após o anúncio da saída de Pedro Passos Coelho.
Contudo, defendeu que é importante, "e agora mais do que nunca, que a legislatura se cumpra, que o Governo seja forte e mude aquilo que tem de mudar, isto é, tenha um espírito reformista, e que a oposição seja forte e se constitua como alternativa de Governo".
Citado pela Lusa, o chefe de Estado reforçou esta mensagem, afirmando que deve haver, "de um lado, um poder político forte e, do outro lado, uma oposição igualmente forte, em condições de poder substituir, se for essa a vontade dos portugueses, quem está no Governo em 2019".