A balança não é, à partida, equilibrada. Enquanto os homens têm apenas o preservativo como método de contracepção (ou a vasectomia, como opção definitiva), as mulheres têm um variado leque de escolhas: pílula, anel vaginal, dispositivo intra-uterino (DIU), adesivo, injecção contraceptiva. Este desequilíbrio não tem, no entanto, de significar um interesse maior de um dos lados — a contracepção também é um assunto de homens e agora há um "Guia Masculino da Contracepção" para os ajudar a perceber melhor o tema.
A ideia partiu de seis especialistas em saúde sexual de um grupo ibérico de trabalho da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC). Com a sua experiência profissional, uniram-se para diagnosticar aquilo que mais interesse, dúvidas e preocupações suscitava entre os homens. “[Eles] mostram interesse em saber mais”, garante a presidente da SPDC, Teresa Bombas.
O guia, publicado pela farmacêutica HRA Pharma, está disponível online e será distribuído em consultas por médicos de família e nos centros de planeamento familiar. Vem preencher uma “lacuna” de informação, congratula-se a também especialista em ginecologia e obstetrícia Teresa Bombas: “Só porque é a mulher quem mais usa a contracepção não significa que este seja um tema feminino”.
Este manual com 18 páginas está dividido em seis temas — cada um deles abordado por um dos especialistas através de uma entrevista. Como evitar uma gravidez não desejada e o que fazer, do ponto de vista emocional, jurídico e económico, quando acontece? Como agir quando houver comportamentos de risco? Quando usar a pílula do dia seguinte? Quem deve decidir sobre uma possível interrupção voluntária da gravidez? Que importância tem a confiança para o casal? Tem o homem a mesma legitimidade da mulher nestas matérias?
Comunicação entre o casal precisa-se
Teresa Bombas dá um exemplo prático: “Se o homem se apercebe que a companheira se esquece sistematicamente de tomar a pílula pode sugerir-lhe que mude para uma contracepção diferente, como o anel vaginal”. E isso não é interferir em algo íntimo, assegura: “Tem a ver com a comunicação entre o casal, é saudável e legítimo”. A mesma lógica se aplica à toma da pílula do dia seguinte e mesmo a uma potencial interrupção da gravidez, ainda que neste caso a decisão, discutida entre ambos, seja exclusivamente feminina.
Geralmente associadas a sentimentos positivos, as relações sexuais também arrastam medos, como uma “gravidez não planeada e infecções sexualmente transmissíveis (IST)”, escreve no guia o chefe de serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Complexo Hospitalar Universitário de Ourense, José Luis Doval Conde. Mas há mais: o tamanho do pénis, a ejaculação precoce ou a qualidade da erecção também causam receios. E isso deve ser discutido.
A melhor forma de atenuar os medos, explica, é “fomentar a educação afectivo-sexual”. Um pedido expresso: não procurem informação na internet sem a confirmar posteriormente com um especialista: “A vergonha e o desleixo não ajudam em nenhum caso, pelo que é necessário deixar de lado os preconceitos e procurar ajuda quando faz falta”.
“Participar e envolver-se na contracepção é fundamental para ter controlo sobre a sua vida sexual e o seu futuro”, pode ler-se entre os conselhos inscritos no manual.
E para quando uma contracepção pensada para homens? O tema não está esquecido, responde Teresa Bombas, mas ainda que a investigação esteja a avançar “será muito difícil conseguir um contraceptivo que não tenha efeitos secundários” — ou que os tenha na mesma dose que os contraceptivos femininos. Trocando por números: “Em menos de dez anos não é expectável que aconteça”.