Combate à MERS passa pelo controlo da doença nos camelos

A síndrome respiratória do Médio Oriente causou a morte a pelo menos 722 pessoas nos últimos cinco anos. Reunião na Organização Mundial da Saúde discutiu como combater o vírus responsável por esta doença.

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STRINGER/INDIA/REUTERS

Os especialistas apontam que o combate à síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS, na sigla em inglês), que já matou pelo menos 722 pessoas nos últimos cinco anos, tem de ter como principal alvo o controlo da doença nos camelos. Esta é a principal conclusão de uma reunião de peritos na Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, na Suíça.

A MERS é causada por um coronavírus, que infecta o tracto respiratório e é membro de uma família de vírus que abrange desde a constipação até à síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês). A doença foi registada pela primeira vez em humanos na Arábia Saudita em 2012, mas foi detectada em camelos pelo menos a partir de 1983.

Quase todos os surtos são originários do Golfo Arábico, mas a MERS-CoV é capaz de infectar seres humanos onde quer que existam dromedários (com uma bossa) – os camelos bactrianos (com duas bossas) não são afectados. Pessoas numa faixa que vai desde África e Oriente Médio até ao Paquistão e à Ásia do Sul estão potencialmente em risco. A solução está, por isso, na vacinação tanto de humanos como de camelos.

“O vírus está por todo o lado. O vírus está no Qatar, nos Emirados Árabes Unidos e para onde quer que olhemos”, declara Maria van Kerkhove, especialista em surtos de doença na OMS, onde 130 especialistas se juntaram na última semana para decidir pela primeira vez como atacar a MERS.

É provável que a MERS tenha surgido em África, devendo-se a ausência de surtos registados à má vigilância da doença, a um menor contacto com camelos ou a taxas mais baixas de problemas associados, como obesidade e doenças cardíacas que agravam a MERS.

A Arábia Saudita tem sido fortemente criticada por não ser transparente sobre a MERS, mas Van Kerkhove afirma que esse panorama mudou completamente e que agora estão a ser testadas 70 mil amostras humanas por ano e que se está a desenvolver uma grande quantidade de investigação científica.

A MERS é difícil de detectar e muito mais mortal do que outras infecções respiratórias agudas, causando a morte de um em cada três doentes. A doença costuma entrar nos hospitais sauditas através de doentes que fazem diálise regularmente ou frequentam consultas cardíacas, causando surtos que matam pacientes e profissionais de saúde.

Os hospitais começam a encontrar soluções. Van Kerkhove explica que até existe um hospital com um drive-thru no seu serviço de urgência, onde os pacientes são examinados antes de entrarem. “Conduz-se até à cabine onde lhe fazem três perguntas. Demora menos de 13 segundos.”

Neste momento, uma dúzia de vacinas para seres humanos está em desenvolvimento e a Aliança para Inovações de Prontidão para Epidemias (CEPI, na sigla em inglês) irá anunciar em breve quais é que vai financiar. Mas a principal solução para acabar com as mortes humanas é o controlo da doença nos camelos.

Já foram desenvolvidas duas vacinas para camelos, mas apenas uma, criada pelo Instituto Jenner, em Oxford (Inglaterra), se encontra nos ensaios clínicos finais no terreno. A outra, desenvolvida pelo Centro Médico Erasmus, um hospital universitário em Roterdão (Holanda), ainda está à procura de financiamento. Também o programa para a MERS da OMS está subfinanciado, alertou Van Kerkhove.

Levada a cabo pela OMS, pela Organização Mundial de Saúde Animal e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), na última reunião os especialistas sauditas e do Qatar disseram, segundo Van Kerkhove, que “estão contentes por falarem uns com os outros” apesar da fricção diplomática entre os seus governos. A colaboração é vital, uma vez que os camelos têm de ser diagnosticados, colocados em quarentena e vacinados assim que entram no Golfo a partir do Corno de África.

O vírus, sublinhou ainda Van Kerkhove, tem de ser monitorizado como o vírus da gripe das aves. Mas existe um longo caminho pela frente. “Não temos um bom mapa que mostre as movimentações dos camelos.”

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