Sete candidatos disputam a liderança da UNESCO
Começou a votação para suceder à búlgara Irina Bokova. Após o polémico reconhecimento da Palestina como Estado-membro em 2011, há quem espere a primeira liderança árabe.
Os 58 membros do conselho executivo da UNESCO começaram esta segunda-feira a escolher quem sucederá a Irina Bokova, actual directora-geral do organismo das Nações Unidas para a cultura e a educação. Poderá ser uma longa semana de “intensa discussão diplomática”, como escreve a Associated Press, após uma liderança marcada por divergências políticas e algumas tensões financeiras que, em alguns casos, estão ligadas. O processo de votação só terminará quando um candidato vencer por maioria; a expectativa é que haja fumo branco até sexta-feira. A escolha será depois votada na assembleia-geral da ONU a 10 de Novembro.
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Os 58 membros do conselho executivo da UNESCO começaram esta segunda-feira a escolher quem sucederá a Irina Bokova, actual directora-geral do organismo das Nações Unidas para a cultura e a educação. Poderá ser uma longa semana de “intensa discussão diplomática”, como escreve a Associated Press, após uma liderança marcada por divergências políticas e algumas tensões financeiras que, em alguns casos, estão ligadas. O processo de votação só terminará quando um candidato vencer por maioria; a expectativa é que haja fumo branco até sexta-feira. A escolha será depois votada na assembleia-geral da ONU a 10 de Novembro.
Irina Bokova, que disputou recentemente o cargo de secretária-geral da ONU, abandonará a UNESCO depois de dois mandatos (e de oito anos) à frente da agência. Na lista de sete candidatos à sucessão figuram nomes como o do político chinês e actual director-adjunto da UNESCO Qian Tang, a ex-ministra da Cultura francesa Audrey Azoulay, o ex-ministro da Cultura do Azerbaijão Polad Bülbüloglu ou o embaixador vietnamita Pham Sanh Chau. E figuram também a ministra egípcia Moushira Khattab, o ex-ministro da Cultura qatari Hamad bin Abdulaziz Al-Kawari e a diplomata libanesa Vera El Khoury Lacoeuilhe – a UNESCO, recorde-se, nunca teve um líder árabe. Outros dois candidatos, do Iraque e da Guatemala, retiraram entretanto as suas candidaturas.
Ao longo dos últimos dias, os perfis de alguns dos candidatos, ou dos países que representam, têm sido considerados incompatíveis com o cumprimento das missões da UNESCO. Em causa está nomeadamente a conivência da ministra egípcia com actos repressivos praticados pelo Governo do seu país, denunciada por organizações locais de defesa dos direitos humanos. Também o suposto apoio do Qatar a organizações terroristas tem sido apontado como factor que recomenda a exclusão da candidatura do seu ex-ministro da Cultura. Por sua vez, Moushira Khattab lamentou que a França tivesse posto em causa o "acordo tácito" de que não apresentar candidatos a esta organização sediada em Paris. A mesma ministra egípcia antecipou ao semanário francês Le Point que se espera "que o próximo mandato seja atribuído ao mundo árabe”.
Segundo uma fonte diplomática citada pela AFP, “todos os candidatos concordam que devem encontrar um meio para sair [da] politização” que tem dominado a agenda da UNESCO. Um ex-embaixador do organismo disse à agência Reuters, também a coberto de anonimato, que a organização foi vítima de um "sequestro político e financeiro" que a desviou do seu mandato para a transformar "numa caixa de ressonância de conflitos”. “As qualidades de que precisará o meu sucessor?”, perguntou retoricamente Bokova no passado fim-de-semana ao diário francês Le Monde. “Capacidade de angariar fundos e união.”
O mandato de Bokova foi marcado por alguma discórdia e por boicotes de peso. O reconhecimento da Palestina como Estado-membro, em 2011 fez com que Israel e os EUA, que já fora o maior financiador da UNESCO, cortassem o financiamento ao organismo. O Japão seguiu-os em 2016, desta feita pelo que considerou ser uma violação da confiança entre os países-membros – leituras de bastidores viram no gesto um protesto pela inclusão no Registo da Memória do Mundo de documentação relativa ao massacre de Nanquim, que responsabiliza Tóquio por crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial e cuja autenticidade o Japão sempre pôs em causa.