Hebron reconhecida pelo UNESCO como património mundial da Palestina

Decisão enfureceu Israel, cujo embaixador abandonou a reunião da manhã desta sexta-feira. Cidade velha concentra locais de culto fulcrais de muçulmanos e judeus.

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ATEF SAFADI
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A Mesquita de Ibrahim, ou Túmulo dos Patriarcas MUSSA ISSA QAWASMA/Reuters
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A Mesquita de Ibrahim, ou Túmulo dos Patriarcas ATEF SAFADI

A cidade velha de Hebron, na Cisjordânia, foi esta sexta-feira inserida na lista de património mundial e em risco pela Comissão de Património Mundial da UNESCO. A decisão do organismo das Nações Unidas enfureceu Israel, cujo embaixador na UNESCO abandonou mesmo a sessão. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita considera a resolução "uma nódoa moral", e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou-a como "delirante" num vídeo no Facebook. 

Na sessão desta sexta-feira da UNESCO, que teve lugar em Cracóvia, na Polónia, a votação secreta (a pedido de Israel, detalha o Guardian) teve um resultado de 12 a favor e três contra, com a abstenção de seis países, permitindo a declaração de "zona protegida" – a cidade velha de Hebron, na Cisjordânia ocupada, é apenas um dos 33 locais nomeados que a reunião da UNESCO, em curso até dia 12, está a avaliar. Na cidade velha de Hebron, que surge listada no site da Organização para a Educação, Ciência e Cultura da ONU como "Hebron/Al-Khalil Old Town, Palestine", encontra-se por exemplo a Mesquita de Ibrahim ou Túmulo dos Patriarcas, um de vários locais de culto para muçulmanos e judeus situados na área. Ali vivem cerca de 200 mil palestinianos e centenas de colonos israelitas, contabiliza o diário Le Figaro

A ministra palestiniana do Turismo admitiu em comunicado essa vitória geopolítica – o voto e a inclusão de Hebron na listagem de património mundial da UNESCO como um sítio palestiniano "é um desenvolvimento histórico, porque frisa que Hebron" e a mesquita/túmulo "pertencem historicamente ao povo palestiniano". A proposta de inclusão de Hebron na lista proveio da Palestina, que é membro reconhecido da UNESCO desde Outubro de 2011. A UNESCO terá contribuído assim com mais um passo para o reconhecimento da Palestina como um estado independente, apesar da oposição de Israel e dos EUA – e a organização da ONU já tinha plasmado num documento oficial, há dois anos, que o Túmulo dos Patriarcas/Mesquita de Ibrahim é "parte integral da Palestina". A cidade velha de Hebron não é o primeiro sítio palestiniano reconhecido como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO – antecedem-na a Igreja da Natividade e a Rota da Peregrinação, em Belém (2012) e a paisagem cultural de Battir, Jerusalém Sul, formada por olivais e vinhas (2014).

Na sua contestação, Israel defendeu que "a decisão ignora as suas ligações históricas à cidade", como escreve a agência Associated Press. O embaixador israelita Carmel Shama-Hacohen ter-se-á insurgido junto da mesa do presidente da sessão, Jacek Purchla, e depois deixado a sala. A embaixadora dos EUA terá tentado impedir que a proposta palestiniana avançasse, mas sem sucesso, escreve o Guardian. Recentemente, recorda o Figaro, o governo israelita impediu investigadores da UNESCO de visitarem Hebron.

O chefe da Comissão Nacional de Israel para a UNESCO, Naftali Bennett, também ministro da Educação de Israel, criticou igualmente a votação. "As ligações judaicas a Hebron são mais fortes do que a vergonhosa votação da UNESCO", disse, citado pela AP. Esses laços "remontam a milhares de anos", disse ainda, segundo o Guardian. "Hebron, lugar de nascimento do reino do Rei David, e o Túmulo dos Patriarcas, a primeira compra judaica em Israel e local de repouso dos nossos antepassados – são os sítios patrimoniais mais antigos do nosso povo." Shama-Hacohen pede mesmo que "a resolução da ONU seja rejeitada". Já Netanyahu critica o facto de os peritos da ONU "estimarem que o Túmulo dos Patriarcas  em Hebron é um lugar palestiniano, o que quer dizer não judeu, e que é um sítio em perigo". 

 A classificação de Património Mundial é atribuída a locais considerados de importância única para o mundo e para a humanidade e determina regras para garantir a sua preservação, sendo revista anualmente. Na descrição dos dois novos sítios classificados esta sexta-feira (o outro foi a savana do complexo W-Arly-Pendjari, no Burkina Faso), a UNESCO refere o uso de pedra calcária local para a "construção da Cidade Velha/Al-Khalil durante o período mameluco [um sultanato cuja produção e influência arquitectónica e nas artes decorativas foi significativa na região] entre 1250 e 1517", focando que "o centro de interesse da cidade era a Mesquita de Ibrahim/Túmulo dos Patriarcas, cujos edifícios estão num complexo construído no século I para proteger os túmulos do patriarca Abraão/Ibrahim e sua família. Este local tornou-se um sítio de peregrinação para as três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e Islão". Além de contextualizar como Hebron era um entreposto de rotas comerciais e a sua evolução arquitectónica no período otomano (1517-1917), a UNESCO ressalta que "a morfologia geral mameluca da cidade persistiu visivelmente com a sua hierarquia de zonas, alojamentos baseados em agrupamentos étnicos, religiosos ou profissionais e casas com grupos de salas organizados de acordo com um sistema em forma de árvore". 

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