Mucho Flow, o festival que aposta as fichas todas em nomes por consagrar

Horse Lords, Sega Bodega, Nadia Tehran, Dedekind Cut e Scúru Fitchádu, entre outras bandas, tocam este sábado em Guimarães, na quinta edição do evento.

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Nadia Tehran: hip-hop enraivecido DR
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House Lords: noise-rock com nuances afro-beat DR

“O Mucho Flow é um festival de apostas. Não é feito de nomes consagrados, mas de nomes que mais tarde, nalguns casos, se tornam confirmações”. É assim que Bruno Abreu, um dos organizadores, descreve o festival que este sábado parte para a sua quinta edição, com a estreia nacional no palco do Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (CAAA), em Guimarães, dos internacionais Horse Lords, Nadia Tehran, Sega Bodega e Dedekind Cut.  

Aconteceu em 2014 com os Amen Dunescom os Bitchin Bajas, mas também com outras bandas de cartazes anteriores, e poderá acontecer com projectos que fazem parte do alinhamento deste ano. Aposta Bruno Abreu no hip-hop enraivecido da sueca com raízes iranianas Nadia Tehran, no noise-rock com nuances afro-beat dos norte-americanos Horse Lords e no funaná-punk dos Scúru Fitchádu, projecto do almadense com descendência cabo-verdiana Sette Sujidade, como acontecimentos que poderão despontar no cenário internacional.

É essa a linha que o festival quer continuar a seguir. E que segue desde 2013, quando, na sequência do ciclo dos concertos Indiesciplinas, organizado ainda no âmbito da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura, arrancou com a primeira edição. Surgia nessa altura a oportunidade de levar a Guimarães os chilenos Föllakzoid. Montava-se o Mucho Flow, marcado para o Verão do ano que corria. Os chilenos acabariam por desmarcar a tournée europeia, mas o festival fez-se na mesma, ao ar livre, nas ruas da cidade, e ainda sem bilheteira.

A partir daí, dar um passo atrás ficou fora de questão para a organização, que partiu para uma segunda edição já com entrada paga e no local onde ainda decorre, o CAAA.

Seria mais fácil seguir a lógica de escolher um cabeça-de-cartaz que garantisse logo à partida uma multidão. Não é essa a intenção de um festival que assenta as escolhas num espectro musical largo mas sempre de cariz vanguardista. Contudo, justificando-se a inclusão de um nome maior que não comprometa a identidade do festival, isso poderá acontecer. “Ainda no ano passado tivemos os Blanck Mass, porventura o maior nome que por cá passou”, recorda.

Nesta edição, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães, passarão ainda pelos dois palcos do CAAA (e por um terceiro de acesso gratuito montado no exterior, integrado no Guimarães noc noc, que também se realiza este fim-de-semana) God Colony + Flohio, Filipe Sambado, El Señor, Veer, Dada Garbeck e Mlynarczyk e DJ Lynce.

Do “grande contingente” de bandas nacionais, Bruno Abreu destaca os 800 Gondomar, que têm novo álbum a sair, e o concerto dos Chinaskee & Os Camponeses, que apresentam o disco editado pela Revolve.

Guimarães depois da Revolve

É precisamente a Revolve a responsável pela organização do Mucho Flow. A promotora vimaranense de Bruno Abreu e Miguel Oliveira nasce da vontade de criar na cidade um circuito de concertos orientados para géneros mais vanguardistas. Os dois com um passado ligado à música, enquanto executantes, foram assistindo ao desaparecimento de uma série de bandas locais que não encontravam em Guimarães um circuito montado que as suportasse. “Apesar de haver cá muita gente jovem, Guimarães não tinha uma promotora”, constata Bruno Abreu.

Sem qualquer tipo de experiência, com a ajuda de alguns amigos, em 2009 arrancam “em grande” com o concerto de White Hills num bar “muito pequeno e sem condições” do centro histórico. Foi o ponto de partida para os seguintes, ainda que numa fase inicial se realizassem de forma mais espaçada. Em 2010, numa parceria com a promotora portuense Lovers & Lollypops, organizam fora de Guimarães, na Casa da Música, o concerto de Ulver. Dois anos depois, com a mesma promotora, levam o festival 20x20x20 para a cidade-berço.

É em 2013, com a entrada de mais dois elementos para a promotora, que começam a programar com mais regularidade; um ano depois, passam também a editar, lançando os discos de Pontiak e dos Papaya.

Iniciam então uma agenda regular de concertos e de eventos na cidade, tendo como pano de fundo o CAAA , o café-concerto do Centro Cultural Vila Flor e o bar da Associação Convívio, com que trabalham frequentemente. Actualmente, diz Bruno Abreu, existe muito mais oferta na cidade: “Guimarães está agora na rota da agenda musical nacional." Há também mais bandas, anota, citando os exemplos de Captain Boy, Paraguaii, Gobi Bear e Toulouse.

O cenário musical vimaranense alterou-se e foram sendo criados novos hábitos. Quando a Revolve começou a programar, recorda Bruno Abreu, tinha de dar início aos concertos “já depois das duas da manhã”, por não existir o hábito de se cumprir a hora marcada. Foram apostando no rigor dos horários, arriscando mesmo a ter menos gente, até que as coisas foram mudando: “Quero acreditar que ao fim destes anos tivemos alguma influência no que hoje se passa na cidade." 

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