Como saber quem perde e quem ganha na noite eleitoral
Afinal, quem vence as autárquicas? O partido que tem mais votos ou o que tem mais câmaras? Ou o que ganha as maiores autarquias? Cinco critérios para fazer a leitura da noite.
Assistir a uma noite de autárquicas não é o mesmo que ver um filme em casa. Em vez de pipocas, sugerimos-lhe uma cábula com os principais critérios para perceber quem é que, afinal, pode sair vencedor de umas eleições que, normalmente, todos acabam a dizer que ganharam.
Mais câmaras
Desde 1976, o critério de quem tem mais câmaras só pôde ser utilizado, em Portugal, pelos dois maiores partidos: PS e PSD. E se há 42 anos houve um empate a 115 câmaras, há quatro anos, o PS reforçou a sua posição face ao PSD, conquistando 149 presidências (mais a da Câmara do Funchal em coligação como Bloco de Esquerda, o PND, o MPT, o PTP e o PAN) contra 86 do PSD sozinho e mais 20 em coligações. É desta marca que partem hoje os dois maiores partidos. Mas os mais pequenos também terão de fazer as suas contas. A CDU elegeu 34 presidentes de câmara em 2013, os cidadãos independentes foram eleitos para 13 autarquias, o CDS conquistou cinco e o Bloco perdeu Salvaterra de Magos, a única a que alguma vez presidiu. Esta é a marca de água para os partidos. Daqui para cima, ganham. Daqui para baixo, perdem.
Mais votos
Dir-se-ia que mais câmaras é igual a mais votos, mas pode não ser assim. O partido que tem mais câmaras pode não ser necessariamente o que tem mais votos e vice-versa. Em 2009, por exemplo, quando o PS ainda era liderado por José Sócrates, a maior parte dos eleitores votou PS (o partido teve mais de dois milhões de votos), mas o PSD ganhou em número de câmaras (teve 139 contra 132). Neste caso, foram os sociais-democratas que ficaram com a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses, que também é um critério possível para cantar vitória. Esta discrepância acontece quando o partido que conquista mais câmaras tem maior implantação no país rural, onde há menos eleitores.
Evolução 2013/2017
É possível que alguma força partidária use o critério da comparação entre 2013 e 2017 para dizer que ganhou terreno face às últimas autárquicas. O PAN pode dizer que cresceu se eleger mais do que os cinco deputados municipais de há quatro anos. O Bloco de Esquerda também pode usar este argumento se conseguir, por exemplo, reconquistar a Câmara de Salvaterra de Magos, passando de zero presidências actualmente para uma depois de dia 1 de Outubro. O contrário também se aplica: se o CDS, que cresceu de uma para cinco entre 2009 e 2013, diminuir face às últimas eleições, é possível que alguém considere isso uma derrota. Contudo, se Cristas obtiver um resultado acima de dois dígitos em Lisboa, é pouco provável que não cante vitória.
Maiores concelhos
O caso do CDS-PP em Lisboa leva-nos a um terceiro critério. É importante um partido ter mais câmaras e mais votos, mas também é relevante perceber se perdeu nos grandes centros urbanos ou se reforçou a sua posição. Em 2001, contra todas as expectativas, o PSD ganhou em Sintra, Lisboa, Coimbra, Porto, Leiria, Viseu, Cascais, Funchal, Ponta Delgada... Venceu capitais de distritos e cidades com muitos eleitores e a vitória foi um estrondo tal que até o primeiro-ministro do PS, António Guterres, se demitiu. Pelo contrário, em 2013, o PSD foi quase completamente afastado das capitais dos distritos, à excepção de casos como Ponta Delgada ou Braga.
Comparação com as legislativas
Finalmente, se nada resultar antes e um partido quiser mesmo dizer que ganhou em algum dos itens que vale a pena avaliar, pode ir buscar os resultados das legislativas de 2015 e dizer que conseguiu melhorar o seu score eleitoral. Assim sendo, aqui ficam os valores a ter em conta: o PSD foi o partido mais votado, em coligação com o CDS (a famosa PàF), com 36,86% dos votos (qualquer coisa como quase dois milhões); o PS atingiu os 32,31%; o BE chegou aos 10,19%; a CDU 8,25%; e o PAN 1,39%. Na Madeira, sem coligação, o PSD ainda obteve mais 1,5%. Todos elegeram deputados. É verdade que as legislativas de 2015 foram umas eleições com um desenlace imprevisível: ganhou quem perdeu e formou governo quem conseguiu. Nas autárquicas não será bem assim.