Muita introspecção, pouco ténis
Havia mais e melhor por onde filmar a rivalidade entre Bjorn Borg e John McEnroe do que a reduzi-la a um par de retratos psicológicos mais ou menos opostos (neurótico introvertido, o sueco, neurótico extrovertido, o americano).
Podia ser outro Rush (o filme de Ron Howard sobre uma das mais célebres rivalidades desportivas dos anos 70, entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt), com as pistas de fórmula 1 trocadas pelos courts de ténis e o fundo dos anos 70 deixado mais ou menos na mesma, e se calhar até foi essa a inspiração. Mas não é outro Rush, e é bastante desapontante: havia de certeza mais e melhor por onde filmar a rivalidade entre Bjorn Borg e John McEnroe do que a reduzi-la a um par de retratos psicológicos mais ou menos opostos (neurótico introvertido, o sueco, neurótico extrovertido, o americano), à espera da final de Wimbledon em 1980, quando Borg era o consagrado e McEnroe o “challenger”, para resolverem uma relação de mútuo amor/ódio e as suas angústias pessoais. A insistência do filme na “introspecção” (com flash-backs à juventude das personagens e tudo) é danificada pela sua incapacidade de atingir alguma verdadeira profundidade das personagens para além dos estereótipos, e porque os actores, se até passam razoavelmente por um “fac simile” dos originais, também não são os mais expressivos.
Mas sobretudo porque Janus Metz, quando chegam as cenas do ténis propriamente dito, é incapaz de restituir o jogo na sua plenitude dramática — bem “découpa” e inventa ângulos de câmara, assim como investe no realismo do ambiente, mas há ali qualquer coisa que não passa e, não passando, limita drasticamente o sucesso o sucesso do filme. A não ser que se seja um grande entusiasta do ténis, bastante dispensável.