A ciência vai dar uma festa e estão todos convidados
Degustações de insectos, uma moeda virtual, robots, "visitas" ao CERN a milhares de quilómetros de distância. Há de tudo um pouco e por todo o lado na Noite Europeia dos Investigadores, que acontece esta sexta-feira.
Esta sexta-feira, a ciência sai à rua de calças de ganga e t-shirt. Afinal, é dia de “festa”. É mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores. Por todo o país há ciência para ver e conhecer, num evento que quer pôr o público a interagir com a comunidade científica. “Já viu o privilégio de ter um cientista mesmo à mão e perguntar o que os motiva?”, pergunta Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva. “Vai ser uma festa”, acredita.
“Estamos entusiasmadíssimos. Trata-se de uma iniciativa da Comissão Europeia, com o intuito de celebrar a ciência e de quem a faz. E é uma oportunidade para eles [os investigadores] mostrarem o que os motiva, revelar pormenores e estar em contacto com as pessoas”, afirma Rosalia Vargas.
Degustações de insectos, uma moeda virtual, robots, visitas ao CERN a milhares de quilómetros de distância. São apenas alguns exemplos das actividades que vão passar por instituições científicas, museus e centros de ciência espalhados por 24 pontos do país. Os eventos são gratuitos e são dirigidos a todas as faixas etárias.
Tudo isto vai caber entre as 18H e 02H de sexta-feira. No mesmo dia e à mesma hora, em mais de 300 cidades europeias, centenas de investigadores e cidadãos vão poder trocar impressões e, assim, estreitar a ligação com a comunidade científica.
Com tanta coisa a acontecer, em tantas cidades, o PÚBLICO reuniu algumas propostas de diferentes áreas, entre as muitas que vão ocorrer em simultâneo por todo o país. Só no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, vão estar presentes 120 investigadores e 60 projectos. O consórcio SCILIFE (Science in Everyday Life) coordenado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência vai contar com 112 actividades.
Bolsa do Futuro em Lisboa
Quem decidir passar o serão no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, não estranhe que à entrada lhe seja facultado um link. A ligação dá acesso a um site e vai fazer do Pavilhão do Conhecimento uma espécie de Wall Street, onde os investimentos são feitos somente em ciência. “A ideia é funcionar como uma bolsa”, resume o estudante de doutoramento em Economia na Nova SBE, Miguel Ferreira.
“Durante a noite há várias áreas científicas expostas”, refere. Entre elas estão a saúde, espaço, ambiente e tecnologia, por exemplo. “A ideia é que as pessoas vão investindo em acções das áreas. Os preços vão subindo ou descendendo, consoante o investimento feito pelas pessoas”.
Charcos com Vida em Guimarães
O que escondem os charcos? Que importância têm para alguns seres vivos? São apenas exemplos de questões que o projecto Charcos com Vida vai dar resposta no Centro de Ciência Viva em Guimarães. O objectivo é “sensibilizar” as pessoas para a importância destes habitats para os seres vivos que lá habitam.
Trata-se de uma apresentação, mas os curiosos vão ter oportunidade de interagir com um charco e aprender acerca da sua biodiversidade.
Biklio
A Biklio, uma aplicação desenhada a pensar nas pessoas que escolhem a bicicleta como meio de transporte preferencial, lançada oficialmente na Semana da Mobilidade, vai marcar presença no Pavilhão do Conhecimento. A aplicação "detecta quando os utilizadores estão a andar de bicicleta”, tornando-os elegíveis para benefícios num estabelecimento comercial que tenha aderido ao projecto. Basta, ao chegar, mostrar o ecrã comprovando que a viagem foi feita de bicicleta e usufruir dos benefícios, como descontos.
Uma vila ecológica
O projecto que Rui Vinhas desenvolveu durante o mestrado tem sido bastante falado nos últimos tempos. Para quem não conhece a “Eco-Village”, esta sexta-feira é uma boa oportunidade para o fazer no Pavilhão de Conhecimento. Trata-se de “uma comunidade auto-suficiente, construída com técnicas ancestrais e matérias-primas locais”. A auto-suficiência e a cooperação são dois dos pilares do projecto, para mostrar que “o futuro pode inspirar-se no passado”.
Fazer pensos com plantas
Também disponível para conhecer no Pavilhão do Conhecimento está o projecto sumariamente apelidado “Fazer pensos com plantas”. É um processo iniciado através da recuperação de estruturas físicas das plantas, que desempenham um papel defensivo nas mesmas, e ao mesmo tempo preservar a sua estrutura nativa. Desta forma, funcionam como uma barreira que não deixa passar bactérias para uma ferida, por exemplo.
Robots no Porto
Se o que lhe aguça a curiosidade no mundo científico são os robots, então o Planetário do Porto tem o programa ideal. A partir das 21h há demonstrações e debates, assim como sessões imersivas na cúpula do planetário do Porto. António Paulo Moreira, investigador do INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência) vai participar na discussão sobre ética robótica. O INESC TEC vai também apresentar um robô omnidireccional (consegue mover-se em qualquer direcção).
Uma viagem a Genebra
Durante todas as outras noites, o CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear) está a muitos quilómetros de distância, mas a Noite Europeia dos Investigadores vai encarregar-se de o aproximar. Uma ligação em directo via Skype ao centro de investigação sediado em Genebra (Suiça) vai dar oportunidade a miúdos e graúdos de saber o que escondem as paredes do Centro de Controlo do CERN.
Numa sala do Pavilhão do Conhecimento, será possivel ver o que se passa a milhares de quilómetros e espreitar para a sala onde “especialistas monitorizam, ajustam e controlam os feixes de partículas que circulam por todo o complexo”, lê-se no programa do evento.
Degustar insectos em Coimbra
Sim, nesta noite dedicada à ciência também vai haver espaço para encher a barriga. E se em Lisboa (mais uma vez, no Pavilhão do Conhecimento) há investigadores a preparar refeições e a mostrar que a bata também pode servir de avental, em Coimbra a história vai ser diferente. Estão planeadas várias apresentações e palestras onde os insectos vão ser protagonistas.
Um dos principais eventos envolve a degustação de insectos. A Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra vai preparar a ementa e vários pratos, como espetadas de grilos ou gafanhotos. Comer insectos “é uma questão educacional”, refere Paulo Trincão do Centro de Ciência Viva de Coimbra, e por isso, incentiva todos a participarem no “desafio”.
Magia com números e ovos que não partem
O Museu Nacional de História Natural e Ciência está também envolvido na coordenação das actividades subordinadas ao tema “Ciência no dia-a-dia” e promove centenas de actividades. Em Lisboa, entre o Museu e o Jardim do Príncipe Real vai-se falar de vinho, dinossauros, sismos, geomagnetismos, sem descurar as Ciências Sociais, que vão ser representadas por várias áreas como a psicologia e arqueologia.
No Porto, na Praça Gomes Teixeira, o mseu Natural também oferece um programa diversificado. "Os mais curiosos vão poder construir um ovo que não parte, aprender sobre as diferentes orientações alimentares espalhadas pelo mundo e perceber como o uso da tecnologia na medicina pode ajudar a salvar vidas. A matemática não vai ser, de todo, carta fora do baralho. Muito antes pelo contrário: vai haver magia com números", referem num comunicado que é um convite para "desmistificar a investigação científica e quebrar as barreiras que, por vezes, separam a ciência a separam do cidadão comum".
Em Braga, a organização fica a cargo da Escola de Ciências da Universidade do Minho e há vários workshops na Avenida Central para pôr mãos-a-obra. Um deles vai pedir aos participantes que construam uma célula fotovoltaica usando apenas materiais do dia-a-dia e corantes extraídos de framboesas, mirtilos ou amoras.
"Vou com os meus pais. Há algum evento para mim?"
O programa da Noite Europeia dos Investigadores está aberto a toda a gente. Por isso, o mais natural é aparecerem famílias com crianças nos vários centros que acolhem o evento. A verdade é que todas as actividades estão abertas aos curiosos mais pequenos, mas há algumas que apontam baterias especificamente para os mais novos.
Em Sintra, “o grave problema da poluição por plásticos” vai servir de mote para a iniciativa que decorre no Centro de Ciência Viva. As portas abrem às 18H e 15 minutos depois começa a iniciativa “Conta-me uma Estória”. O livro Graciosa, a baleia vaidosa, “vai alertar os mais novos para a problemática ” e convidá-los “a apresentarem uma opinião” sobre o assunto.
A meia hora de distância, o Pavilhão do Conhecimento vai transformar-se numa casa de espectáculos. São vários espectáculos, que tal como o evento, arrancam às 18H00 e terminam às 02H00. Entre eles estão os Tricycles, uma banda composta por quatro investigadores de biomedicina. O concerto vai ser na Casa Inacabada, o sítio ideal para as crianças que “de capacete na cabeça” se transformam em autênticos mestres-de-obras. Para Rosalia Vargas, é um dos melhores exemplos de como os cientistas se podem mostrar de forma diferente ao público. A hora também ajuda. “Costuma-se dizer que a noite revela o melhor das pessoas”, sintetiza.
No Porto, no Museu de História Natural, há, por exemplo, "um convite para descobrir à lupa os animais que vivem nos nossos rios". Para os mais destemidos, no museu vão também poder ver escorpiões ao vivo e a cores e saber mais sobre a importância de os preservar.