A ciência vai dar uma festa e estão todos convidados

Degustações de insectos, uma moeda virtual, robots, "visitas" ao CERN a milhares de quilómetros de distância. Há de tudo um pouco e por todo o lado na Noite Europeia dos Investigadores, que acontece esta sexta-feira.

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Pedro Cunha/Arquivo

Esta sexta-feira, a ciência sai à rua de calças de ganga e t-shirt. Afinal, é dia de “festa”. É mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores. Por todo o país há ciência para ver e conhecer, num evento que quer pôr o público a interagir com a comunidade científica. “Já viu o privilégio de ter um cientista mesmo à mão e perguntar o que os motiva?”, pergunta Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva. “Vai ser uma festa”, acredita.

“Estamos entusiasmadíssimos. Trata-se de uma iniciativa da Comissão Europeia, com o intuito de celebrar a ciência e de quem a faz. E é uma oportunidade para eles [os investigadores] mostrarem o que os motiva, revelar pormenores e estar em contacto com as pessoas”, afirma Rosalia Vargas.

Degustações de insectos, uma moeda virtual, robots, visitas ao CERN a milhares de quilómetros de distância. São apenas alguns exemplos das actividades que vão passar por instituições científicas, museus e centros de ciência espalhados por 24 pontos do país. Os eventos são gratuitos e são dirigidos a todas as faixas etárias.

Tudo isto vai caber entre as 18H e 02H de sexta-feira. No mesmo dia e à mesma hora, em mais de 300 cidades europeias, centenas de investigadores e cidadãos vão poder trocar impressões e, assim, estreitar a ligação com a comunidade científica.

Com tanta coisa a acontecer, em tantas cidades, o PÚBLICO reuniu algumas propostas de diferentes áreas, entre as muitas que vão ocorrer em simultâneo por todo o país. Só no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, vão estar presentes 120 investigadores e 60 projectos.  O consórcio SCILIFE (Science in Everyday Life) coordenado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência vai contar com 112 actividades. 

Bolsa do Futuro em Lisboa

Quem decidir passar o serão no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, não estranhe que à entrada lhe seja facultado um link. A ligação dá acesso a um site e vai fazer do Pavilhão do Conhecimento uma espécie de Wall Street, onde os investimentos são feitos somente em ciência. “A ideia é funcionar como uma bolsa”, resume o estudante de doutoramento em Economia na Nova SBE, Miguel Ferreira.

“Durante a noite há várias áreas científicas expostas”, refere. Entre elas estão a saúde, espaço, ambiente e tecnologia, por exemplo. “A ideia é que as pessoas vão investindo em acções das áreas. Os preços vão subindo ou descendendo, consoante o investimento feito pelas pessoas”.

Charcos com Vida em Guimarães

O que escondem os charcos? Que importância têm para alguns seres vivos? São apenas exemplos de questões que o projecto Charcos com Vida vai dar resposta no Centro de Ciência Viva em Guimarães. O objectivo é “sensibilizar” as pessoas para a importância destes habitats para os seres vivos que lá habitam.

Trata-se de uma apresentação, mas os curiosos vão ter oportunidade de interagir com um charco e aprender acerca da sua biodiversidade.

Biklio 

A Biklio, uma aplicação desenhada a pensar nas pessoas que escolhem a bicicleta como meio de transporte preferencial, lançada oficialmente na Semana da Mobilidade, vai marcar presença no Pavilhão do Conhecimento. A aplicação "detecta quando os utilizadores estão a andar de bicicleta”, tornando-os elegíveis para benefícios num estabelecimento comercial que tenha aderido ao projecto. Basta, ao chegar, mostrar o ecrã comprovando que a viagem foi feita de bicicleta e usufruir dos benefícios, como descontos.

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Joana Bourgard

Uma vila ecológica

O projecto que Rui Vinhas desenvolveu durante o mestrado tem sido bastante falado nos últimos tempos. Para quem não conhece a “Eco-Village”, esta sexta-feira é uma boa oportunidade para o fazer no Pavilhão de Conhecimento. Trata-se de “uma comunidade auto-suficiente, construída com técnicas ancestrais e matérias-primas locais”. A auto-suficiência e a cooperação são dois dos pilares do projecto, para mostrar que “o futuro pode inspirar-se no passado”.

Fazer pensos com plantas

Também disponível para conhecer no Pavilhão do Conhecimento está o projecto sumariamente apelidado “Fazer pensos com plantas”. É um processo iniciado através da recuperação de estruturas físicas das plantas, que desempenham um papel defensivo nas mesmas, e ao mesmo tempo preservar a sua estrutura nativa. Desta forma, funcionam como uma barreira que não deixa passar bactérias para uma ferida, por exemplo.  

Robots no Porto

Se o que lhe aguça a curiosidade no mundo científico são os robots, então o Planetário do Porto tem o programa ideal. A partir das 21h há demonstrações e debates, assim como sessões imersivas na cúpula do planetário do Porto. António Paulo Moreira, investigador do INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência)  vai participar na discussão sobre ética robótica. O INESC TEC vai também apresentar um robô omnidireccional (consegue mover-se em qualquer direcção).

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Margarida Basto

Uma viagem a Genebra

Durante todas as outras noites, o CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear) está a muitos quilómetros de distância, mas a Noite Europeia dos Investigadores vai encarregar-se de o aproximar. Uma ligação em directo via Skype ao centro de investigação sediado em Genebra (Suiça) vai dar oportunidade a miúdos e graúdos de saber o que escondem as paredes do Centro de Controlo do CERN.

Numa sala do Pavilhão do Conhecimento, será possivel ver o que se passa a milhares de quilómetros e espreitar para a sala onde “especialistas monitorizam, ajustam e controlam os feixes de partículas que circulam por todo o complexo”, lê-se no programa do evento.

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Um protótipo do projecto idealizado por Rui Vasques LIVE WITH EARTH/DR

Degustar insectos em Coimbra

Sim, nesta noite dedicada à ciência também vai haver espaço para encher a barriga. E se em Lisboa (mais uma vez, no Pavilhão do Conhecimento) há investigadores a preparar refeições e a mostrar que a bata também pode servir de avental, em Coimbra a história vai ser diferente. Estão planeadas várias apresentações e palestras onde os insectos vão ser protagonistas.

Um dos principais eventos envolve a degustação de insectos. A Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra vai preparar a ementa e vários pratos, como espetadas de grilos ou gafanhotos. Comer insectos “é uma questão educacional”, refere Paulo Trincão do Centro de Ciência Viva de Coimbra, e por isso, incentiva todos a participarem no “desafio”.

Magia com números e ovos que não partem 

O Museu Nacional de História Natural e Ciência está também envolvido na coordenação das actividades subordinadas ao tema “Ciência no dia-a-dia” e promove centenas de actividades. Em Lisboa, entre o Museu e o Jardim do Príncipe Real vai-se falar de vinho, dinossauros, sismos, geomagnetismos, sem descurar as Ciências Sociais, que vão ser representadas por várias áreas como a psicologia e arqueologia.

No Porto, na Praça Gomes Teixeira, o mseu Natural também oferece um programa diversificado. "Os mais curiosos vão poder construir um ovo que não parte, aprender sobre as diferentes orientações alimentares espalhadas pelo mundo e perceber como o uso da tecnologia na medicina pode ajudar a salvar vidas. A matemática não vai ser, de todo, carta fora do baralho.  Muito antes pelo contrário: vai haver magia com números", referem num comunicado que é um convite para "desmistificar a investigação científica e quebrar as barreiras que, por vezes, separam a ciência a separam do cidadão comum". 

Em Braga, a organização fica a cargo da Escola de Ciências da Universidade do Minho e há vários workshops na Avenida Central para pôr mãos-a-obra. Um deles vai pedir aos participantes que construam uma célula fotovoltaica usando apenas materiais do dia-a-dia e corantes extraídos de framboesas, mirtilos ou amoras.

"Vou com os meus pais. Há algum evento para mim?"

O programa da Noite Europeia dos Investigadores está aberto a toda a gente. Por isso, o mais natural é aparecerem famílias com crianças nos vários centros que acolhem o evento. A verdade é que todas as actividades estão abertas aos curiosos mais pequenos, mas há algumas que apontam baterias especificamente para os mais novos.

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Sala de Controlo do CERN REUTERS/Fabrice Coffrini/Pool

Em Sintra, “o grave problema da poluição por plásticos” vai servir de mote para a iniciativa que decorre no Centro de Ciência Viva. As portas abrem às 18H e 15 minutos depois começa a iniciativa “Conta-me uma Estória”. O livro Graciosa, a baleia vaidosa, “vai alertar os mais novos para a problemática ” e convidá-los “a apresentarem uma opinião” sobre o assunto.

A meia hora de distância, o Pavilhão do Conhecimento  vai transformar-se numa casa de espectáculos. São vários espectáculos, que tal como o evento, arrancam às 18H00 e terminam às 02H00. Entre eles estão os Tricycles, uma banda composta por quatro investigadores de biomedicina. O concerto vai ser na Casa Inacabada, o sítio ideal para as crianças que “de capacete na cabeça” se transformam em autênticos mestres-de-obras. Para Rosalia Vargas, é um dos melhores exemplos de como os cientistas se podem mostrar de forma diferente ao público. A hora também ajuda. “Costuma-se dizer que a noite revela o melhor das pessoas”, sintetiza.

No Porto, no Museu de História Natural, há, por exemplo, "um convite para descobrir à lupa os animais que vivem nos nossos rios". Para os mais destemidos, no museu vão também poder ver escorpiões ao vivo e a cores e saber mais sobre a importância de os preservar. 

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Daniel Rocha
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