Rutte consegue coligação após 208 dias de negociações
Grupos parlamentares dos quatro partidos deverão aprovar plano na segunda-feira.
Passados 208 dias da data das eleições, quatro partidos holandeses deverão aprovar, esta segunda-feira, um acordo de coligação que deverá manter o primeiro-ministro, Mark Rutte, no cargo.
Se receber luz verde de todos, a nova coligação de Governo incluirá o partido da Liberdade e Democracia (VVD, conservador, 33 deputados), de Rutte, os democratas-cristãos (CDA, 19 deputados), o D66 (liberais, 19 deputados) e a União Cristã (CU, muito conservadora, cinco deputados), diz o jornal holandês De Telegraaf.
Rutte é primeiro-ministro desde Outubro de 2010, sendo assim um dos líderes da União Europeia há mais tempo no poder, atrás do húngaro Viktor Orbán e da alemã Angela Merkel.
Segundo o jornal, a coligação foi negociada esta semana e o primeiro-ministro disse que estava optimista por ter conseguido "um bom acordo". Tentativas anteriores falharam por desentendimentos profundos entre o D66 e a CU em questões sociais.
A eleições de 15 de Março resultaram numa paisagem política extremamente fragmentada, em que os partidos do executivo cessante, o centro-direita de Rutte e o centro-esquerda do PVdA de Jeroen Dijsselbloem, caíram bastante (sobretudo o PVdA, que teve uma derrota estrondosa, ficando com apenas nove deputados: os seus eleitores não perdoaram ter participado num executivo que levou a cabo medidas de austeridade).
No entanto, o grande perigo que se antecipava, um crescimento do partido de extrema-direita de Geert Wilders (20 deputados), não se concretizou – apesar de ter sido a segunda força, não aumentou a sua votação em relação às eleições de 2010, crescendo ligeiramente em relação a 2012. Apesar disso, as suas ideias contaminaram o discurso de outros partidos, especialmente do de Rutte.
Ao mesmo tempo, o partido que mais cresceu foi a Esquerda Verde de Jesse Klaver (14 deputados), que fez uma campanha pró-imigração, contra a política do medo, falando de liberdade e empatia. Klaver recusou-se a entrar numa coligação pela possibilidade de o Governo assinar, com países africanos, acordos que levassem à retorno de refugiados semelhantes ao que a União Europeia tem com a Turquia.
Mas a fragmentação levou a que a tarefa de formar Governo se tornasse numa espécie de cubo de Rubik, em que cada nova peça afasta a anterior, deixando sempre uma minoria, como comentava Rem Korteweg, do centro de estudos Clingendael, ao jornal Politico.
Estas negociações deverão bater o recorde de mais tempo em que a Holanda esteve sem Governo após eleições – o anterior maior número de dias sem Governo, 208 dias (que passarão na segunda-feira), foi registado em 1977.
Ainda assim, a demora não se compara à da Bélgica em 2010, quando foram precisos 541 dias para negociar um governo, um recorde mundial.